O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero também foi secretário-geral da Unctad, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento entre 1995 e 2004, e foi nessa atuação que, há 20 anos, que ajudou a criar e a promover o conceito de economia criativa. Ele conta que, naquele tempo, o padrão era tratar a cultura e a criatividade separada da economia, o que, para ele, seria como um desperdício de potencial tanto econômico quanto de ampliação cultural.

“Muitos países, como o Brasil, não veem a criatividade por essa ótica econômica”, disse o ex-ministro em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro. “Criatividade, cultura e arte são uma maneira de criar emprego, gerar renda e desenvolver o país. É preciso o país despertar para a economia da criatividade”.

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Na sexta-feira, 13, o ex-ministro foi homenageado no Festival Mundial da Criatividade, em São Paulo, pelos 20 anos do Consenso de São Paulo, acordo internacional considerado marco zero da Economia Criativa no sistema ONU, e que previa iniciativas para o impulso da economia criativa e seu impacto na criação de capital tanto monetário para o país como um referencial cultural do Brasil no mundo.

Pela Unctad, Ricupero trabalhou em um projeto para apoiar a Jamaica a explorar sua dança e sua música como uma economia, pois muitos compositores jamaicanos acabavam emigrando, conta ele, principalmente para Estados Unidos e Inglaterra, e suas músicas acabam virando direito autoral de grandes grupos internacionais, com pouco ou nenhum benefício para o país.

“A maioria das pessoas não se dá conta de que a segunda indústria de maior exportação dos EUA é a indústria cultural. Isso gera muito recurso. Tem todo um arcabouço muito desenvolvido, a exemplo de toda a cadeia do Oscar, com Academia, roteiristas, etc”, destacou.

Ele lembrou que o cinema, a televisão, a música, os quadrinhos e toda a criatividade americana exportada há 100 anos não só tem impacto econômico, como levou a um “grande capital de soft power”, ou seja, de influência cultural pelo mundo. 

Outro exemplo seria a Inglaterra, lançou para o mundo um novo rock ´n roll e a minissaia – entre outros feitos – e fez de sua indústria cultural e criativa uma grande empregadora. E assim, ele aponta como a produção criativa é, além de um segmento da economia, uma forma de projeção cultural para o país, até mesmo um apoiador de outros segmentos, como o turismo e os serviços.

Nesse sentido, acredita ele, a criatividade também é uma alavanca do desenvolvimento. Mas que, para se chegar a isso, precisa de instituições de apoio e políticas públicas.

“Infelizmente não há uma política deliberada. Tem uns instrumentos, como a Lei Rouanet, mas não uma política deliberada, uma instituição que procure encaminhar nesse sentido, ver as áreas que precisam de maior apoio. O que acontece no Brasil é quase por milagre”, diz. Para o ex-ministro, existe até mesmo um preconceito contra políticas públicas para esse fim.

“Tem gente que acha que o lado econômico da cultura, é como se fosse uma deturpação, que a cultura deveria ser puramente desinteressada. Existe um espaço para isso, da cultura desinteressada. Mas há outro lado de aplicação da cultura e da arte à economia. Essa é nossa luta, fazer que as pessoas encarem a cultura não apenas como diversão e algo artístico”.

Encarar cultura e a criatividade não apenas como diversão, artístico, de cultivo do espírito, mas uma forma de gerar emprego e renda tem sido a campanha de Ricupero. “Esse elo que queremos fazer, entre cultura, economia e criatividade.”

Show histórico de ícones da bossa nova em NY

Ele recordou que, quando era diplomata no Itamaraty, chefiava a área cultural, e foi ele quem organizou o histórico show com ícones da bossa nova, em 1962, no Carnegie Hall, famosa casa de espetáculos em Nova York.

A apresentação alçou a música brasileira no cenário internacional, com apresentação de Tom Jobim, João Gilberto, Sérgio Mendes e Carlos Lyra. “Naquele tempo eles não eram conhecidos. Então, tem que ter uma política do governo para promover [a cultura].”