Nem sempre a profissionalização da gestão de uma empresa familiar representa um passaporte para o sucesso ou mesmo garante a continuidade do negócio. Os ex-controladores da Companhia Americana Industrial de Ônibus (Caio), a família Massa, sabem muito bem disso. A derrocada da Caio, cuja situação financeira já era delicada, foi precipitada quando gestores privados (o banco Bozzano, Simonsen e a Applied) assumiram o volante da fabricante de carrocerias, em 1998. Descontente com os rumos da administração, a família retomou o negócio menos de um ano depois, mas, sem fôlego para lutar contra um passivo de R$ 170 milhões, acabou optando pela autofalência no final de 2000. A história poderia ter tido um ponto final aí, não fosse pela entrada em cena do Grupo Ruas, conglomerado que reúne 18 empresas do segmento de transporte na Grande São Paulo e fatura cerca de R$ 700 milhões. Em meados de janeiro eles arrendaram a marca e o parque industrial situado em Botucatu (cidade do interior de São Paulo). A decisão foi motivada pelo temor de ver grande parte de seus ativos deteriorar-se rapidamente. É que 95% dos 4,2 mil ônibus da frota do grupo Ruas ostentam o logotipo da fabricante. ?Ficamos preocupados com os possíveis reflexos no mercado com a existência de apenas duas indústrias, a Busscar e a Marcopolo?, conta Paulo Ruas, diretor do grupo.

O executivo ressalta, contudo, que tem pretensões ambiciosas para a nova integrante do grupo. De imediato foram investidos R$ 10 milhões para reativar a empresa e recompor o capital de giro. Parte desse montante ? R$ 3 milhões ? foi usado para bancar a entrega de 70 carrocerias, cujos pedidos foram pagos mas não honrados pelos antigos donos da marca. Para poder assumir o negócio foi preciso ainda rebatizar a companhia de Induscar ? Indústria e Comércio de Carrocerias. A manobra, negociada com o síndico da massa falida e o juiz que cuidou do caso, evitou que a família Ruas fosse considerada sucessora dos débitos da Caio. Paulo ? que aos 31 anos pode ser considerado um veterano no setor de transporte, onde ingressou aos 13 anos ? vai cuidar pessoalmente do negócio. Sua meta é resgatar os tempos áureos da empresa, que chegou a liderar o segmento de veículos urbanos e amealhar mais de R$ 100 milhões com vendas. ?Vamos recuperar a credibilidade da marca, inclusive no exterior?, diz ele, que garante ter recursos suficientes para levar à frente o projeto.

A história empresarial da família Ruas começou de forma tímida, em 1960, quando o patriarca Jose comprou 18 ônibus e fundou a Viação Campo Belo, na capital paulista. Hoje ele comanda 19 empresas ? entre elas uma concessionária Mercedes-Benz. Também por influência do filho Paulo a família montou a RWB Marketing, de painéis publicitários para ônibus. A Caio, agora, é a nova aposta do grupo.