Após certa instabilidade pela manhã, o dólar se firmou em leve queda ao longo da tarde e encerrou a sessão desta sexta-feira, 27, em baixa de 0,16%, cotado a R$ 5,4361. As oscilações foram modestas, de pouco mais de três centavos de real entre a mínima (R$ 5,4272) e a máxima (R$ 5,4581), o que sugere uma postura mais defensiva dos agentes.

O real apresentou fôlego curto apesar da combinação de indicadores aqui e lá fora apontar para uma ampliação do diferencial entre juros interno e externo – o que, em tese, aumenta a atratividade para operações de carry trade, estimulando o apetite por posições na moeda brasileira.

Nos EUA, o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) veio em linha com o esperado, sugerindo espaço para novo corte de juros em 50 pontos-base pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). Por aqui, queda da taxa de desemprego revelada pela Pnad, em um ambiente de desancoragem de expectativas de inflação, embasam apostas de que o Banco Central pode acelerar o ritmo de alta da taxa Selic.

Ao longo da semana, jogou a favor do real a valorização dos preços das commodities, em especial do minério de ferro, sob o impacto do anúncio de estímulos econômicos na China e do compromisso firme do governo chinês de amparar o crescimento econômico.

O dólar terminou a semana em baixa de 1,54% em relação ao real, que apresentou o terceiro melhor desempenho entre seus pares, atrás do peso chileno e do rand sul-africano. No mês, o dólar acumula desvalorização de 3,53%. Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a seis divisas fortes, o índice DXY teve ligeira baixa nesta sexta e recuou cerca de 0,30% na semana, perto da linha dos 100,400 pontos.

Apesar de o real ter se apreciado no acumulado dos últimos cinco pregões, o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, considera o desempenho da moeda brasileira “decepcionante”, dado que a taxa de câmbio encontra forte resistência para romper o piso de R$ 5,40.

Ele avalia que o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do Banco Central, divulgado na quinta-feira, sugere que a taxa Selic possa terminar o atual ciclo de alta em 12,50% ou até em 13%. Nos EUA, a última safra de indicadores reforça o quadro de pouso suave da economia sem fechar as portas para novo corte de 50 pontos-base nos juros pelo Fed. E a alta das commodities, além de favorecer os termos de troca, tende a ajudar na arrecadação do governo, o que mitiga o risco fiscal.

“O conjunto de fatores nesta semana sugere um dólar bem mais fraco. Mas as pessoas não parecem dispostas a fazer grandes apostas no Brasil, porque a nossa condução de política econômica é muito geradora de ruídos”, afirma Borsoi, acrescentando que o relatório bimestral de receitas e despesas aumentou a desconfiança em torno do comprometimento do governo com ajuste das contas públicas.

Na agenda da semana que vem, destaque para uma série de dados do mercado de trabalho norte-americano, em especial o relatório de emprego (payroll) de setembro, na sexta-feira, 4. O Fed já avisou que, fiel ao seu duplo mandato, quer evitar uma deterioração aguda do mercado de trabalho. Com a inflação caminhando para a meta, indicadores fracos de emprego podem reforçar as expectativas de que o BC norte-americano repita a dose e reduza os juros em 50 pontos-base em novembro.

Para o economista Rafael Perez, da Suno Research, os dados mais recentes nos EUA mostram uma “economista mais equilibrada”, com inflação rumo à meta e “atividade econômica que ainda mostra resiliência em alguns segmentos”, o que aumenta as chances de um pouso suave.

“Acreditamos numa postura mais cautelosa do Fed, com mais dois cortes de 0,25 ponto porcentual. No curto prazo o ritmo de queda dos juros dependerá, principalmente, dos dados de mercado de trabalho”, afirma Perez, em nota. “Caso haja uma deterioração maior do que o esperado, o Comitê poderá realizar um ajuste maior, de 0,50 ponto.”