Descoberta de grandes jazidas do combustível fóssil em 2015 aquece a economia local, mas faltam mão de obra e trabalhadores qualificados. Governo quer atrair de volta os guianenses na diáspora.A Guiana é atualmente, é o país sul-americano com as maiores taxas de crescimento. Desde que enormes reservas de petróleo foram descobertas, em 2015, ela vem experimentando um crescimento econômico de proporções inimagináveis. De acordo com a empresa americana Exxon, os recursos petrolíferos que podem ser extraídos nas áreas de produção conhecidas chegam a cerca de 11 bilhões de barris. Tudo isso tem um impacto sobre a economia local.

De acordo com o portal de estatísticas Statista, com base em números do FMI e do Banco Mundial, a renda nacional bruta se multiplicará de 4,62 bilhões de euros (R$ 28 bilhões) em 2019 para 29,3 bilhões de euros (R$ 177 bilhões) em 2029. Assim, a nação que faz fronteira com Venezuela, Brasil e Suriname, tornou-se uma das economias mais dinâmicas do mundo. “É como se o país tivesse ganhado na loteria”, compara Diletta Doretti, representante do Banco Mundial para a Guiana e o Suriname, em entrevista à emissora BBC.

Busca por mão de obra qualificada

Os efeitos desse boom são visíveis por toda parte, como nos inúmeros canteiros de obras e projetos de infraestrutura na capital Georgetown. No entanto falta a agora necessária mão de obra qualificada. Por isso a Guiana quer trazer de volta quem foi embora. Até as descobertas de petróleo, nove anos atrás, havia uma onda constante de emigração do país, pois muitos, especialmente os jovens, não viam perspectivas na Guiana, indo buscar a sorte no exterior.

Apenas quatro anos após as primeiras grandes descobertas de petróleo, cerca de 50 mil migrantes retornaram à Guiana, informa o portal local Newsroom, citando o Ministério das Finanças nacional.

O petróleo marcou a virada: em 2016, pela primeira vez na história recente da Guiana, mais cidadãos entraram no país do que saíram (1.510), de acordo com um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM). Em 2018, a migração líquida já estava em 18.150 habitantes.

Durante uma visita ao Canadá naquele ano, o ministro das Relações Exteriores da Guiana já havia feito uma campanha agressiva pelo retorno de seus compatriotas: “Não só envie dinheiro para casa, volte e invista”, apelava. Nos últimos dois anos, outros 32 mil retornaram. Para uma população de pouco mais de 800 mil, trata-se de um grande aumento.

Gerenciamento da remigração

Atendendo a uma consulta pela DW, o Ministério guianense das Relações Exteriores mencionou o programa de remigração que oferece assistência e apoio a quem decide voltar para casa.

“O governo da Guiana está comprometido com o desenvolvimento econômico sustentável e ciente do potencial da diáspora para apoiar esse processo. O Programa de Retorno é uma das muitas iniciativas com o objetivo de incentivar os guianenses que vivem fora a retornarem e contribuir para o desenvolvimento de seu país de origem.”

Os instrumentos criados para facilitar o retorno incluem isenções de impostos para profissionais qualificados. O Centro de Migração de Retorno define claramente seus objetivos, que vão desde “apoiar os cidadãos interessados em retornar à Guiana” até “reintegrar os guianenses que retornam e utilizar suas habilidades e recursos”.

Isso deve se tornar possível através de diretrizes estratégicas para o gerenciamento eficiente da repatriação, oferecendo assistência desburocratizada. No exterior, as embaixadas e consulados informam e aconselham os cidadãos dispostos a retornar.

Reivindicações venezuelanas por terras e petróleo

“Estou morando aqui há quase dois anos. Toda vez que saio do país, noto a diferença quando volto”, diz a gerente do Banco Mundial, Diletta Doretti. Os números confirmam essa impressão: enquanto em 2019 os investimentos em projetos de infraestrutura, como estradas e portos, ainda eram de 187 milhões de dólares, eles dispararam para 650 milhões de dólares em 2023.

Mas há também uma sombra sobre essa história de sucesso. O país vizinho, Venezuela, sob o regime ditatorial socialista de Nicolás Maduro, mais uma vez reivindicou grandes regiões do país desde as descobertas de petróleo. Num referendo altamente controverso e pouco transparente, Maduro teve sua reivindicação territorial aprovada pela população, com base numa disputa histórica com a antiga potência colonial britânica sobre a demarcação de fronteiras.

Desde então, paira no ar a ameaça de uma imposição militar das reivindicações territoriais sobre a Guiana. Maduro já mandou imprimir mapas em que são atribuídas à Venezuela grandes partes da Guiana com acesso direto às reservas de petróleo. E de fato, muitos venezuelanos já foram para a Guiana, a fim de escapar da repressão e da crise de abastecimento em seu país de origem.