Quem assiste às propagandas da Nomad com o astro americano Will Smith pode pensar que a fintech brasileira, fundada por Patrick Sigrist, um dos criadores do iFood, teve uma jornada tranquila. Não foi bem assim. Criada em 2019, a empresa teve as operações iniciadas em 2020, em plena pandemia, com o nome de OutInvest. Pretendia ser uma conta internacional integrada a uma plataforma de investimentos no exterior. 

“Precisamos ter cuidado ao contar a história para não floreá-la”, alertou o CEO Lucas Vargas. Segundo ele, a ideia inicial era oferecer uma gama de produtos e serviços que não fossem em reais. No entanto, com o andamento dos processos, os obstáculos foram aparecendo, especialmente questões regulatórias e autorizações de licenças no exterior. “Foi nesse momento que me juntei à empresa e, diante das limitações, entendemos que, inicialmente, iríamos focar em oferecer produtos de banco, como conta, produtos e cartão. Como já tínhamos a licença de investimento nos Estados Unidos, priorizamos o uso do cartão para viajantes. Foi assim que mudamos nosso nome para Nomad”, discorreu o executivo.

Assim como o cofundador Sigrist, do iFood, Vargas, de 40 anos, também tem uma trajetória de sucesso em startups. Com MBA em Harvard, começou na Viva Real em 2012, plataforma on-line para aluguel de casas, completou várias etapas da jornada de uma startup, participou da fusão com a rival ZAP, que criou a ZAP Imóveis, onde ficou até a venda para a OLX, em 2020.

“Desde o início seguimos a rota de construção e crescimento. Nos últimos quatro anos fizemos rodadas de captação que já somam mais de US$ 120 milhões [R$ 660 milhões]”, explicou, contando que a fintech planeja os investimentos em crescimento de acordo com as rodadas de aportes que recebe. “Normalmente a gente constrói uma estratégia, testamos, lançamos e esperamos até chegar a um nível saudável, bem próximo ao breakeven. E aí fazemos uma nova captação”, explicou.

Na última rodada, em 2023, a empresa captou US$ 61 milhões, que permitiu um investimento maior, postergando o ponto de equilíbrio para 2025.

“Queremos fazer como a XP fez anos atrás, unir boa comunicação com educação financeira. Queremos ser formadores de opinião nesse mundo da construção de patrimônio em moeda forte”, diz Lucas Vargas, CEO Da Nomad

Atualmente, a Nomad conta com mais de 3 milhões de usuários cadastrados e mais de 2 milhões de usuários ativos em sua plataforma.

Em 18 meses, viu os ativos sob sua custódia aumentar em mais de 40 vezes, projetando crescer mais 30% até o final deste ano.
 O faturamento de 2023 chegou a aproximadamente R$ 250 milhões.
 A projeção é dobrá-lo em 2024.

A fintech tem cinco grandes fontes de receita:
• a primeira é o spread na hora da conversão do real para o dólar na conta internacional;
 depois, a receita pelo uso do cartão, pago pela administradora;
 a receita financeira de float que fica parado nas contas dos usuários;
 os ganhos associados aos produtos de investimentos;
e, por fim, o que recebem nas transações chamadas Global Worker, de brasileiros que prestam serviços para empresas de fora, recebem em moeda estrangeira e levam o salário para o Brasil.

2 milhões de clientes ativos no aplicativo. No final de 2023 eram 1,3 milhão, e a expectativa é de 2,5 mi até dezembro

US$ 120 milhões foram captados em suas rodadas com investidores desde 2020. a última, em 2023, levantou US$ 61 milhões

Nova fase

Vargas afirmou que até a virada de 2024 para 2025 a plataforma 2.0 de investimentos será lançada para o grande público — por enquanto está em fase de testes com alguns poucos milhares de usuários —, nesta que é a grande aposta da fintech. “Desde 2021 nós já tínhamos licença para atuar como corretora nos EUA, já tendo acesso a ações e outros produtos. Mas ainda faltam algumas licenças naquele país, que é só o que falta para lançarmos nossa plataforma 2.0”, disse. “São investimentos altos e perenes, por isso estamos segurando para termos tudo em mãos”, completou.

A ideia é lançar a plataforma com uma cesta relevante de produtos, como treasuries, bonds, títulos de dívidas e outras categorias de renda fixa, que fazem sentido para brasileiros que queiram proteger seu patrimônio com segurança fora do País.

Turismo

Apesar de já estar estruturada para investimentos, a Nomad ainda é muito relacionada ao turismo com sua conta internacional. Vargas afirmou que vai manter o segmento como uma das prioridades do grupo, incluindo o lançamento de novos produtos, como a plataforma Nomad Trips, que oferecerá passagens, hospedagens e ajuda em roteiros, o Nomad Explores, cartão de crédito para uso em território brasileiro, em reais, que não terá cobrança de taxas e pagamento de cashback, assim como o Shop and Travel, área de venda de produtos voltados para viagens.

“Os pontos físicos são grandes diferenciais dos concorrentes”, apontou Vargas, citando o lounge Vip da empresa no aeroporto de Guarulhos, no Terminal Internacional, e o recém-inaugurado Nomad Coffee, em frente ao consulado dos EUA em São Paulo, com serviços de alimentação, armários para guardar celular e impressão de documentos, em uma tentativa de se aproximar de novos clientes que estão começando uma viagem internacional.

Na comunicação, a fintech já está mudando seu posicionamento. Patrocinadora de canais de viagem no YouTube que ajudam a divulgar o cartão de viagens na rede, agora está mudando o direcionamento, apresentando-se como uma casa de investimentos. A campanha institucional lançada em julho, com Will Smith, já apresenta a Nomad dessa forma.

A tendência da empresa é ir aumentando o awareness do público até o lançamento da nova plataforma. Junto das inserções televisivas e digitais, a Nomad vai ampliar sua atuação em educação financeira — atualmente seu canal no YouTube é o mais relevante quando se trata de investimentos no exterior. “Queremos fazer mais ou menos como a XP fez há uns 10 anos, uma boa comunicação com educação financeira. Queremos ser formadores de opinião nesse novo mundo de construção de patrimônio em moeda forte”, disse Vargas.