O Tomorrowland voltou ao circuito brasileiro em outubro de 2023 através da empresa DCSet Group, organização com 45 anos de atuação no mercado de entretenimento nacional. A segunda edição do festival terá início na quinta-feira, 10, e segue até domingo, 13. O DCSet no entanto tem planos para uma história muito mais longa.

O contrato com o espaço onde o festival ocorre, em Itu, interior de São Paulo, é de 20 anos: segue até 2043. Para assegurar a execução deste projeto longevo, a DCSet e da We Are One World, empresa dona da marca, não possuem uma relação de licenciamento. As empresas tornaram-se sócias na versão brasileira do festival.

“Isso traz uma perspectiva tanto de perpetuidade quanto de desenvolvimento em conjunto do crescimento e da expansão do festival”, comenta Rodrigo Bertho Mathias, CEO da DCSet. “A gente tem de fato uma visão na sociedade de perpetuidade.”

“O projeto é garantir a essência, a identidade da marca, os valores do Tomorrowland, desenvolvidos no Brasil de uma forma proprietária e única que, na maturidade do festival, o cliente vá para Bélgica e também vá para o Brasil”, resume Mathias.

Rodrigo Mathias, CEO do DCSet Group (Crédito:Divulgação/Tomorrowland)

Quem é o DCSet Group

O grupo foi fundado em 1979 por Dody Sirena, executivo do entretenimento que empresariou a carreira de Roberto Carlos por mais de 30 anos. Na época, a DCSet era uma empresa de marketing, eventos e promoções.

A partir dos anos 1980, ingressa na produção de shows estrangeiros, como da banda Van Halen e o único show solo de Michael Jackson no país, em 1991. Também participou da produção das primeiras edições do Rock In Rio.

Hoje, os shows internacionais organizados pela empresa incluem artistas jovens como Ed Sheeran. O grupo também acrescentou outros ativos ao seu portfólio: possui concessões de parques públicos, como o Villa-Lobos e o Água Branca, em São Paulo, a Pedreira Paulo Leminski e a Ópera de Arame, em Curitiba, e o Cais Embarcadero, em Porto Alegre.

A empresa possui ainda um segmento de produção de exposições imersivas, que inclui a já encerrada Van Gogh Live 8K e a Stranger Things The Experience, em exibição no Shopping Eldorado, em São Paulo.

O Tomorrowland Brasil em números

Foi assinado um contrato de 20 anos com o Parque Maeda, local em Itu (SP) onde acontece o festival. Trata-se de um espaço com múltiplas atrações rurais, como um hotel fazenda e um pomar onde clientes podem comer à vontade jabuticabas e morangos do pé, com leite condensado.

Entre os dias 30 de setembro e 20 de outubro, o Maeda estará reservado para a comunidade Tomorrowland. A festa ocorre entre os dias 10 e 13, e o restante é usado para montagem e desmontagem.

Nos próximos três anos, o DCSet Group afirma que irá investir R$ 30 milhões para adaptar o espaço ao festival. Mathias conta que parte desses investimentos foram adiantados para asfaltar áreas do Maeda depois do desastre em 2023: quando a chuva esperada para um mês caiu no primeiro dia do festival, o Tomorrowland teve de cancelar todas as atrações do dia.

Vista aérea do Parque Maeda durante o Tomorrowland Brasil 2023 (Crédito:Divulgação/Tomorrowland)

A expectativa do DCSet Group é de que a cidade receba 220 mil excursionistas, dos quais 25% serão estrangeiros. Na última edição, em 2023, foram 22 mil turistas internacionais de 98 países diferentes. Na Bélgica, há em média fãs de 200 países por edição.

Os ingressos para o festival custam a partir de R$ 1.100 a inteira por um dia. Havia meia entrada social por R$ 660, que esgotou. Há tickets com vários níveis de preços de acordo com os confortos inclusos, até o Grande Easy Tent 4P, por R$ 28.625, com barraca montada na área de camping e ingressos para quatro pessoas.

O tamanho do público torna o Tomorrowland líder absoluto no segmento de música eletrônica no país. Outro player de fama internacional, o Universo Paralelo recebeu 30 mil pessoas em sua última edição. Quando se compara com outras vertentes musicais, o The Town recebeu 500 mil, Rock in Rio teve 740 mil e o Rodeio de Barretos, 900 mil.

Segundo dados divulgados pela empresa, o poder público brasileiro já investiu R$22 milhões para construir 17,5 km de estradas, que ainda estão em obras. “Nenhum evento da dimensão do Tomorrowland acontece sem ter um alinhamento e uma atuação em parceria da iniciativa privada e da pública”, diz Mathias.

Ainda segundo o DCSet Group, em 2023, foram criados mais de 9 mil empregos e injetados na economia de Itu R$676 milhões entre hotelaria, comércio e emprego. Para os próximos dez anos, a projeção é de R$ 9 bilhões.

Falência marcou mudança no formato do Tomorrowland Brasil

O Tomorrowland surgiu em 2005 na cidade de Boom, na Bélgica. Seus criadores são os irmãos Michel e Manu Beers, que desde o começo contaram com a parceria da produtora ID&T.

A primeira edição do festival no Brasil, em 2015, ocorria sob uma organização global da marca totalmente diferente. A estadunidense SFX Entertainment havia comprado a ID&T em 2013, sócia na produção do Tomorrowland desde seu surgimento, em 2005. A brasileira Plus Talent recebeu licenciamento para as edições no país.

A SFX planejava ser líder global do segmento de música eletrônica. O endividamento frustou os planos da empresa, que declarou falência em 2016. O Tomorrowland Brasil foi então pausado após duas edições. Uma versão estadunidense, batizada TomorrowWorld, teve três edições.

Fundadores da marca, Michel e Manu Beers entraram em uma disputa para conseguir a independência do Tomorrowland da ID&T. Hoje, o festival é propriedade da We Are One World, empresa belga dos próprios irmãos Beers, com mais de 200 funcionários, segundo seu site oficial.

A We Are One World buscou a reaproximação com o Brasil devido a presença de brasileiros nos canais de rede social do festival, conta Mathias. O empresário afirma que o país é o mais representativo na audiência em termos absolutos.

Indagado sobre as garantias de que o festival conseguirá permanecer no país, Mathias defende a sociedade e a atual estrutura da We Are One World. “Quem de fato construiu essa reputação, toda essa paixão pela marca que existe globalmente foram os seus fundadores”, diz. “Então, a gente fica muito feliz em ter sido escolhido por eles para ser o parceiro para desenvolver o projeto do Brasil.”