O economista Gabriel Galípolo foi aprovado nesta terça, 8, pelo plenário do Senado, para presidir o Banco Central a partir de janeiro de 2025, no lugar de Roberto Campos Neto. Foram 66 votos a favor e 5 contra, em votação secreta. Antes, ele passou por uma sabatina que durou cerca de quatro horas na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Casa, onde seu nome teve o aval unânime dos 26 integrantes.

Galípolo ocupa desde julho do ano passado a Diretoria de Política Monetária do BC, e sua indicação pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o lugar de Campos Neto – alvo recorrente de críticas de Lula – chegou a alimentar no mercado o receio de um BC mais leniente com a inflação, dada a proximidade do economista com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (de quem foi secretário executivo) e com o próprio presidente. Sacramentada a aprovação do seu nome, analistas afirmaram ontem que as novas decisões da autarquia serão “olhadas com lupa”.

Durante a sabatina, Galípolo procurou manter um discurso de defesa de uma política monetária que recoloque a inflação na meta e também a favor de independência do BC em relação ao Executivo. Questionado pelo senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), afirmou que, se eventualmente sofrer pressão, terá “coragem” para fazer valer as suas decisões baseadas em critérios técnicos. “Terei a coragem, obviamente, porque, primeiro, é o mandato legal do Banco Central. E, segundo, todos os pedidos e recomendações dos senhores foram de me assegurar, me asseverar dessa liberdade”, afirmou ele. “Agora e no futuro, eu assumo aqui o compromisso de continuar nessa posição.”

Ainda sobre esse tema, ele negou já ter sido pressionado por Lula. “Toda vez que me foi concedida a oportunidade de encontrar o presidente Lula, eu escutei de forma enfática e clara a garantia da liberdade na tomada de decisões, e que o desempenho da função deve ser orientado exclusivamente pelo compromisso com o povo brasileiro.”

Inflação

A aprovação do seu nome ocorre em momento de alta da Selic. Na sua última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa básica de juros de 10,5% para 10,75% ao ano, em votação unânime. Tanto Galípolo quanto os três outros diretores já indicados por Lula para o colegiado votaram pelo aperto, assim como Campos Neto e outros quatro diretores herdados do governo anterior.

No mercado, algumas instituições já trabalham com uma inflação acima do teto da meta no ano (de 4,5%, já considerando a margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual), puxada por fatores como reajuste de alimentos e o peso da bandeira tarifária vermelha sobre as contas de energia. Esse cenário reforça a previsão de novos aumentos da Selic (mais informações na pág. B4).

Sobre essa questão, Galípolo afirmou que cabe ao BC colocar o juro em nível restritivo pelo tempo necessário para atingir a meta. “Hoje, temos uma meta estabelecida de 3%, que cabe ao Banco Central perseguir de maneira efetiva, colocando a taxa de juros em um nível restritivo pelo tempo que for necessário para se atingir essa meta. Essa é a função do Banco Central, assim que funciona o arcabouço institucional e legal do Banco Central”, disse ele.

Galípolo também ressaltou que compete ao BC ser o guardião da moeda. “A confiança depositada na instituição é um dos pilares centrais da sociedade civil organizada como nós conhecemos. Então, isso, por si só, já é uma enorme responsabilidade. Essa responsabilidade é amplificada pelos desafios impostos, pelo quadro histórico em que a gente vive, mas também pela confiança que é depositada em mim e em toda a diretoria do Banco Central.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.