Nos últimos dois anos, a executiva Denise Santos, CEO da Beneficência Portuguesa (BP), fez nada menos do que quatro cursos de extensão em renomadas instituições globais de ensino. Nas universidades de Stanford e Harvard, aprimorou seus conhecimentos em mudanças organizacionais e culturais. Na Chicago Booth, especializou-se em processos de fusões e aquisições, o chamado M&A. Na Columbia University, em Nova York, mergulhou no tema ESG. E ela já está se organizando para o próximo desafio acadêmico, no primeiro semestre de 2025, um curso de liderança para gestão de pessoas na escola francesa Insead Business School, eleita pelo jornal americano Financial Times como o melhor programa de MBA do mundo.

“A única forma de aumentar o nosso baú de conhecimento e acompanhar a rápida evolução em curso em todas as áreas é não parar de se atualizar, em momento algum”, afirmou Denise, em entrevista à DINHEIRO. “Além de estar sempre aberto a novos aprendizados, o grande desafio de todo profissional, especialmente os da liderança, é como aterrissar todo esse conhecimento no negócio em que atua”, acrescentou.

A julgar pelos resultados da BP, um dos maiores e mais tradicionais grupos hospitalares do País, com 7 mil funcionários e faturamento de R$ 2,1 bilhões no ano passado, a CEO tem inspirado seus times a não parar de estudar. “Hoje, 85% dos nossos 300 líderes estão engajados no programa que chamamos de JDL, sigla para Jornada de Desenvolvimento de Liderança. E esperamos que essa participação aumente ainda mais nos próximos anos”, disse a executiva. “Afinal, inovação é o nosso DNA. Somos uma empresa de 165 anos de existência, em constante transformação, e que tinha 20 anos quando Thomas Edison inventou a lâmpada.”

A história da CEO da BP exemplifica um movimento crescente no ambiente corporativo brasileiro, em que conciliar trabalho e estudo de forma permanente é um mandamento quase obrigatório. Esse fenômeno está expresso no levantamento “Perfil dos CEOs”, feito pela Falconi, a maior consultoria brasileira de gestão, com base nas informações das 82 empresas que formam o índice Ibovespa B3. Ao analisar a carreira dos líderes, o estudo divulgado com exclusividade à DINHEIRO identificou que mais de 80% dos CEOs continuaram a estudar após a primeira graduação, seja em formações stricto ou lato sensu. Esse comportamento reforça o papel do aprendizado ativo ao longo de toda a carreira.

Além do prestígio da função, os presidentes de grandes empresas de capital aberto compartilham cada vez mais duas características em comum:
• a formação robusta
 e a educação continuada.

A educação continuada é o que permite que os profissionais se mantenham atualizados sobre novas tendências, tecnologias e métodos”

(Divulgação)

Com destaque para cursos de educação executiva, a alta liderança dessas empresas mostra o conhecimento como um elemento central em suas trajetórias. O levantamento aponta também a educação como um dos principais caminhos para garantir relevância profissional e fortalecer a reputação na corporação e no mercado. Além de oportunidade para adquirir e reciclar conhecimentos, os cursos acabam sendo uma grande ferramenta de networking. Para a consultora Ana Gusmão, diretora da unidade de soluções para gestão de pessoas na Falconi, não raro a busca por conhecimento também serve de inspiração para que os CEOs se reinventem e olhem para questões mais interpessoais. “Num ambiente de negócios em constante e rápida evolução, as habilidades e conhecimentos exigidos podem mudar a qualquer momento”, disse a diretora “A educação continuada é o que permite que os profissionais se mantenham atualizados sobre novas tendências, tecnologias e métodos.”

“A busca contínua por capacitação, segundo ela, vai além das habilidades técnicas, abarcando ainda o desenvolvimento de soft skills, como liderança, comunicação e pensamento crítico, como mostram os programas de muitos dos cursos que os executivos escolhem, inclusive em instituições de reconhecimento internacional, como Stanford, Insead, Wharton e Harvard.”
Ana Gusmão diretora da Falconi

Uma das principais constatações do estudo é que quem se beneficia com isso é a própria cultura organizacional de suas empresas. Como seu maior guardião, o CEO comprometido em conhecer o que há de novo no mercado tangibiliza a responsabilidade do líder em garantir que as empresas e sua cultura sigam fortes e conectadas às transformações do mercado. “Cursos executivos e imersões, como o Harvard OPM, oferecem uma oportunidade valiosa para que os CEOs troquem vivências e melhores práticas com líderes de outros setores em um ambiente seguro e colaborativo”, afirmou a diretora da Falconi. “Tais programas também permitem a construção de redes de contato que transcendem fronteiras, fortalecendo o networking global. E este é certamente um diferencial no mundo interconectado.”

A importância de se manter sempre ativo nos estudos é praticamente uma unanimidade na cartilha dos maiores líderes empresariais brasileiros. O CEO de uma das maiores empresas globais do agro, a SLC Agrícola, Aurélio Pavinato, afirma que os estudos têm sido decisivos para seu sucesso profissional. “A educação revoluciona e foi assim que eu consegui mudar a minha vida e me tornar um líder”, afirmou Pavinato, em recente encontro promovido pela Falconi. “Além disso, lideranças se materializam a partir do exemplo. Não tem como você ser um grande líder sem ser exemplo e ter a percepção de justiça na tomada de decisões”, acrescentou.

(Cauê Diniz)

“Um CEO precisa possuir uma combinação de habilidades técnicas e interpessoais, como liderança, comunicação e uma mentalidade voltada para o crescimento e a inovação”
Rui Chammas, CEO da ISA CTEEP

Dos CEOs cuja carreira foi analisada pela Falconi, pouco mais de 20% têm pós-graduação stricto sensu: 19% têm mestrado e 4% têm doutorado. Apesar de não serem predominantes, tal formação desempenha um papel significativo em setores específicos, como os voltados para as áreas da saúde e indústria, já que neles o conhecimento especializado é um diferencial competitivo. “Além de desenvolver novas competências, uma formação lastreada por pesquisa acadêmica permite aos líderes ampliar sua capacidade de resolver problemas e inovar, características essenciais num mercado competitivo”, diz Ana Gusmão.

SOFT SKILLS

Além do aprendizado técnico, a evolução nas chamadas soft skills – ou seja, habilidades interpessoais, como comunicação e estilo de abordagem – é cada vez mais relevante no alto escalão“São tão importantes quanto o conhecimento técnico, ou seja, as hard skills. A capacidade de se comunicar de forma eficaz e adaptar a abordagem ao público é fundamental para construir relacionamentos sólidos e fomentar um ambiente de trabalho colaborativo”, pontuou a diretora.

Ela complementa que líderes que investem nesse equilíbrio entre habilidades técnicas e interpessoais conseguem navegar melhor em situações complexas e, por isso, têm maior chance de sucesso. Isso é confirmado pelo CEO da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (ISA CTEEP), Rui Chammas. Um dos executivos cuja carreira foi analisada, Chammas disse ser fundamental para um líder unir as habilidades técnicas às interpessoais.

“Um CEO precisa possuir uma combinação de habilidades técnicas e interpessoais. Isso inclui liderança forte, comunicação eficaz, capacidade de aprender e tomar decisões difíceis, visão estratégica, habilidades de resolução de problemas e uma mentalidade voltada para o crescimento e a inovação”, afirmou Chammas. “É importante ser capaz de inspirar e motivar sua equipe e, ao mesmo tempo, ser percebido como parte dela. Também é necessário ser capaz de construir relacionamentos sólidos com os stakeholders e se adaptar rapidamente a mudanças no ambiente de negócios.”

(Divulgação)

“Lideranças se materializam pelo exemplo. Não tem como você ser um líder sem ter a percepção de justiça na tomada de decisões”
Aurélio Pavinato, CEO da SLC Agrícola

Em linhas gerais, o levantamento identificou que:
 a graduação em Engenharia é a mais comum entre os CEOs brasileiros, com 47%.
 Formações em Administração também se destacaram, aparecendo em 29% dos perfis analisados.
• Na sequência, aparecem os cursos de Economia (9%), Direito (3%) e Medicina (3%).
• Além disso, 80% dos líderes analisados continuaram a estudar após sua primeira graduação: 49% deles partiram para cursos de MBA (Master of Business Administration), enquanto 33% buscaram programas de Educação Executiva.

A análise foi feita com base em dados públicos sobre os líderes das empresas listadas no Índice Ibovespa B3 no terceiro trimestre de 2024, com as pesquisas entre agosto e setembro do mesmo ano, em fontes disponíveis online, além de contato com assessorias de imprensa das organizações.

A base analisada indicou uma idade média de 50 anos e perfil predominantemente masculino (95%). Também mostrou que 65% dos CEOs já atuavam em outras funções na empresa antes de assumirem a presidência.

Diante das constatações do levantamento da Falconi e dos exemplos de alguns dos mais relevantes CEOs do País, quem estava em dúvida se devia ou não voltar à sala de aula já pode preparar a mochila. Ao que tudo indica, o bom CEO à aula torna.