A conexão à Internet nos aviões, antes cara e pouco confiável, tornou-se um produto atrativo para algumas companhias aéreas, que aproveitam os recentes avanços tecnológicos para oferecer um serviço “como o de casa”.

Companhias aéreas de todo o mundo, como Delta, United, Japan Airlines e Air France, anunciaram nas últimas semanas o início ou ampliação das suas ofertas de conexão a bordo.

Algumas empresas oferecem “wi-fi de altíssima velocidade e totalmente gratuito”, algo notável para um setor acostumado a cobrar por serviços como bagagem e seleção de assentos.

A oferta de Internet para passageiros fará um salto qualitativo a partir de 2025, segundo Fabien Pelous, diretor de qualidade de serviço da Air France, que reconhece que até agora “não havia sido satisfatória”.

“Observamos a situação do mercado e há novos atores, como a Starlink, que oferecem por meio de uma tecnologia diferente (…) um nível de qualidade quase equivalente ao da Internet em casa”, explicou.

As primeiras experiências de Internet a bordo datam de 2004 com a Boeing e a Lufthansa. Desde então, grupos como ViaSat, Panasonic e Thales desenvolveram produtos para centenas de aeronaves.

Constelações de satélites como as do Starlink “mudaram as regras do jogo”, segundo Seth Miller, do site PaxEx, especializado em companhias aéreas.

– Fonte de conflito? –

Isso permitirá aos clientes personalizarem ainda mais suas viagens.

“Não dependemos mais da lista de filmes da companhia, podemos ter acesso ao Amazon Prime, à Netflix”, diz Paul Chiambaretto, professor da Montpellier Business School.

Mas o “gratuito” deve ser colocado em perspectiva, esclarece Joe Leader, diretor-geral da Airline Passenger Experience Association (Apex, Associação de Qualidade de Serviço aos Passageiros de Companhias Aéreas), com sede nos Estados Unidos.

Delta, United e Air France reservam a conexão de alta velocidade para membros de seus programas de fidelidade. A adesão é gratuita, mas abre um novo campo para suas operações de mercado.

“Nossos amigos da Delta disseram publicamente que um em cada oito novos membros do programa SkyMiles acaba usando o cartão de crédito Delta, que compensa o custo da internet para outros sete passageiros”, explica Leader.

Alguns clientes optarão por não se cadastrar e pagar pela conexão, prevê. Por isso, a Apex também aconselha as empresas a manterem esta alternativa.

Na Air France, a instalação do wi-fi da Starlink em suas mais de 220 aeronaves levará tempo e representa um investimento de “milhões de euros”, segundo Pelous.

Mas a chegada da banda larga colocará novos desafios às empresas e a seus funcionários, às vezes expostos a passageiros indisciplinados e a conflitos entre vizinhos de assento.

Leader adverte que “as empresas devem garantir o cumprimento das regras de civilidade antes de permitir um ‘Far West’ de conversas interconectadas”.