Pela terceira semana consecutiva, o consenso do mercado financeiro elevou sua projeção para o IPCA no ano de 2024, mirando agora uma inflação de 4,5% – ficando no limite do teto da meta.

+Focus: Mercado vê inflação no teto da meta em 2024 e eleva projeção para Selic em 2025

Trata-se da terceira alta consecutiva na projeção para o IPCA de 2024.

O número, da edição desta segunda, 21, do Boletim Focus, mostra um mercado que ainda enxerga uma série de incertezas macroeconômicas e vê uma pressão inflacionária ainda latente.

A avaliação é de que as projeções sobem por conta de núcleos que persistem em alta nas últimas leituras.

“A inflação tem apresentado sinais de resiliência, especialmente em serviços, e fatores como a seca e o aumento das tarifas de energia adicionam pressão aos preços”, explica Alex Andrade, CEO da Swiss Capital Invest.

Nesse contexto, o mercado espera uma política monetária possivelmente mais rígida como um impacto imediato, o que fica evidente com a elevação da projeção da Selic para 2025, que agora é de 11,25%. Atualmente a taxa Selic está em 10,75% e o mercado espera também uma elevação – de 0,50 ponto percentual (p.p.) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre nos dias 5 e 6 de novembro.

“O Boletim Focus de hoje assusta bastante com uma alta maior do que vinha tendo na projeção da inflação para 4,50% chegando no limite do teto, aumentando as expectativas de aumento de juros. Vemos pressões inflacionárias persistentes, que podem forçar o Banco Central a tomar medidas mais duras em relação a Selic, por enquanto mantida no Focus a 11,75% no ano”, comenta Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike.

Jefferson Laatus, CEO da Laatus, comenta que “as pressões inflacionárias persistem e podem exigir ajustes mais rigorosos do Banco Central, comprometendo a recuperação econômica”.

“Esse contexto de juros altos por mais tempo pode desacelerar setores dependentes de crédito, como o imobiliário e o industrial, e reduzir o consumo. O desafio será encontrar o equilíbrio necessário para controlar a inflação sem sufocar o crescimento econômico, mantendo a atenção nos indicadores que influenciarão as próximas decisões de política monetária”, detalha.

O cenário de inflação desancorada, segundo especialistas, tem conexões com as incertezas acerca da política fiscal.

“O mercado está projetando que o governo vai gastar mais e cada vez menos o governo tem uma fonte crível de arrecadação. Isso no longo prazo tende a causar esse aumento da inflação. Ainda mais agora, no curto prazo, a gente vê esse cenário acontecendo, essa injeção demasiada de dinheiro na economia”, comenta Nicolas Gass, especialista em mecado de capitais e sócio da GT Capital.

“Era esperado que as projeções de inflação subissem. E um fato bem curioso é que o Focus projetou IPCA na tampa ali da região de cima da meta de inflação, que tem 1,5% acima de grau de tolerância. E acima disso já superaria a a meta de inflação. E a gente poderia ver um movimento visível de retração dos mercados com a inflação saindo da meta. E aí o que pode também explicar o aumento da expectativa para a taxa Selic é justamente esse aumento da expectativa de inflação”, completa.

Última leitura do IPCA

A inflação mostrou uma variação de 0,44% no mês de setembro, leitura mais recente divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com isso, a inflação acumulada em 12 meses fica em 4,42%.

A principal pressão inflacionária do mês em questão foi a conta de luz, por conta da alta de 5,36% nas tarifas de energia elétrica residencial. O item exerceu impacto de 0,21 p.p. no IPCA de setembro.