Vitoriosa em referendo sobre adesão ao bloco, Maia Sandu também saiu na frente no primeiro turno da eleição presidencial, que foi marcada por acusações de interferência russa. Segundo turno será em 3 de novembro.A presidente da Moldávia, Maia Sandu, afirmou nesta segunda-feira (21/10) que o país “venceu de forma justa uma luta injusta”, em referência ao triunfo no primeiro turno do pleito presidencial, neste domingo, que ocorreu concomitantemente ao referendo para decidir se a nação deveria manter a candidatura para ingressar na União Europeia (UE).

A declaração de Sandu, que é pró-UE, ocorre um dia após o governo moldavo acusar a Rússia de interferência nos resultados.

Aprovado por uma pequena maioria de 50,46%, o referendo foi considerado o grande teste eleitoral para a ex-república soviética com pouco mais de 2,6 milhões de habitantes. O país faz fronteira com a Ucrânia e, portanto, também seria de interesse do presidente russo, Vladimir Putin.

No final deste domingo, Sandu, 52 anos, ex-economista do Banco Mundial e primeira mulher a presidir a Moldávia, disse que o país havia testemunhado “um ataque sem precedentes” à democracia, culpando “grupos criminosos que trabalham em conjunto com forças estrangeiras hostis aos nossos interesses nacionais”. A presidente alega que ao menos 300 mil votos foram comprados por milhões de dólares.

“Vencemos a primeira batalha em uma luta difícil que determinará o futuro do nosso país. Nós ouvimos vocês: sabemos que precisamos fazer mais para combater a corrupção”, declarou Sandu a repórteres, conclamando os moldavos a votar no segundo turno.

O Kremlin, por sua vez, pediu à presidente moldava que “provasse” a acusação de interferência eleitoral no país e alegou “anomalias” na contagem de votos.

Observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) afirmaram que tanto o primeiro turno da eleição presidencial quanto o referendo sobre as aspirações da Moldávia à UE foram “bem administrados”, ainda que tenham sido registrados interferência estrangeira e esforços ativos de desinformação.

Em um relatório publicado nesta segunda-feira, a missão da OSCE disse que avaliou a votação “de forma extremamente positiva”, mas observou alguns problemas processuais e o uso indevido de recursos administrativos durante as campanhas.

Cumprimentos e críticas de governos

A União Europeia e também países membros do bloco comentaram a eleição. O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, saudou a Moldávia como uma “nação corajosa”, e a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, parabenizou o país por sua “bravura”. A UE também lamentou o fato de a eleição ter sofrido “interferência e intimidação sem precedentes” da Rússia.

O governo alemão condenou o que chamou de tentativas “constantes” da Rússia de manipular e influenciar a Moldávia: “Vemos que a Rússia e também atores pró-Rússia estão tentando desestabilizar a Moldávia em grande escala”, declarou a porta-voz adjunta do governo, Christiane Hoffmann.

Ela também disse que Berlim condena “essa manipulação contínua e as tentativas de influenciar uma eleição democrática e, por fim, o processo de tomada de decisão do povo moldavo”.

Hoffmann pediu uma investigação sobre as acusações de interferência russa e disse que a Alemanha continuará apoiando o caminho da Moldávia rumo à adesão à UE.

Uma porta-voz do Ministério do Exterior em Berlim disse que a Alemanha enviou especialistas civis e policiais para ajudar a combater a desinformação como parte de uma parceria conjunta com a UE.

Segundo turno contra aliado de Putin

De acordo com a comissão eleitoral em Chisinau, capital da Moldávia, o primeiro turno da eleição presidencial terminou com vitória de Maia Sandu com 42% dos votos. Seu principal rival, Alexandr Stoianoglo, um ex-procurador da República apoiado por socialistas pró-Rússia, terminou com uma taxa bem acima das expectativas: 26%. Os dois se enfrentarão no segundo turno, em 3 de novembro.

“Temos uma grande chance de vencer em 3 de novembro, e venceremos”, disse Stoianoglo, 57 anos, a jornalistas na sede de seu partido, classificando o resultado da votação como um “fracasso retumbante e vergonhoso” para o governo.

Os críticos de Sandu dizem que ela não fez o suficiente para reformar o Judiciário e combater a inflação em um dos países mais pobres da Europa. Em sua campanha, Stoianoglo, que foi demitido do cargo de promotor justamente por Sandu, defendeu a “restauração da justiça” e prometeu adotar uma “política externa equilibrada”.

A eleição deste domingo revelou “profundas divisões” no país, conforme avaliação da analista sênior do Grupo de Crise da UE, Marta Mucznik, para quem o impacto das campanhas de desinformação pró-Rússia era “evidente”.

“Tanto Bruxelas quanto Chisinau devem se preparar para mais tensões e reconsiderar suas estratégias se quiserem promover efetivamente o projeto de adesão à UE”, disse Mucznik.

Prisões devido a suspeitas

Nas últimas semanas, centenas de prisões foram efetuadas depois que as autoridades descobriram um esquema de compra de votos “sem precedentes” que poderia macular até um quarto das cédulas.

A polícia informou que milhões de dólares teriam vindo da Rússia com o objetivo de corromper eleitores.

Além disso, centenas de jovens foram treinados na Rússia e nos Bálcãs para criar “desordem em massa” na Moldávia, inclusive usando táticas para provocar ações policiais.

gb/ra (AFP, dpa, Reuters)