Em um ano difícil para as mineradoras e siderúrgicas com incertezas na China, a Vale surpreendeu positivamente no seu resultado do terceiro trimestre de 2024, reportando um lucro que encolheu ante igual etapa do ano anterior, mas superou as projeções dos analistas.

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Além da última linha do resultado da Vale, a companhia também mostrou números operacionais que foram considerados “decentes” e “robustos” por analistas, que enxergam que a companhia está com uma base sólida para a sua recente troca de gestão – já que Gustavo Pimenta assumiu como CEO da companhia há pouco mais de 20 dias.

“Mesmo diante de uma queda na receita e lucro da companhia, os números apresentados pela companhia foram superiores aos esperados, justificados principalmente pelo bom desempenho operacional e maior volume de vendas no período. Tivemos um aumento de 1,3 milhões de toneladas de vendas no 3T24 quando comparado com o 3T23”, comenta João Daronco, analista CNPI da Suno Research.

“Entendemos que a Vale tem conseguido fazer seu trabalho de casa apresentando aumento de produção e ganhos de eficiência, além de manter seus custos controlados. Sua estrutura de capital segue sólida, o que lhe dá uma maior tranquilidade para atravessar esse momento mais desafiador da economia chinesa”, completa.

Analistas do Goldman Sachs chamam atenção para o Ebitda da companhia, que ficou em US$ 3,7 bilhões, 5% acima do consenso Bloomberg. O lucro da companhia foi de US$ 2,41 bilhões, ante US$ 1,85 bilhão das projeções.

“A Vale já havia relatado recordes na relação entre volume de vendas e preços realizados, mas vemos uma melhora no breakeven do EBITDA do minério de ferro, com custo caindo para US$ 61,4 por tonelada – e esperamos mais melhoras, já que o custo de setembro ficou 12% abaixo da média do trimestre”, observa a casa.

Os analistas destacaram que esperam uma reação positiva do mercado aos números da Vale no 3T24 – o que de fato está se concretizando, considerando que as ADRs operam em alta de 2,5% em Nova York e as ações da Vale listadas no Brasil avançam 1,8% logo na abertura do pregão.

A recomendação do Goldman Sachs é de compra para os papéis listados nos EUA, com preço-alvo de US$ 15,50, ao passo que os papéis negociam abaixo de US$ 11.

Analistas do BTG Pactual, que têm recomendação neutra para os papéis, com preço-alvo de US$ 12, consideram que os números do balanço da Vale foram “decentes”, já que as expectativas da casa eram relativamente moderadas.

“Acreditamos que o novo CEO está começando em bases sólidas, com uma mentalidade sensata em meio a mercados muito desafiadores. O EBITDA chegou a US$ 3,7 bilhões, 8% acima das nossas estimativas, apoiado por melhores embarques de minério de ferro (3% acima da nossa previsão; desempenho muito forte de pelotas) e maiores realizações de preço de minério de ferro (4% maior do que esperávamos)”, analisam Leonardo Correa e Marcelo Arazi.

A visão do BTG é de que a administração continua confiante em entregar o piso do guidance em termos de custo de minério de ferro.

Real em baixa, Vale em alta

Sobre a dinâmica positiva de custos para a companhia, analistas da XP pontuaram que a depreciação do real ante o dólar também é um fator significativo dentro dos números trimestrais como um catalisador positivo.

“Com os números operacionais já reportados, consideramos o desempenho de custos da Vale como o destaque de hoje, com C1/t a US$ 20,6 por tonelada, positivamente impulsionado pela depreciação do real, menores custos de manutenção, melhor diluição de custos fixos e iniciativas de eficiência, seguindo uma tendência de melhora ao longo do trimestre”, diz a casa.

A XP considera que o resultado da Vale mostra que a empresa está “cumprindo promessas” ao reduzir o custo por tonelada.

A casa tem recomendação de compra para VALE3, com preço-alvo de R$ 82 – ao passo que os papéis negociam a cerca de R$ 60,80 em bolsa atualmente.

Acordo de Mariana/Samarco faz preço

Além dos números referentes ao trimestre, a Vale também avançou no acordo de reparação de Mariana, o que reduz incertezas sobre o futuro da companhia.

O Goldman Sachs frisou que o acordo é, juntamente com o balanço, um foco para os investidores.

O BTG Pactual apontou que, ainda antes da assinatura do acordo de Mariana – ocorrido na manhã desta sexta, 25 – a companhia mostrou provisões mais baixas da Samarco, agora em US$ 4,7 bilhões.

O acordo assinado logo após o balanço envolve as mineradoras Vale, BHP e Samarco com autoridades do governo, e prevê que a primeira parcela de R$ 5 bilhões deverá ser paga em 30 dias após a formalização do pacto.

No total, o acordo prevê o pagamento de R$ 132 bilhões, dos quais R$ 100 bilhões representam “novos recursos” que devem ser pagos ao poder público em até 20 anos pelas empresas envolvidas na tragédia.

Vale, BHP e Samarco ainda destinarão uma cifra de R$ 32 bilhões para custeio de indenizações a pessoas atingidas e de ações reparatórias que permanecerão sob sua responsabilidade, além dos R$ 38 bilhões que as empresas dizem ter já desembolsado.