31/10/2024 - 17:20
Os receios em torno da política fiscal do governo Lula e da possibilidade de Donald Trump vencer a eleição presidencial nos EUA voltaram a sustentar o dólar nesta quinta-feira, 30, o que fez a moeda terminar o mês de outubro na maior cotação ante o real desde março de 2021.
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O dólar à vista fechou o dia em alta de 0,30%, cotado a R$ 5,7815. Este é o maior valor de fechamento desde 9 de março de 2021, quando encerrou em 5,7927 reais. Em outubro, a divisa acumulou elevação de 6,10%. Veja cotações.
Às 17h06, na B3 o contrato de dólar futuro para dezembro — que nesta sessão passou a ser o mais líquido — subia 0,32%, a 5,8005 reais na venda.
O Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira, contaminado pelo viés negativo de Wall Street, enquanto Bradesco também pesou com as preferenciais caindo mais de 4% após resultado trimestral, apesar de alta no lucro e melhora em rentabilidade.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,71%, a 129.713,33 pontos, tendo marcado 129.641,78 pontos na mínima e 130.797,86 pontos na máxima da sessão, sem novidades sobre o pacote fiscal.
Com tal desempenho, o Ibovespa acumulou em outubro uma perda de 1,6%, no segundo mês seguido no vermelho, acumulando em 2024 uma perda de 3,33%.
O volume financeiro no pregão desta quinta-feira somou 20,88 bilhões de reais.
O dólar no dia
A sessão desta quinta-feira foi marcada pela definição da Ptax de fim de mês, o que tradicionalmente eleva a volatilidade por conta da disputa pela taxa.
Calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista, a Ptax serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la a níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas (no sentido de alta das cotações) ou vendidas em dólar (no sentido de baixa).
Além da disputa pela Ptax, investidores observaram pela manhã a divulgação de dados robustos sobre a economia norte-americana, que reforçaram a tendência mais recente de alta para os rendimentos dos Treasuries.
O Departamento do Trabalho dos EUA informou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego caíram em 12.000 nos EUA, para 216.000 em dado com ajuste sazonal, na semana encerrada em 26 de outubro. Economistas consultados pela Reuters previam 230.000 pedidos para a última semana.
Já os gastos dos consumidores, que respondem por mais de dois terços da atividade econômica dos EUA, aumentaram 0,5% no mês passado, após ganho revisado para cima de 0,3% em agosto. Economistas consultados pela Reuters previam que alta de 0,4%.
Por outro lado, o índice de preços PCE aumentou 0,2% em setembro, após um ganho não revisado de 0,1% em agosto. Economistas haviam previsto que a inflação medida pelo PCE ficaria exatamente em 0,2%.
Neste cenário, o dólar à vista chegou a oscilar em baixa ante o real, marcando a mínima de 5,7543 reais (-0,17%) às 9h03 e às 10h04 — neste caso, já após os dados dos EUA. Mas o movimento não se sustentou e o dólar migrou para o território positivo.
De acordo com Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, a desconfiança do mercado na política fiscal do governo Lula e a expectativa crescente de que o republicano Trump vencerá a democrata Kamala Harris na corrida eleitoral norte-americana voltaram a sustentar o dólar.
“Estamos na mesma pegada dos últimos dias, com os problemas internos no fiscal fazendo preço”, comentou Avallone. “E não adianta ter diferencial de juros favorecendo Brasil se o governo não trata das próprias contas”, acrescentou.
Nas últimas semanas, apesar do diferencial de juros favorável à atração de recursos pelo país — já que o Fed caminha para cortar mais seus juros e o Brasil tende a acelerar a alta da taxa básica Selic –, o dólar tem escalado patamares cada vez mais elevados ante o real.
Parte do desconforto do mercado — que também sustentou as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) nesta quinta-feira — está no fato de o governo Lula ainda não ter anunciado medidas concretas de contenção de despesas, prometidas para depois das eleições municipais.
Neste cenário, o dólar à vista subiu até a máxima de 5,7959 reais (+0,55%) às 13h18 — pouco depois da Ptax de fim de mês ter sido formada. A Ptax ficou em 5,7779 reais para venda.
Mesmo perdendo parte da força no restante da tarde, o dólar ainda terminou o dia no maior nível ante o real em cerca de três anos e meio.
No exterior, o dólar tinha direções mistas ante as moedas de emergentes, mas caía ante as divisas fortes. Às 17h34, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,19%, a 103,890.
No fim da manhã, o BC vendeu todos os 14.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados em leilão para rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024.
O dia do Ibovespa
Nos Estados Unidos, os rendimentos dos Treasuries avançaram após dados de auxílio-desemprego e gastos do consumidor mostrando a economia sólida, o que minou as bolsas, que ainda reagiram a notícias de Meta e Microsoft.
Investidores do mercado brasileiro também continuam na expectativa de medidas fiscais prometidas pelo governo brasileiro. E sem o benefício da dúvida por parte dos agentes, as taxas dos DIs voltaram a subir, reverberando no Ibovespa.
O CEO do Bradesco afirmou nesta quinta-feira que o Brasil tem hoje um cenário positivo, à exceção do aspecto fiscal.
O risco de o Banco Central perder as rédeas da inflação com a escalada do gasto do governo com juros da dívida ganhou destaque em reuniões de membros do BC com investidores em Washington na última semana, segundo relatos à Reuters.
O tema também passou a ocupar a pauta de análises de corretoras e bancos de investimentos no Brasil, mas especialistas e membros do governo ainda não veem elementos que levem a essa conclusão.
De acordo com analistas do Itaú BBA, o Ibovespa começou a semana superando a resistência, mas mostra ao longo das últimas tentativas a dificuldade em manter uma sequência de altas, mostrou o relatório Diário do Grafista nesta quinta-feira.
Na segunda-feira, o Ibovespa encerrou acima dos 131 mil pontos, marcando o maior nível de fechamento desde 16 de outubro.
DESTAQUES
– BRADESCO PN recuou 4,39%, mesmo após reportar lucro líquido recorrente de 5,2 bilhões de reais no terceiro trimestre, alta de 13,1% ano a ano, com recuo em provisões e aumento na rentabilidade. O CEO reforçou que as concessões de crédito sempre consideram o retorno ajustado ao risco, com foco na margem líquida, que vem “crescendo com consistência”.
– HYPERA ON desabou 8,3%, após o grupo NS, controlador da rival EMS, retirar a proposta de combinação de negócios com a companhia farmacêutica. O conselho de administração da Hypera avaliou na semana passada que a oferta da EMS subestimava o valor da empresa e a rejeitou por unanimidade sem iniciar discussões com a rival.
– BRF ON valorizou-se 2,86%, tendo no radar anúncio da BRF Arabia, joint venture formada pela empresa brasileira de alimentos e a saudita Halal Products Development Company (HPDC), nesta quinta-feira de contrato que prevê a aquisição de 26% da Addoha Poultry Company, empresa avícola da Arábia Saudita, por 84,3 milhões de dólares.
– VALE ON cedeu 0,66%, acompanhando a fraqueza dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na bolsa de Dalian encerrou as negociações diurnas em queda de 0,38%, a 781,5 iuanes (109,75 dólares) a tonelada métrica, depois de atingir uma máxima intradiária de 789,5 iuanes a tonelada no início da sessão.
– PETROBRAS PN fechou com acréscimo de 0,17%, resguardada pelo avanço dos preços do petróleo no exterior, onde o barril de Brent, usado como referência pela estatal brasileira, encerrou o dia com elevação de 0,84%.
– AMBEV ON recuou 2,24%, após mostrar lucro líquido ajustado de 3,58 bilhões de reais no terceiro trimestre, queda de 11,4% em relação ao mesmo período do ano passado, em resultado afetado em parte por aumento de despesas de imposto de renda no Brasil. O CEO disse que a companhia segue comprometida com expansão de margens após reajustar preços em setembro.