A decisão do Banco Central (BC) de acelerar a alta da taxa básica de juros, em linha com as expectativas do mercado, foi considerada pelos analistas como um acerto diante das pressões inflacionárias. A Selic foi reajustada em 0,50 ponto percentual (p.p.), para 11,25%. A inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 4,42% no acumulado de 12 meses.

Analistas do mercado financeiro atribuem a alta da inflação ao cenário de economia aquecida, com mercado de trabalho forte, o que aumenta os gastos da população e pressiona os preços. Também mencionam a persistente alta do dólar e os riscos fiscais permanentes.

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“A decisão do comitê foi unânime, o que o mercado vê com bons olhos. Comunicado muito parecido com o anterior, na minha opinião. O comitê sinalizou um cenário mais desafiador, tanto externo quanto interno”, avalia Marcelo Bolzan, estrategista de Investimentos e sócio da The Hill Capital.

Dólar e a eleição de Trump

Especialistas do mercado consultados pelo IstoÉ Dinheiro consideram que a eleição de Trump fortalece o cenário de inflação, ao contribuir para que o dólar siga em alta. “Muitos investidores levaram dinheiro para os Estados Unidos para investir, por exemplo, na Tesla, que subiu 15% no dia de hoje“, diz o CEO da Swiss Capital Invest, Alex Andrade.

“Esse ajuste [nos juros] pode atrair capital estrangeiro, ajudando a manter o dólar”, acredita o CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro. “Mas existe o risco de desaceleração econômica, especialmente se o aumento dos juros começar a restringir o crédito e reduzir o consumo”, pondera.

Desaceleração da economia

O impacto sobre o crescimento da economia é um ponto destacado pelos especialistas. CEO da Equity Fund Group, João Kepler diz que o aumento de juros, de fato, torna o Brasil mais atrativo aos investidores.

“No entanto, a medida traz um desafio: equilibrar o controle inflacionário sem prejudicar o crescimento econômico, o que exige uma gestão cuidadosa das políticas monetária e fiscal diante da incerteza política e econômica.”

CEO da gestora Multiplike, Volnei Eyng vê como positivo o aumento da taxa por ocorrer na medida para não “machucar demais” a economia do país. “O mais adequado é um aumento mais gradual mesmo. Com certeza foi a melhor medida o aumento de 0,50 p.p.”

Risco fiscal

A moeda norte-americana, no entanto, fechou nesta quarta-feira em queda de 1,21%, cotada a R$ 5,67. Para o economista Bruno Corano, a cotação demonstra que o impacto da eleição de Trump não é preponderante. “O desequilíbrio cambial é fruto do desequilíbrio fiscal, da falta de austeridade em relação às contas, as quais estão colocando o Brasil num caminho muito perigoso e com destino certo de consequências muito ruins”, diz.

“O cenário fiscal também acaba pesando: incertezas em relação ao equilíbrio das contas públicas aumentam o prêmio de risco, exigindo uma política monetária firme para estabilizar a confiança no país”, reforça o analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, Sidney Lima.

Vera Veronese, economista-Chefe B.Side Investimentos, também ressalta a questão fiscal como ponto-chave do comunicado.

“O comunicado de hoje trouxe um Copom preocupado com a desancoragem das expectativas, mas ainda mais preocupado com a questão fiscal. A autoridade monetária foi bastante clara ao passar o recado: sem um programa de corte de gastos crível e de caráter estrutural, a política monetária deverá se manter dura. Entendemos que o anúncio do plano de corte de gastos será de fundamental importância para os próximos passos da política monetária”

Ciclo de alta deve continuar

O Copom não incluiu no comunicado o chamado “guidance”, com indicações sobre a próxima decisão. No entanto, o texto menciona que medidas estruturais podem contribuir para a ancoragem das expectativas de inflação. “A gente pode interpretar que o ciclo está mais na mão do Ministério da Fazenda com o corte de gastos públicos do que propriamente do BC”, comenta o analista da Empiricus, Matheus Spiess.

“É possível que o BC continua subindo juros em um ritmo de 0,5 p.p. nas reuniões de dezembro e janeiro, encerrando o ciclo com uma alta de 0,25 p.p. em março de 2025”, acredita o economista-chefe do BV, Roberto Padovani. A projeção da instituição conta com alguma medida de reajuste fiscal e desaceleração econômica em 2025, prevê cortes de juros a partir do segundo semestre e a taxa básica encerrando o próximo ano em 11,50%.