Dos 18 engenheiros do time global da linha de negócios chamada process industries da multinacional suíça ABB, seis são brasileiros. Em algumas reuniões, o idioma mais falado é o português, tamanha a influência dos profissionais do Brasil na equipe. Esse é só um exemplo da importância da inteligência verde-amarela nos negócios da gigante de automação e eletrificação, que no ano passado registrou receita de US$ 33,2 bilhões, 9% superior ao ano anterior.

No balanço de janeiro a setembro deste ano, foram US$ 24,26 bilhões, 3% a mais do que o mesmo período de 2023. No Brasil, são mais de US$ 500 milhões em faturamento – e crescendo a um ritmo acima do global. “O potencial de contribuição que a ABB tem com o País é gigantesco, consideradas as necessidades da indústria de modo geral para se tornarem mais eficientes, limpas e sustentáveis”, disse à DINHEIRO Luciano Nassif, presidente da ABB Brasil. “É um mercado extremamente importante para a ABB e temos perspectivas muito positivas sobre como podemos seguir contribuindo para País.”

● Dos 105 mil funcionários espalhados pelo mundo, 1,7 mil atuam no Brasil.
● Por aqui, a companhia de 140 anos – 110 deles com operação nacional – possui duas fábricas: uma em Sorocaba (SP) e outra em Contagem (MG), e uma sede administrativa na capital paulista.

“Investimos cerca de US$ 45 milhões no Brasil ao longo dos últimos anos, incluindo a expansão de uma de nossas plantas”, afirmou Nassif.

No portfólio estão soluções em quatro linhas de negócios. Além de process industries, tem a vertente motion (de motores), a robótica e a eletrificação, que atendem clientes de variados segmentos, entre eles:
● mineração,
● alimentos e bebidas,
● automotivo,
● datacenters,
● óleo e gás,
● tratamento de água e emissões,
● marina e portos,
● até infraestrutura de carregamento para carros elétricos.

(Claudio Gatti)

“O potencial de contribuição que a ABB tem com o País é gigantesco, consideradas as necessidades da indústria para se tornarem mais eficientes”
Luciano Nassif, Presidente da ABB Brasil

Solução Tupiniquim

No Brasil, uma das principais linhas é justamente a process industries. Se os engenheiros brasileiros contribuem de maneira expressiva nessa vertente com o time global, os profissionais que atuam no hub brasileiro também têm se destacado. É daqui que tem saído muitas soluções que são aplicadas mundo afora pela ABB. “Temos três grupos de P&D no mundo: um na Suíça, um na Suécia e outro no Brasil. Eles estão pensando exclusivamente no futuro. Muitas tecnologias que já lançamos ou estão em testes para serem aplicadas são do Brasil”, discorreu Fausto Almeida, diretor de negócios em mineração da ABB para América Latina, linha que tem crescido ao ritmo de 20% em receita anualmente no País.

A meta global de expansão dessa vertente é de 30% até 2028. No Brasil, a perspectiva é dobrar de tamanho no mesmo período.

O robô CRIS inspeciona os milhares de roletes da correia de transporte de minério. Reduz o número de manutenções não programadas e eleva a produtividade (Crédito: Divulgação) (Crédito:Estadão Conteúdo)

Para isso, a companhia conta com a inteligência brasileira aplicada aos negócios.

Uma das tecnologias criadas no hub local que está sendo usada em diversos mercados é a camada de Inteligência Artificial nas câmeras de segurança e monitoramento das minas de extração. A solução da ABB é aplicada a todos os equipamentos de imagens, de qualquer marca ou modelo. Com ele, é possível verificar a presença de pessoas não autorizadas nos locais, aperfeiçoar processos de produção, entre outras funções. “Captamos informações riquíssima pelas câmeras. Com a automação atrelada aos dados visuais, identificamos a melhor tomada de decisão nos processos”, disse Almeida.

Outro recurso que nasceu em solo brasileiro e tem ganhado o mundo é um robô que inspeciona os milhares de roletes da correia de transporte de minério. A automatização dessa verificação reduz o número de manutenções não programadas, eleva produtividade da extração e evita incêndios por superaquecimento, com câmeras térmicas e sensores, segundo a ABB. Ele tem um nome complicado: Conveyor Roller Inspection Services. Mas como é ideia brasileira, é chamado de CRIS, a partir de suas iniciais. “Analisa a imagem termográfica, os dados visuais e de ruído dos roletes para avaliar a condição dos componentes e indicar quais devem receber prioridade na manutenção”, frisou o diretor.

O desenvolvimento do CRIS foi feito na fábrica da ABB em Sorocaba até que o robô alcançasse a atual versão pré-industrial. Testes reais estão sendo feitos no Chile. O design foi melhorado em parceira a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para facilitar, inclusive, a fabricação em série.

A aproximação com a academia, aliás, garante que a safra de profissionais brasileiros continue a render bons frutos. A ABB incentivou o hackathon promovido pelo Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano do Sul (SP), em que os alunos foram desafiados a criar soluções para a área de automação na mineração a partir de ferramentas de Realidade Virtual (RV) e Realidade Aumentada (RA). Os vencedores farão estágio de verão na ABB, com possível extensão de atuação na companhia.

“Temos três grupos de P&D no mundo: um na Suíça, um na Suécia e outro no Brasil. Estão pensando no futuro.” – Fausto Almeida, diretor de negócios em mineração da ABB para América Latina (Divulgação) (Crédito:Estadão Conteúdo)

Pelo Mundo

Da mesma maneira que as soluções brasileiras têm ganhado o mundo, alguns produtos criados pelos hubs de fora ganham o mercado brasileiro.

É o caso do GMD, um sistema de acionamento sem engrenagens para moinhos gigantes, com cerca de 13 metros de diâmetro. Com indução eletromagnética, é elétrico, mais potente e reduz a perda energética. Na América do Sul, estão em operação cerca de 40 deles no Chile, 30 no Peru e sete no Brasil, especialmente no Pará, nas extrações de cobre da Vale.

Uma outra solução da ABB em mineração são as linhas de trolley. Não ligou o nome ao produto? Estamos falando daquelas linhas de energia de trólebus comuns pelas ruas dos centros urbanos. Só que, no caso, são para caminhões gigantes usados nas minas. O sistema alimenta os motores dos veículos híbridos e também recarrega as baterias. Existem em três lugares do planeta: nas minas Aitik e Kristenberg, ambas na Suécia, e a mina da Copper Mountain, no Canadá. Vai chegar ao Brasil? Não é certo, mas há perspectiva.

Certo mesmo é a projeção de desenvolvimento da ABB no mercado brasileiro, de maneira geral, segundo o presidente Luciano Nassif. “Identificamos inúmeras oportunidades de crescimento no Brasil para os próximos anos, especialmente em setores estratégicos como energia renovável, automação industrial, eletrificação e digitalização”, disse o executivo, ao ressaltar que tem observado “uma dinâmica de investimentos importante no vasto espectro de setores onde nossos clientes atuam”. Com a inteligência brasileira da ABB como protagonista.