O Itaú Unibanco detectou a suposta atuação em conflito de interesses de seu ex-diretor financeiro (CFO) Alexsandro Broedel após o executivo deixar o banco, segundo apurou o Broadcast, do jornal O Estado de S.Paulo,  com fontes que pediram anonimato, devido ao sigilo das investigações.

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O procedimento revelou, ainda de acordo com as informações, que ele teria omitido do banco o fato de ter uma sociedade com o professor de contabilidade Eliseu Martins, cujos serviços ele autorizou o Itaú a contratar.

Procurado, Broedel disse por meio de assessoria que as acusações do Itaú são infundadas, e que Martins era fornecedor do Itaú há décadas, desde antes de o executivo entrar para a diretoria. “Os serviços mencionados eram do conhecimento do Itaú e requeridos por diferentes áreas do banco”, disse ele. Broedel afirmou ainda que “causa profunda estranheza” que o Itaú denuncie as supostas condutas impróprias após ele deixar o banco para assumir uma posição global em um de seus principais concorrentes, e que tomará as medidas judiciais cabíveis.

Broedel saiu do Itaú em julho, rumo a um cargo na direção do Grupo Santander, na Espanha. A saída foi “repentina“, de acordo com fontes, e pouco depois, a diretoria do banco tomou conhecimento de que mesmo atuando como diretor financeiro, ele teria emitido pareceres contábeis a outras empresas.

A partir dessa informação, houve uma investigação interna, através da qual o Itaú detectou que Broedel era sócio de Eliseu Martins em uma empresa. Essa empresa teria recebido transferências de outra, contratada pelo banco e da qual Martins é sócio com um de seus filhos, em valores compatíveis com os pagos pelo Itaú pelos serviços cuja contratação fora autorizada por Broedel entre os anos de 2019 e 2024.

O que aconteceu

Segundo o Estadão, em um processo protocolado na Justiça de São Paulo, o Itaú afirma que Broedel aprovou a contratação de pareceres pelos quais uma empresa pertencente a Martins e a um de seus filhos recebeu R$ 13,255 milhões nos últimos cinco anos, sendo R$ 10,455 milhões entre 2022 e 2024. Parte desse valor era posteriormente repassada a contas de uma segunda empresa, em que Martins e Broedel eram sócios, e a contas do próprio Broedel.

Ao todo, afirma o Itaú, o ex-diretor teria recebido R$ 4,860 milhões ao longo dos últimos cinco anos. A situação configura conflito de interesses, de acordo com a defesa do banco, dado que Broedel autorizou pagamentos que em parte chegariam até ele.

Foram contratados ao todo 40 pareceres, e Broedel teria dado por recebidos 36 deles. No entanto, após investigação, o banco encontrou apenas 20 desses pareceres. Os demais, de acordo com argumentação dos acusados reproduzida pela defesa do banco, teriam sido relativos a serviços de consultoria, ou seja, de natureza distinta da que constava nas notas fiscais.

Procedimentos internos

A governança interna do banco submete todos os executivos a um questionário anual que, entre outros pontos, pergunta se eles mantêm sociedades com fornecedores da instituição. Caso tenham, as regras do Itaú determinam que os executivos não podem decidir sobre o relacionamento do banco com seus sócios.

Ainda de acordo com fontes, a estrutura interna determina que a contratação de fornecedores passe por uma área de compras centralizada, que faz processos de concorrência no mercado. As exceções são serviços “personalíssimos”, como a contratação de pareceristas específicos. Este é o caso de Martins, professor de Universidade de São Paulo (USP) e considerado um dos maiores especialistas em contabilidade do país.

Banco Central e CVM

Martins deixou o quadro de fornecedores do banco após a investigação. O Broadcast apurou que o banco informou em outubro ao Banco Central sobre os fatos, bem como à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Caso os dois órgãos investiguem o caso e considerem os envolvidos culpados, eles ficarão inabilitados para exercer funções em empresas reguladas pelos dois órgãos.

A investigação fez com que o Itaú pedisse à auditoria independente, a PwC, que avaliasse novamente os balanços do período. Não foram encontradas inconsistências, e o banco afirmou, por meio de nota, que não há impacto nos resultados. Os valores envolvidos no suposto conflito de interesses já haviam sido contabilizados e são considerados pequenos diante do tamanho do balanço.

Eliseu Martins não se manifestou até a publicação desta nota.