11/12/2024 - 18:36
O Banco Central decidiu nesta quarta-feira, 11, elevar em 1 ponto percentual a taxa básica de juros do país, a Selic, que agora vai a 12,25% ao ano. A decisão era esperada pelo mercado, já que cenário econômico do país segue marcado pela pressão inflacionária, câmbio depreciado e incertezas sobre as medidas fiscais.
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A decisão foi unânime entre os membros do Comitê de Política Monetária (Copom). De acordo com o comunicado, o Comitê considerou que o ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação.
O texto diz ainda que o cenário se mostra menos incerto e mais adverso do que na reunião anterior. “Persiste, no entanto, uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação.”
“É melhor entrar com uma dose de remédio alta”, diz o economista Bruno Corano. Para ele, chama a atenção não só a unanimidade da decisão como o de que uma boa parte dos atuais membros foi indicada pelo atual governo. “Isso responde o questionamento que existia no passado, se esse grupo técnico iria realmente ser independente. E eu fico feliz em ver que até o momento tem sido”.
“A decisão foi mais pesada, foi mais dura. E o comunicado também. O comunicado me surpreendeu positivamente. Precisava ser duro e realmente foi”, avalia Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos e sócio da The Hill Capital.
Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos diz que “uma postura tão hawkish como essa já não era vista há bastante tempo”, se referindo não só à decisão de hoje, mas como a indicação de mais aperto monetário pela frente.
“De maneira geral, portanto, ficou para o BC o papel de ser a autoridade que busca manter a credibilidade e trazer algum controle para os mercados em um momento de absoluto estresse. Se por um lado uma sinalização de um ciclo tão apertado assusta, por outro, pode ser bem recebida justamente por reforçar a credibilidade e afastar, por ora, o risco de um cenário de dominância fiscal”.
O economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, também destaca o ganho de credibilidade para o Copom com a decisão e o comunicado, mostrando que o Comitê “fez tudo o que podia para tentar convencer de que não pouparão esforços para trazer a inflação para meta”. “O movimento de hoje deve contribuir para o processo de recuperação da credibilidade do colegiado e dar um alívio para os agentes do mercado financeiro”.
Para o estrategista-chefe BGC Liquidez, Daniel Cunha, o mercado deve reagir positivamente à decisão do Copom na sessão desta quinta-feira, 12, com destaque para a queda do dólar. “O BC mostrou humildade em reconhecer que estava atrasado e ficando atrás da curva e, mais importante, mostrou capacidade de reação e adaptação, recuperando as rédeas da condução de política monetária “.
Esta foi a última reunião de Roberto Campos Neto como presidente do Banco Central. Em 2025 ele será substituído por Gabriel Galípolo, hoje diretor de Política Monetária da instituição.
Inflação persistente
A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle.
Na terça-feira, 10, o IPCA, o índice oficial de inflação do país, medido pelo IBGE, apontou uma desaceleração nos preços em novembro, com alta de 0,39% – ante alta de 0,56% em outubro. Contudo, em 12 meses, o índice ficou em 4,87%, acima do teto da meta, que é de 4,5%, o que pressiona o Comitê a apertar a política econômica empurrando os juros para cima.
O aperto monetário foi a decisão das duas reuniões anteriores, quando a Selic sofreu aumento de 0,25 ponto percentual (em setembro) e de 0,50 ponto percentual (em novembro).
Cenário fiscal
Além da inflação, o pacote fiscal apresentado no final de novembro pela equipe econômica do governo deve ser considerado para a decisão. O projeto aguarda aprovação no Congresso, após ter sido recebido com pessimismo pelo mercado financeiro, que considerou as medidas propostas insuficientes para um equilíbrio das contas públicas e redução de gastos.
No comunicado da última decisão, em 6 de novembro, o Comitê apontou que “uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida, com a apresentação e execução de medidas estruturais para o orçamento fiscal, contribuirá para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária”.
Dólar no patamar de R$ 6
O câmbio é outra pressão sobre o Copom. O dólar bateu novo recorde histórico de fechamento na última segunda-feira, 9, cotado a R$ 6,08. A moeda acumula valorização de cerca de 25% em 2024. O comunicado do BC na decisão pelo aumento da Selic em 0,50 p.p. colocava o câmbio entre a conjunção de políticas econômicas externa e interna com impacto inflacionário, apontando para “uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”.
Conta ainda sobre a divisa norte-americana um cenário econômico exterior incerto com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, com ampliação das dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed [Federal Reserve, Banco Central norte-americano] no país.
Mudança no comando
Roberto Campos Neto está de saída da presidência do Banco Central. Ele foi indicado pelo então presidente Jair Bolsonaro, em 2019. Agora, será substituído por Gabriel Galípolo, que atualmente é diretor de Política Monetária da instituição e foi o nome indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ocupar o cargo mais alta do BC.
Sua indicação foi recebida com temores do mercado sobre a independência de sua gestão e interferências do governo. Mas o economista afirmou que haverá continuidade da temporada de Selic em alta, que há preocupação com preços e com o bom andamento da política monetária.
Segundo Galípolo, as últimas decisões pelo aumento da taxa básica de juros foi natural e é lógico entender sua continuidade enquanto não se estabilizarem outros fatores dentro e fora do Brasil.