A desvalorização do real frente ao dólar é realidade em 2024. A moeda brasileira está perdendo valor por diversos motivos. Segundo os economistas, há desde questões externas, como a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, até a desconfiança do mercado em relação a responsabilidade fiscal do governo brasileiro.

Até segunda-feira, 12, o real acumulava desvalorização de 21,52%, próximo ao registrado em 2020, ano da pandemia, quando recuou 22,44%, segundo o dólar Ptax – taxa de referência para contratos denominados em real em bolsas de mercadorias no exterior, calculada pelo Banco Central.

Para se ter uma ideia, o patamar atual é o quinto pior dos últimos 24 anos, segundo o levantamento feito por Einar Rivero, sócio da consultoria Elos Ayta.

“A diferença entre os dois períodos [2020 e 2024] é de 0,92 ponto percentual, refletindo um cenário de pressão cambial persistente e desafios econômicos”, afirma Rivero.

Histórico dos últimos 25 anos é de instabilidade

O levantamento mostra que desde o ano 2000 o desempenho do real diante do dólar tem uma trajetória marcada por oscilações intensas e predomínio de quedas. Nos últimos 25 anos, a moeda brasileira apresentou uma desvalorização em 15 oportunidades, com valorizações ocorrendo em apenas dez anos.

A maior baixa anual do período ocorreu em 2002, quando o real recuou 34,33%. O cenário, naquele momento, refletia a incerteza política durante o processo eleitoral, associado à preocupação do mercado com a possível mudança de governo.

Por outro lado, o ano 2009 marcou o melhor desempenho do real nos últimos 25 anos, com uma valorização expressiva de 34,22%, impulsionada pela recuperação global após a crise financeira de 2008 e pelo crescimento robusto do Brasil no período.

Levantamento de Elos Ayta por Einar Rivero.

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Valorização de dois dígitos: uma raridade

A análise revela que a valorização anual de dois dígitos frente ao dólar ocorreu em apenas cinco oportunidades no período analisado, nos anos:

  • 2003: 22,29%
  • 2005: 13,40%
  • 2007: 20,70%
  • 2009: 34,22%
  • 2016: 19,81%

Esses anos coincidem, em sua maioria, com períodos de recuperação econômica após crises internas ou externas. Em 2016, por exemplo, a valorização de quase 20% ocorreu após o impeachment presidencial, quando o mercado reagiu positivamente à perspectiva de um ajuste econômico.

Desvalorização de dois dígitos: uma constante preocupante

Se a valorização de dois dígitos é rara, o mesmo não pode ser dito da desvalorização intensa. Em dez anos, o real recuou mais de 10% frente ao dólar, destacando a vulnerabilidade cambial da economia brasileira. Os piores anos incluem:

  • 2002: – 34,33% (crise eleitoral);
  • 2015: – 31,98% (recessão e crise fiscal);
  • 2020: – 22,44% (pandemia);
  • 2008: – 24,21% (crise global).

O ano de 2024, com desvalorização de 21,52%, agora se junta a esse grupo, refletindo fatores domésticos e externos que pressionam a moeda brasileira.

Por que o Real está tão fraco em 2024?

O desempenho do real nos últimos 25 anos revela uma moeda frequentemente sujeita a volatilidade e crises periódicas.

O resultado de 2024, próximo ao desempenho da pandemia, levanta preocupações sobre a capacidade do Brasil de equilibrar suas contas e retomar a confiança dos investidores”, diz o estudo.

Apesar dos desafios, o histórico também mostra que a moeda brasileira é capaz de recuperações expressivas em momentos de ajuste econômico e melhoria no cenário global.

Ribeiro ainda avalia que a estimativa para 2025 é que o desempenho do real dependerá de uma política fiscal mais robusta, de um ambiente externo menos restritivo e de um crescimento mais acelerado da economia brasileira.

O consultor conclui que o real segue, em 2024, um ciclo histórico que alterna fortes quedas com períodos de recuperação.

“Mas a mensagem é clara: a resiliência cambial do Brasil ainda depende de ajustes estruturais e de uma gestão econômica mais previsível”, finaliza.