A farmacêutica brasileira EMS recebeu autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a produção nacional da liraglutida – princípio ativo presente no Ozempic.

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A liberação da Anvisa para a fabricação do ‘Ozempic brasileiro‘ vem após cerca de dois anos de espera da farmacêutica por uma resposta do órgão regulador.

A EMS já investiu uma cifra de mais de R$ 150 milhões no desenvolvimento e produção da liraglutida em sua fábrica de Hortolândia (SP). Com a autorização, passará a integrar um mercado concorrido – além do Ozempic, da dinamarquesa Novo Nordisk, entraram no mercado também a Saxenda e o Mounjaro.

Esse registro foi o primeiro do mundo a ser obtido por polipeptídio sintético, e permite à farmacêutica brasileira desenvolver outros produtos nessa mesma plataforma tecnológica.

Ou seja, a farmacêutica é a primeira brasileira a produzir e vender análogos de GLP-1 para o país e o mundo.

Com o aval da Anvisa, a EMS lança os medicamentos Olire e Lirux, para o tratamento de obesidade e diabetes tipo 2, respectivamente.

A companhia sinaliza que os medicamentos estarão disponíveis nas farmácias de todo o Brasil ao longo de 2025.

“Desenvolvemos um produto no país, com tecnologia brasileira, do zero. Vamos fabricar desde a matéria-prima até o produto acabado, reforçando nossa posição de liderança no mercado farmacêutico brasileiro com produtos de alta qualidade e de grande impacto”, afirma Carlos Sanchez, Presidente do Conselho de Administração da EMS.

De acordo com a companhia, as novas terapias anunciadas estão em linha com a sua fase de internacionalização, que segue em rota acelerada de investimentos para concorrer no mundo com medicamentos complexos, de qualidade e revolucionários no mercado e saúde pública.

Ozempic tornou empresa dinamarquesa uma das mais valiosas do mundo

Atualmente os medicamentos com o mesmo princípio ativo são importados e, por conta disso, sofrem eventuais problemas de escassez no mercado nacional.

O Ozempic é um medicamento direcionado para o tratamento de diabetes tipo – todavia, ganhou uma adesão massiva para fins de emagrecimento.

Médicos de todo o mundo, todavia, alerta para efeitos colaterais.

“O uso indevido de análogos de GLP-1 como o Ozempic para perda de peso apresenta riscos significativos à saúde, incluindo problemas gastrointestinais, fadiga, taquicardia e, em casos mais graves, pancreatite aguda ou cálculos biliares”, disse o Dr. Jean-Luc Faillie, farmacologista e chefe do centro de farmacovigilância do Hospital Universitário de Montpellier, na França, ao jornal Le Monde.

A Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Cuidados de Saúde (MHRA, na sigla em inglês), do Reino Unido, aponta que ‘o uso de medicamentos para perda de peso como o Ozempic por indivíduos buscando um ‘corpo de Instagram’ apresenta riscos significativos à saúde, incluindo náusea, vômito e pancreatite potencialmente fatal’.

A Novo Nordisk, empresa que fabrica o Ozempic, se tornou a 25ª empresa mais valiosa de todo o mundo na toada de ganhos financeiros relevantes com o medicamento para o tratamento de diabetes.

A empresa viu seus ganhos financeiros aumentarem na medida que o fármaco passava a ser utilizado para fins de emagrecimento.

A própria companhia, contudo, já se posicionou sobre o tema – em março de 2023, a empresa divulgou um comunicado alertando sobre o uso do Ozempic para emagrecimento, destacando que o medicamento não é indicado para fins estéticos e que seu uso deve ser restrito às indicações aprovadas.

Somente nos nove primeiro meses de 2024, a companhia obteve um lucro de 72,8 bilhões de coroas dinamarquesas – cifra que corresponde a mais de US$ 10,1 bilhões no câmbio atual.

Seu valor de mercado atual é de cerca de US$ 388 bilhões, segundo dados atualizados do Status Invest.

Neste ano de 2024 a empresa ganhou mais de US$ 130 bilhões em valor de mercado. Isso, justamente no período em que as vendas de Ozempic cresceram significativamente, saltando 24% no comparativo de base anual.

O medicamento, de forma isolada, gerou US$ 29,8 bilhões em receita para a farmacêutica dinamarquesa nos nove primeiros meses do ano de 2024.

A empresa não revela o número de vendas exatas de Ozempic.