Governo israelense informou que não irá se reunir para aprovar cessar-fogo nos combates na Faixa de Gaza anunciado nesta quarta-feira, acusando o Hamas de não cumprir sua parte. Grupo, porém, nega supostas “concessões”.O gabinete do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou nesta quinta-feira (16/01) que não se reunirá, como planejado, para aprovar um cessar-fogo na Faixa de Gaza – o qual, consequentemente, deve permitir a libertação de dezenas de reféns nas próximas semanas – até que o Hamas recue no que chamou de “crise de última hora”.

O cessar-fogo havia sido anunciado nesta quarta, no Catar, e esperava-se que o gabinete israelense ratificasse o acordo no final desta quinta. Mas o governo de Israel advertiu que não aprovaria a sua implementação até que as supostas divergências sejam esclarecidas. Se aprovado, o acordo deverá entrar em vigor em 19 de janeiro.

O gabinete de Netanyahu acusou o Hamas de renegar parte do acordo em uma tentativa de “extorquir concessões de última hora”, sem oferecer mais detalhes.

“O Hamas está violando partes do acordo alcançado com os mediadores e Israel em um esforço para extorquir concessões de última hora”, anunciou o governo israelense, acrescentando que “não se reunirá até que os mediadores notifiquem Israel de que o Hamas aceitou todos os elementos do acordo”.

Em contrapartida, o Hamas disse estar determinado a respeitar o acordo conforme anunciado e que não sabe a quais exigências Netanyahu se refere, negando uma suposta oposição ao trato. Em um comunicado, o grupo afirmou que está “comprometido com o acordo de cessar-fogo anunciado pelos mediadores”.

O presidente dos EUA, Joe Biden, e o principal mediador, o Catar, anunciaram na noite de quarta-feira um acordo que, além de silenciar as armas, permitiria a libertação de 33 reféns nas próximas seis semanas em troca da libertação de centenas de prisioneiros palestinos e da retirada das forças israelenses das áreas mais populosas da Faixa de Gaza.

No início desta quinta-feira, as Forças Armadas de Israel lançaram ataques que mataram pelo menos 70 pessoas em diferentes partes do enclave palestino, segundo informações divulgadas pela agência de notícias Reuters.

Hamas contesta alegações de Israel

Basem Naim, membro do gabinete político do Hamas, reiterou à Agência EFE que não estava ciente a respeito dos argumentos e declarações de Netanyahu sobre as hipotéticas novas demandas.

Além disso, um dos porta-vozes do grupo islâmico, Sami Abu Zuhri, acusou Israel de tentar “criar tensão em um momento crítico” e exigiu que o governo dos Estados Unidos aplicasse o acordo.

“Não há espaço para debate ou para Netanyahu evitar implementar o acordo de cessar-fogo”, disse Zuhri à emissora catariana Al Araby.

No início da manhã desta quinta, a direção do grupo de Sequestrados, Repatriados e Desaparecidos do gabinete governamental israelense informou às famílias das vítimas de sequestro sobre o possível revés nas negociações.

“Os detalhes do acordo ainda não foram finalizados, e a equipe de negociação continua seus esforços para chegar a uma solução”, afirmou a organização em um comunicado, pedindo que as famílias confiem apenas em informações de fontes oficiais.

Disputas internas em Israel

De acordo com a emissora pública israelense Kan, o atraso repentino da votação do governo pode se dever a “deliberações em curso” do partido Sionismo Religioso, liderado pelo ministro das Finanças, o colono de ultradireita Bezalel Smotrich, sobre se deve ou não abandonar o Executivo assim que o cessar-fogo for aprovado.

Tanto Smotrich quanto Itamar Ben Gvir, outro colono ultradiretista e ministro da Segurança Nacional, se opõem ao que consideram um acordo de “rendição” com o Hamas, o que também impediria seus anseios de que colonos judeus reocupassem o enclave palestino após a guerra.

Ainda que o partido Sionismo Religioso abandone o governo, no entanto, Netanyahu seguiria tendo apoio majoritário para dar sinal verde ao cessar-fogo, que entraria em vigor no domingo, após mais de 15 meses de conflitos e quase 47 mil mortos em Gaza.

gb/md (EFE, Lusa, Reuters, AP, OTS)