A Food and Drug Administration (FDA), agência americana que controla alimentos e medicamentos, aprovou na semana passada a venda dos chamados sachês de nicotina. A ZYN, marca da Philip Morris, foi a primeira empresa que teve o produto liberado para a venda nos Estados Unidos. 

Nos EUA, a embalagem com 15 sachês está sendo vendida por US$ 5,50 (o equivalente a R$ 33). Os sachês são pequenas bolsas de celulose. Quando colocadas na boca, se dissolvem e a nicotina é então absorvida pelo organismo.

No Brasil, a comercialização do produto é proibida pela Anvisa. E a comunidade médica alerta que sachês de nicotina, assim como cigarros eletrônicos, pode ser ainda mais prejudicial à saúde que o cigarro comum.

A FDA avaliou que o produto atende aos padrões de saúde pública legalmente exigidos pela Lei de Prevenção do Tabagismo Familiar e Controle do Tabaco de 2009. Entre outras considerações, a agência considerou que os sachês apresentam menor risco de câncer do que o cigarro convencional. Além dos EUA, a Suécia é o único país em que a venda dos sachês é permitida. 

‘Não há consumo seguro de nicotina’

Apesar do argumento da indústria de que o consumo de nicotina em outros formatos que não o cigarro são menos nocivos à saúde, a comunidade médica discorda da afirmação.

Ricardo Meirelles, Coordenador da Comissão de Combate ao Tabagismo da Associação Médica Brasileira, disse ao site IstoÉ Dinheiro que vê com preocupação a liberação do FDA e que, ao invés de ajudar tabagistas a pararem de fumar, a popularização dos sachês pode fazer com que jovens tenham acesso a nicotina mais cedo.

“Não há consumo seguro de nicotina. O tabagismo é uma doença e deve ser tratada com o acompanhamento de um profissional da saúde. Os sachês de nicotina, assim como cigarros eletrônicos, utilizam nicotina sintética, que pode ser ainda mais prejudicial”, afirma Meirelles, reforçando que o uso de sachês de nicotina pode causar doenças cardiovasculares, hipertensão, AVC, infarto e câncer de estômago e pâncreas.

Investimento bilionário em produtos sem fumaça

Os sachês fazem parte de uma estratégia da Philip Morris de investir nos produtos de tabaco sem fumaça. Esses produtos já totalizam mais de 38% da receita líquida total da companhia no primeiro semestre de 2024.

Essa categoria inclui, além dos sachês, dispositivos eletrônicos com tecnologia de tabaco aquecido, os chamados vapes, ambos proibidos no Brasil. Desde 2008, a Philip Morris já investiu mais de US$ 12,5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento de produtos sem fumaça.

Segundo Meirelles, a alegação da indústria de que produtos de tabaco sem fumaça são menos nocivos do que os cigarros convencionais não procede, pois a absorção do tabaco pela mucosa é muito rápida e também leva ao vício. “Os únicos produtos que comprovadamente ajudam na superação do vício são os adesivos, gomas de marcar e pastilhas, que possuem uma quantidade muito baixa de nicotina”, diz o porta-voz da Associação Médica Brasileira.