O dólar fechou nesta terça-feira, 21, em leve baixa ante o real, em uma sessão com noticiário esvaziado no Brasil e cautela em relação ao cenário externo, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não anunciar novas tarifas de importação ao assumir o mandato na véspera.

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Ao contrário do que ocorreu na segunda-feira, 20, quando realizou dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra no futuro), o Banco Central se manteve longe dos negócios nesta terça.

O dólar à vista fechou em leve queda de 0,18%, aos 6,0313 reais. Em janeiro, a moeda acumula baixa de 2,39%. Às 17h04 na B3 o dólar para fevereiro — atualmente o mais líquido — tinha leve alta de 0,16%, aos 6,0450 reais.

O Ibovespa fechou com um acréscimo discreto nesta terça-feira, mas acima dos 123 mil pontos pela primeira vez desde meados de dezembro do ano passado, endossado por Wall Street, enquanto Petrobras e ações de empresas de proteínas limitaram os ganhos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa avançou 0,39%, a 123.338,34 pontos, tendo marcado 123.461,68 pontos na máxima e 122.289,95 pontos na mínima do dia. O volume financeiro somou 16,6 bilhões de reais.

O dólar no dia

Na segunda-feira, o dólar já havia cedido ante o real após notícias de que Trump não iria impor novas tarifas de importação em seu primeiro dia na Presidência dos Estados Unidos — o que foi posteriormente confirmado. Por trás do movimento está a percepção de que tarifas não tão elevadas significam inflação e juros não tão altos nos EUA, o que favorece divisas de países emergentes.

A venda de 2 bilhões de dólares ao mercado pelo BC, nas operações de linha, foi outro fator de acomodação para as cotações na véspera.

Nesta terça-feira, porém, o BC não atuou, ao mesmo tempo em que os agentes seguiram atentos à política de Trump e seus desdobramentos nos ativos globais.

“Existe um medo de Trump, mas ao que tudo indica ele vai ter cautela antes de subir as tarifas. O DXY (dólar index) caiu, o euro está se valorizando… o dólar entrou num movimento um pouco melhor”, comentou durante a tarde Victor Furtado, head de Alocação da W1 Capital.

Pela manhã o dólar chegou a subir ante uma cesta de moedas fortes, mas à tarde já havia se reaproximado da estabilidade, depois de ter recuado mais de 1% na segunda-feira.

No Brasil, a moeda norte-americana à vista atingiu a máxima de 6,0685 reais (+0,44%) às 9h12, logo após a abertura e em sintonia com o avanço firme no exterior, mas perdeu força até uma mínima de 6,0170 reais (-0,41%) às 15h41. Depois disso, oscilou muito próximo da estabilidade até o fechamento.

“O mercado está digerindo as informações de ontem, sobre quais vão ser as prioridades do governo Trump e seus efeitos ao redor do mundo. É um dia de certa forma de cautela”, pontuou Furtado.

Países que estão na mira mais imediata das tarifas de Trump, como México e Canadá, viram suas moedas serem penalizadas mais diretamente nesta terça-feira. O peso mexicano era a divisa que mais se desvalorizava no mundo no fim da tarde e o dólar canadense também estava em queda.

Às 17h25, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,07%, a 108,060.

Pela manhã, o Banco Central vendeu 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 5 de março de 2025.

O dia do Ibovespa

De acordo com analistas do Itaú BBA, em relatório com análise técnica divulgada mais cedo, os 123 mil pontos representavam um patamar importante e o Ibovespa fechando acima sairia da tendência de baixa.

Ainda assim, ressaltaram que o momento é de cautela no gráfico diário e ao mesmo tempo de observação em caso de melhora para adicionar risco a cada evolução do Ibovespa.

A última vez que o Ibovespa fechou acima dos 123 mil pontos foi em 17 de dezembro, a 124.698,04 pontos.

A terceira alta seguida do Ibovespa teve apoio de Wall Street, onde o S&P 500 subiu 0,88%, com agentes financeiros repercutindo notícias da posse de Donald Trump para um segundo mandato com presidente dos Estados Unidos.

Trump assinou uma série de decretos, mas não houve nenhum anúncio específico relacionado a tarifas sobre parceiros comerciais embora ele tenha dito que pensa em taxar produtos canadenses e mexicanos já em 1º de fevereiro.

A ausência de decisões práticas nesse tema trouxe algum alívio, mas a percepção de modo geral é de que a volatilidade deve continuar presente com a mudança no governo da maior economia do mundo.

De acordo com William Queiroz, sócio e advisor da Blue3, investidores no mercado brasileiro continuam acompanhando os movimentos de Trump, principalmente aqueles com potenciais reflexos para mercados emergentes e Brasil.

As questões envolvendo tarifas comercias, acrescentou, continuam apenas no discurso, mas a atenção persiste uma vez que Trump deixou claro que não quer se incomodar agora com emergentes, nem que emergentes incomodem os EUA.

 

DESTAQUES

– EMBRAER ON subiu 2,87%, renovando máximas históricas: de 62,46 reais para fechamento e de 62,72 reais para o intradia. Vários analistas continuam construtivos sobre a empresa, enxergando um sólido momentum de lucros e ambiente favorável da indústria. A potencial fusão da Gol com a Azul também é vista positivamente para a fabricante de aviões pelo BTG Pactual, uma vez que pode reduzir o risco de crédito das companhias aéreas, o que reverberaria na Embraer, que tem recebíveis da Azul.

– BRASKEM PNA avançou 3,57%, mais uma vez na ponta positiva, enquanto agentes seguem avaliando potenciais reflexos do Regime Especial da Indústria Química (REIQ), que oferece incentivos fiscais. Na sexta-feira, a petroquímica anunciou que investirá 614 milhões de reais em projetos de ampliação de capacidade em instalações na Bahia, Rio Grande do Sul e Alagoas usando crédito presumido no âmbito do REIQ.

– USIMINAS PNA fechou em alta de 5,36%, melhor desempenho no setor de mineração e siderurgia no Ibovespa, acompanhada por GERDAU PN, que subiu 2,17%, com esta tendo ainda no radar programa de recompra de ações. CSN ON mudou de sinal e valorizou-se 1,38%, assim como CSN MINERAÇÃO ON, que avançou 1,74%. VALE ON afastou-se das mínimas, mas ainda fechou em queda, de 0,5%, apesar da alta dos futuros do minério de ferro na China.

– BRAVA ENERGIA ON ganhou 4,26%, tendo no radar notícia, segundo fontes, de que a empresa brasileira de petróleo e gás Fluxus, do grupo J&F, holding da família Batista, fez uma oferta não vinculante pelos ativos onshore da companhia.

– BRF ON recuou 6,61% acompanhada de perto pela controlada MARFRIG ON, em queda de 4,04%, em sessão negativa para ações de empresas de proteínas, em dia de alta nos preços de grãos como milho em Chicago. JBS ON encerrou negociada em baixa de 1,84% e MINERVA ON caiu 0,2%. Investidores também têm monitorado notícias envolvendo a confirmação de um caso de gripe aviária (HPAI) no Estado da Geórgia, nos Estados Unidos.

– RAÍZEN PN cedeu 3,11%, novamente entre os destaques de baixa e renovando mínimas históricas, com agentes ainda analisando prévia operacional do terceiro trimestre do ano safra 2024/2025 e decisão do grupo de descontinuar a divulgação das projeções financeiras referentes ao ano-safra 2024/2025. Ainda como pano de fundo das negociações, os futuros do açúcar bruto caíram para uma mínima de cinco meses na ICE nesta terça-feira, com as notícias sobre o retorno da Índia ao comércio de exportação pairando sobre o mercado.

– PETROBRAS PN reagiu durante a sessão e terminou com variação positiva de 0,03%, após cair 1,5% no pior momento, afetada pela queda dos preços do petróleo no exterior. Na véspera, Trump disse que vai declarar emergência energética nacional, com o objetivo de aumentar a produção de petróleo e gás dos EUA e reduzir os custos aos consumidores. PETROBRAS ON ainda fechou em queda de 0,84%.

– ITAÚ UNIBANCO PN encerrou em alta de 0,21%, em dia de variações positivas de bancos do Ibovespa. BANCO DO BRASIL ON subiu 0,9%, SANTANDER BRASIL UNIT avançou 0,28% e BRADESCO PN subiu 0,09. Analistas aguardam números de modo geral ainda positivos sobre o quarto trimestre no setor, mas um cenário mais difícil em 2025.

– XP INC, que é negociada em Nova York, caiu 4,84% em meio a ruídos envolvendo um suposto relatório desfavorável para o grupo financeiro. No pior momento, a ação chegou a cair 9%.