16/02/2001 - 8:00
Molho de chaves na mão, o empresário Henry Maksoud está em expedição pelos subterrâneos de sua torre de luxo, diversão e fortuna. Vinte e um anos atrás, quando foi inaugurada, despontou como a mais brilhante referência de hotel cinco estrelas do País. Hoje, está acossada pela concorrência das grandes redes internacionais. Com 73 anos, sob ingestão de 30 cápsulas diárias de nutrientes e com o passo rápido de um adolescente, seu criador empurra portas, questiona funcionários, denuncia erros no labirinto desconhecido pelos hóspedes, gente que tem proporcionado um faturamento mensal médio de R$ 4,3 milhões ao Maksoud Plaza Hotel. Próximo à lavanderia das cinco mil toalhas e três mil fronhas e lençóis que, lá em cima, se dividem pelos 416 apartamentos, lembra sem pressa como dobrou um banqueiro inglês, em Nova York, para conseguir um empréstimo de US$ 25 milhões para a obra. Depois de ter deixado com o filho Roberto a gerência do dia-a-dia do hotel, o velho e bom Henry assegura que voltou para ficar. ?Minha filosofia de trabalho é quase psicótica?, diz. ?Tenho de manter o hotel na vanguarda. Se querem dizer que sou chato, que digam.?
É fácil perceber que Maksoud se sente mais vivo, dinâmico e otimista quando percorre a obra que batizou com seu sobrenome de filho de imigrante libanês. ?Se você quer saber o que é stress, venha ao meu escritório?, diz ele ao funcionário que se apresenta queixoso. Cá estamos. O gabinete fica no primeiro andar do hotel. O empresário, agora, manuseia tabelas coloridas. A primeira nomina os oito maiores hotéis de luxo de São Paulo. Eles, Maksoud incluído, oferecem 2.389 apartamentos. O problema, para Henry, está na segunda tabela. Indica que oito novos hotéis a serem inaugurados nos próximos dois anos irão acrescentar mais 2.706 apartamentos nível A na cidade. Uma elevação de 113%. O empresário calcula que, enquanto isso, a demanda pelos quartos com diária mínima de R$ 300 vá crescer somente 4% no mesmo período. ?É o fim do mundo?, decreta. ?E há ainda os apart-hotéis, que têm as bandeiras dos meus competidores e pagam taxas municipais como se fossem imóveis residenciais. Está tudo errado, tudo, tudo.?
A cena de nervosismo faz lembrar dos tempos em que o engenheiro Maksoud, dono da Hidroservice e responsável nos anos do Brasil grande por megaobras como a barragem de Sobradinho, a usina de Itaipu e o Minhocão que corta a capital paulista, enveredou pelos caminhos da imprensa. Buscava influir. Montou a revista de economia Visão e teve durante quatro anos seu próprio programa de entrevistas na televisão. Sua vocação, porém, não estava ali. ?Uma vez, na revista, um dos meus chargistas fez um desenho do Cesar Cals (ex-ministro das Minas e Energia) com as orelhas tão grandes, que tive de chamá-lo para lembrar que o ministro também tinha família. Não publiquei.? No vídeo, levantava a voz em sobressaltos, irritava-se, esmurrava a mesa. Desistiu de lutar contra o vento e encaramujou-se em seus negócios. Não guarda saudades ou mágoas.
O hotel foi uma desapaixonada opção de negócios. Comprou o terreno próximo à Avenida Paulista, num dos pontos mais valorizados de São Paulo, das freiras enclausuradas do Convento de Santa Maria. Teve negado financiamento no BNDES, arrumou recursos no exterior e com seu amigo Magalhães Pinto, do finado Banco Nacional. Em 1980, pagou cachê de US$ 1 milhão e promoveu em seus salões recém-abertos cinco shows de Frank Sinatra, hóspede da espetacular suíte 2007. Carimbou no Maksoud a marca de lugar sofisticado. ?Foi uma tacada difícil e espetacular?, reconhece. Com o impulso, pagou um a um seus empréstimos e está no azul, ao contrário do que sugere o discurso sobre o fim do mundo. ?Hoje, tenho 53% dos quartos ocupados?, diz. No ano passado, investiu mais de R$ 2 milhões em tecnologia nos quartos. Todos têm Internet, estão com novos carpetes, cortinas e forração nos móveis. Seus 650 empregados, que já foram 850, sabem que o patrão é ?duro na queda?, na expressão de um maítre. Mas reconhecem que Maksoud é mesmo o homem certo no lugar certo.