Para a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória, a decisão do Banco Central de elevar a Selic para 13,25%, como o esperado, mostra que a gestão de Gabriel Galípolo vai seguir comprometida com o controle da inflação. Ela avalia, porém, que o governo enfrentará um dilema sobre como equilibrar um crescimento menor do PIB com uma inflação mais baixa em 2025.

“A tendência da inflação é cair lentamente com a alta de juros, mas isso vai esfriar o PIB. O governo terá que escolher entre um PIB mais alto ou uma inflação mais baixa, pois não há espaço para os dois no cenário atual”, afirmou.

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A reunião foi a primeira presidida por Galípolo no comando do BC e terminou com uma decisão unânime e sinalização de mais um aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros.

Confira a entrevista na íntegra

Qual a perspectiva para as próximas reuniões do Copom?

A perspectiva para a política monetária é de, ao menos, mais uma alta de 1 ponto percentual na reunião de março e, a partir de maio, o cenário é de incerteza. Nossa expectativa é de mais um aumento de 0,75 pontos percentuais e a Selic encerrando o ano em 15%. Acredito que foi um acerto deixar o cenário em aberto porque até maio muita coisa pode acontecer, inclusive uma paralisação do ciclo de alta.

Como analisar a posição do Galípolo nessa primeira reunião como presidente do BC?

O Galípolo já era membro do Copom nas reuniões anteriores. Isso significa que sua opinião sobre a política monetária já era conhecida e não houve mudança em sua postura ao assumir a presidência. Caso ele quisesse votar de forma diferente, isso teria sido percebido nas reuniões anteriores.

A consistência do comunicado, mesmo com a mudança na presidência, é uma boa notícia e reforça a percepção de que o Banco Central é uma instituição independente, que segue reagindo aos dados, como a aceleração da inflação.

Você acredita que o governo vai continuar tencionando com o Banco Central?

A melhor posição para o governo neste momento é de neutralidade, nem de críticas demais, nem de elogios. Nesse momento, o mercado ter uma percepção de que o Banco Central é independente é mais relevante do que ele estar alinhado ou não ao governo, que deve manter um tom neutro em relação à política monetária, assim como o Banco Central mantém um tom neutro em relação à política fiscal. Quando o governo critica o juro alto ele está admitindo que a política econômica não tem sido satisfatória. É importante que a inflação volte para o centro da meta neste momento.

O que o mercado espera da política fiscal do governo em 2025?

Algumas diferenças com relação a 2023 e 2024, com um menor aumento no gasto público, que vinham de crescimentos muito altos. Isso é baseado na proposta de Lei Orçamentária para 2025, que ainda não foi aprovada pelo Congresso, e nas medidas fiscais aprovadas em dezembro. Essa redução é vista como uma melhora no cenário fiscal para 2025, mas é insuficiente para controlar a inflação.

Para que haja uma melhora mais significativa, seria necessário um controle de gastos ainda mais rigoroso ou até mesmo medidas de corte de gastos, mas isso não deve acontecer.

Acredita que um crescimento menor do PIB por conta da Selic alta em um ano pré-eleitoral pode pode fazer com que o governo tome atitudes mais expansionistas?

O governo enfrenta um dilema sobre como equilibrar um crescimento menor do PIB com uma inflação mais baixa, pois não há espaço para ter um PIB mais forte com uma inflação baixa no cenário atual.

A inflação alta é prejudicial, especialmente para a população de baixa renda, e consequentemente afeta a popularidade do governo. O controle da inflação é crucial para evitar perda de popularidade e deterioração do cenário político visando as eleições de 2026. Por conta disso, o governo precisa ter cautela com novos estímulos.