29/01/2025 - 21:55
O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou nesta quarta-feira (29) a Selic, a taxa básica de juros da economia, para 13,25%, em sua primeira reunião sob a presidência de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um contexto de pressões inflacionárias.
Como havia sido previsto em dezembro, o Copom anunciou um aumento de um ponto percentual na Selic, o quarto consecutivo desde que um ciclo de ajustes foi iniciado em setembro.
Esta foi a primeira reunião do Copom com Gabriel Galípolo na presidência do Banco Central do Brasil (BCB), um economista de 42 anos considerado alinhado ao presidente Lula, que substituiu Roberto Campos Neto, indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
No comunicado, o comitê também antecipa um novo aumento da Selic — de um ponto percentual — em sua próxima reunião em março, “diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação”.
– ‘Contracionista’ –
Lula teve uma relação tensa com Campos Neto, e criticava o ex-titular do Banco Cebtral por sua postura reticente a baixar os juros.
Porém, diante da incapacidade para controlar a inflação, especialmente os preços dos alimentos encarecidos pelos efeitos das secas e inundações no Brasil no ano passado, o BCB decidiu por “uma política monetária mais contracionista”.
“Essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, diz a nota do Copom.
O Brasil fechou 2024 com uma inflação de 4,83%, acima da meta oficial que varia de 1,5% a 4,5%.
Os agentes financeiros consultados no boletim Focus do Banco Central estimam que a inflação chegará a 5,50% em 2025, contra 5,08% que previam há apenas uma semana.
– ‘Não desapareceu’ –
Com 13,25%, a Selic chega a seu nível máximo desde agosto de 2023 e é uma das taxas de juros mais elevadas do mundo.
O ajuste coincidiu com as estimativas de mais de uma centena de instituições e consultorias financeiras ouvidas pelo jornal econômico Valor.
O BCB elevou a Selic em 0,25% em setembro, 0,5% em novembro e 1 ponto percentual em dezembro.
Em agosto de 2023, tinha iniciado um ciclo de cortes progressivos, depois de um ano sem mudanças no patamar de 13,75%, que respondia ao aumento de preços pós-pandemia de covid-19.
Desde junho de 2024, quando chegou a 10,50%, se manteve estável até voltar a subir em setembro.
Lula se opõe categoricamente à elevação da Selic, argumentando que os juros elevados impedem o crescimento ao encarecerem o crédito para consumidores e investidores.
Mas o aumento da taxa básica ajuda a reduzir as pressões sobre os preços ao longo do tempo, reduzindo o consumo.
No contexto internacional, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) manteve suas taxas de juros inalteradas nesta quarta, na faixa entre 4,25% e 4,50%, sem ceder às pressões do presidente Donald Trump, que pedia novos cortes.
Diante desta nova situação econômica e política dos Estados Unidos, o “ambiente externo permanece desafiador”, assinalou o BCB.
O Brasil registrou entre setembro e novembro a taxa de desemprego mais baixa em 12 anos (6,1%) e, no terceiro trimestre de 2024, o crescimento econômico chegou a 4% em 12 meses.
Mas o governo Lula enfrenta a desconfiança dos investidores pela expansão do gasto público.
Seu plano de ajuste fiscal anunciado em novembro não conseguiu apaziguar o mercado pois, ao mesmo tempo, o governo anunciou uma redução do imposto de renda para a classe média.
“Talvez o mais importante, a preocupação pelas contas públicas não desapareceu”, assinalou Jason Tuvey, da firma Capital Economics.
A menos de dois anos do fim de seu terceiro governo, a popularidade de Lula caiu para 47%, segundo a pesquisa Quaest publicada esta semana.