A imposição de tarifas pelo governo norte-americano que derrubas as bolsas internacionais contamina o Ibovespa na sessão desta segunda-feira, 3, a primeira de fevereiro. O quadro é de aversão a risco geral nesta manhã no exterior, tendo já começado na Ásia onde as bolsas cederam quase 3%. Aqui, o dólar avança e os juros futuros cedem, ajudando em parte algumas ações de empresas exportadoras e mais sensíveis ao ciclo econômico, respectivamente.

Além de avaliar os desdobramentos da decisão – agora oficial – do presidente dos Estados Unidos de impor tarifas de 25% ao Canadá e ao México e de 10% à China, investidores no Brasil olham a nova rodada de piora no boletim Focus para IPCA e Selic, principalmente.

Ao longo da semana, a agenda tem dados e eventos importantes que poderão mexer com os negócios, como a ata do Copom, início da temporada de balanços no Brasil e o payroll nos EUA.

Ao mesmo tempo o mercado foca no Legislativo, em meio ao fim do recesso parlamentar, e após a vitória de Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para a presidência do Senado, de Hugo Motta (Republicanos-PB), que dirigirá a Câmara.

As atenções tendem a ficar nas pautas do governo que precisam avançar, como as fiscais. “Ruídos políticos tendem a se intensificar com a volta do Congresso”, estima Alvaro Bandeira, coordenador de Economia da Apimec Brasil.

Contudo, para o estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, como Alcolumbre e Mota tiveram o apoio do governo, há expectativa de avanço nas pautas do Planalto que estão paradas. “Eles são mais pró-governo do que a gestão passada. O mercado vê isso como positivo”, avalia.

A tendência é que o Ibovespa siga o comportamento dos ativos internacionais, podendo perder parte da recuperação da semana passada, de 3,01%, conquistada “a duras penas”, avalia Bandeira.

Ainda assim, o recuo é inferior ao visto no exterior, dado em parte à expectativa de avanço na agenda do Executivo e também porque o Brasil não deve ser afetado diretamente, por ora, pelo tarifaço imposto por Trump.

“O País ainda não foi lembrado, mas se houver aplicação de tarifas sobre aço vai afetar”, estima Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos. Segundo ele, o governo americano pode ainda intensificar as medidas tarifárias e, além disso, há temores relacionados à pretensão dos EUA de deixar de apoiar a agência de ajuda humanitária. Desta forma, pode-se atrair novos ataques em rotas de transporte marinho, o que seria desfavorável mundialmente, sobretudo ao Brasil.

Outro ponto é o temor de mais inflação no globo com as tarifas, o que, conforme Cruz, poderia dificultar um novo recuo de queda do juro básico americano e quem sabe até o Banco Central brasileiro, que já enfrenta um cenário de inflação resiliente.

Para Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos, a dificuldade agora é entender como essas tarifas, principalmente para a China, afetarão o Brasil, dado que o pais asiático cresce menos do que em 2017, primeira gestão de Trump. “Pode-se pensar que a China direcione suas importações para outros lugares, mas a questão é que o país tem mostrado um crescimento menor do que no passado”, avalia.

Ou seja, por ora, os efeitos tendem a ser indiretos. Assim, o Ibovespa cai menos do que outros mercados de ações. Além disso, outro fator que limita o efeito negativo no Índice Bovespa é a ausência dos mercados chineses, que seguem em feriado do Ano Novo Lunar. Importante pontuar que os 10% taxados à China estão aquém dos 60% prometidos por Trump durante a campanha no ano passado.

Na sexta-feira o Ibovespa fechou em baixa de 0,61%, aos 126.134,94 pontos, com ganhos de 4,86% em janeiro.

Às 11h27 desta segunda-feira, o Ibovespa caía 0,17%, aos 125.914,68 pontos, ante recuo de 0,45%, na mínima aos 125.566,40 pontos, vindo de máxima de abertura de 126.134,94 pontos.

Petrobras perdia entre 0,21% (PN) e 0,74% (ON), apesar da alta do petróleo, enquanto Vale recuava 0,42%, mas Gerdau subia 1,68% e Gerdau Metalúrgica, 1,29%. Outras ações ligadas ao dólar são destaques de alta, caso de JBS com 2,45%, e relacionadas ao consumo: Natura (2,06%) e Automob (3,23%).

O dólar à vista tinha alta de 0,94%, a R$ 5,8914. Em Nova York, os índices futuros cediam até 1,73% (Nasdaq).