03/02/2025 - 20:08
O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, declarou no início da noite desta segunda-feira, 3, que as tarifas de 25% impostas pelos Estados Unidos, sob ordem executiva de Donald Trump, serão adiadas por pelo menos 30 dias após o canadense prometer mais cooperação na fronteira.
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Trump havia prometido que as tarifas impostas às importações canadenses entrariam em vigor a partir desta terça-feira, 4. Mas a decisão foi suspensa, segundo o Canadá, após uma ligação entre Trump e Trudeau nesta segunda-feira.
Em uma declaração na plataforma social X, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau disse que em uma ligação com Trump, ele prometeu cooperação adicional na segurança da fronteira.
“As tarifas propostas serão pausadas por pelo menos 30 dias enquanto trabalhamos juntos”, disse Trudeau. Ele afirmou que o Canadá seguiria adiante com seu plano de reforço de fronteira de 1 bilhão de dólares canadenses (US$ 680,9 milhões), e implantaria tecnologia e equipe adicionais.
O premiê canadense ainda disse que o Canadá nomearia um “czar do fentanil” e iria “listar cartéis como terroristas, garantir vigilância 24 horas por dia, 7 dias por semana na fronteira, lançar uma Força de Ataque Conjunta Canadá-EUA para combater o crime organizado, o fentanil e a lavagem de dinheiro”.
Logo após o anúncio de Trudeau, Trump confirmou no Truth Social que ele pausará a ameaça de impor tarifas “para ver se um acordo econômico final com o Canadá pode ser estruturado”.
Acordo semelhante ao do México
Trump havia determinado no sábado que tarifas de 25% sobre a maioria das importações dos dois parceiros americanos – e 10% sobre produtos energéticos canadenses – entrassem em vigor à meia-noite de terça-feira. As duas nações ameaçaram retaliações próprias, aumentando as perspectivas de uma guerra comercial regional mais ampla.
Mais cedo, Trump acusou o Canadá de tratar mal os Estados Unidos em suas relações comerciais. Ele cobrou de Trudeau que os bancos americanos tenham acesso ao mercado financeiro do país, o que hoje é vedado pela restrita legislação local.
Em uma conversa com jornalistas no Salão Oval da Casa Branca antes da ligação, Trump adotou uma posição agressiva e disse que os Estados Unidos não precisavam do Canadá para fabricar carros ou comprar madeira, dizendo mais uma vez que gostaria de ver o país se tornar o 51º Estado americano.
“Não somos bem tratados pelo Canadá. Por exemplo, os bancos não têm permissão para fazer negócios no Canadá. O Canadá é muito duro”, disse Trump.
Questionado na entrevista se havia algo Trudeau poderia oferecer para evitar as tarifas, Trump disse que não sabia. “Temos grandes déficits com o Canadá, como temos com todos os países.”
Trump ainda desdenhou dos produtos canadenses importados pelos EUA. “Não precisamos deles para construir nossos carros. Eu preferiria que Detroit, a Carolina do Sul ou qualquer um de nossos estados do Tennessee construíssem os carros. Eles poderiam fazer isso com muita facilidade. Não precisamos deles para os carros. Não precisamos deles para a madeira. Não precisamos deles para nada”.
O telefonema com Trudeau – bem como as conversas que ele espera ter nas próximas 24 horas com o líder chinês Xi Jinping, cujo país também é alvo de Trump – se segue a um acordo alcançado com o México que suspendeu as tarifas em troca de uma maior vigilância militar da fronteira do lado mexicano.
A presidente do México, Claudia Sheinbaum, após o que chamou de “uma boa conversa”, disse que o México reforçará imediatamente a fronteira norte com 10.000 membros da Guarda Nacional para prevenir o tráfico de drogas do país para os Estados Unidos, especialmente fentanil, segundo registro na rede social X.
Os Estados Unidos estão empenhados em trabalhar para prevenir o tráfico de armas potentes para o México. “Nossas equipes começarão hoje a trabalhar em duas frentes: segurança e comércio”, afirmou.
O acordo foi firmado dois dias depois que Trump também anunciou tarifas. O presidente disse que imporia as tarifas até que os países aliviassem o fluxo de migrantes e drogas, especialmente o fentanil, para os Estados Unidos.
Embora Trump tenha incluído uma isenção parcial para as exportações canadenses de energia e petróleo, com tarifas de 10%, ele reconheceu no fim de semana que suas tarifas, que abrangem países que respondem por mais de um terço dos produtos trazidos para o país, poderiam causar “alguma dor” para os consumidores.
O Canadá já havia anunciado taxas retaliatórias de 25% sobre os produtos americanos. Além disso, produtos americanos começaram a ser boicotados em lojas americanas por iniciativa de alguns canadenses críticos a Trump.
A China, por sua vez, prometeu entrar com um processo contra os Estados Unidos na Organização Mundial do Comércio e tomar “contramedidas correspondentes” em resposta às tarifas que poderiam aumentar o custo dos produtos on-line.
Indústria automotiva mexicana comemora suspensão, mas admite incerteza
A indústria automotiva mexicana comemorou a pausa de um mês nas tarifas de 25% que os Estados Unidos impuseram ao México, embora tenha sinalizado que a incerteza permanecerá nos próximos anos.
O setor teria sido um dos mais afetados caso os impostos alfandegários entrassem em vigor a partir de terça-feira, como estava previsto, segundo analistas.
“[Vemos isso] de forma muito positiva porque está sendo compreendida a importância que se tem para as economias dos três países, inclusive do mundo”, disse à AFP Francisco González, presidente-executivo da Indústria Nacional de Autopeças (INA), em referência a Canadá, EUA e México, parceiros do acordo comercial T-MEC.
Apesar disso, o executivo destacou que a incerteza no setor persistirá “nos próximos anos”.
“Já é um mundo que não tem as regras tão claras como antes, temos que nos acostumar a trabalhar dessa forma e também ser suficientemente flexíveis e inteligentes para ter as respostas certas no momento certo” explicou.
O setor automotivo exportou US$ 36 bilhões (R$ 174 bilhões, na cotação da época) para os Estados Unidos em 2023 e representa 5% do PIB do México, de acordo com a empresa britânica Capital Economics.
Somente o setor de autopeças emprega cerca de 480.000 pessoas no México.
A INA alertou que as tarifas levariam a um aumento de US$ 3.000 (quase R$ 18.000) no “preço médio dos carros” nos EUA, bem como a uma redução de um milhão de unidades vendidas até 2025.
González também afirmou que o setor está se preparando para a próxima revisão do T-MEC, programada para 2026.
“Temos que começar a negociar as novas tecnologias, a parte de conectividade, segurança cibernética, software. Isso envolve muito mais semicondutores, outros tipos de tecnologias, que não estão incluídos no T-MEC”, declarou.
*Com informações da AFP