O Banco Central elencou a desancoragem das expectativas de inflação, o grau de sobreaquecimento da economia e o impacto de políticas econômicas sobre o câmbio como riscos relevantes para o debate de política monetária, mostrou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

No documento, a autarquia apontou que, ainda que parte dos riscos de alta para os preços à frente tenha se materializado, o Comitê julgou que eles seguem presentes.

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“Um tema de risco recorrente no debate do Comitê tem sido a desancoragem das expectativas de inflação, inclusive para prazos longos”, disse o BC no documento divulgado nesta terça-feira.

“Outro risco bastante presente é com relação ao grau de sobreaquecimento da economia, em particular, seus efeitos sobre a inflação de serviços… Há também um risco à alta da inflação relativo à condução de políticas econômicas interna e externa, com impacto primordial por meio da taxa de câmbio.”

Na ata, o BC também informou que a efetivação de determinadas políticas nos Estados Unidos pode pressionar os preços de ativos domésticos. Veja aqui a ata do Copom na íntegra.

Na última quarta-feira, o Copom decidiu seguir o ritmo de aperto nos juros já previsto ao elevar a taxa Selic em 1 ponto percentual, a 13,25% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, e manteve a orientação de mais uma alta equivalente em março, deixando os passos seguintes em aberto.

Na ata, o BC informou que a efetivação de determinadas políticas nos Estados Unidos pode pressionar os preços de ativos domésticos. O documento ponderou que pode haver pressão de baixa nos preços caso não se materialize o cenário de medidas prometidas pelo governo Donald Trump, que já se incorporaram em preços de ativos.

A autarquia apontou elevada incerteza sobre a política econômica norte-americana, citando dúvidas sobre possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho, introdução de tarifas à importação e reorientações da matriz energética, “o que pode impactar negativamente as condições financeiras e os fluxos de capital para economias emergentes”.

No entanto, o Comitê apontou a possibilidade de uma desaceleração mais forte da atividade no Brasil, algo que poderia gerar impactos desinflacionários. Mas ponderou que seu cenário-base já contempla uma desaceleração e que não há evidência de desaceleração abrupta.

BC prevê estouro da meta em junho

O BC ressaltou que as projeções de seu cenário de referência apontam que a inflação acumulada em doze meses permanecerá acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos, configurando descumprimento do alvo em junho.

No novo regime de metas, válido a partir deste ano, o alvo segue em 3%, com margem de 1,5 ponto percentual, mas sua medição deixou se ser no fim do ano calendário, passando a haver descumprimento se a inflação permanecer fora da tolerância por seis meses consecutivos.

Para as avaliações à frente, o BC disse que acompanhará o ritmo da atividade econômica, “fundamental na determinação da inflação”, o repasse do câmbio para os preços e as expectativas de mercado.

Na ata, a autoridade monetária afirmou que o mercado de crédito se manteve pujante, mas os financiamentos bancários têm apresentado alguma inflexão. Em outro sentido, o mercado de títulos privados segue mais forte que o esperado, apontou.

O Copom ainda reafirmou que a percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida pública seguiu impactando de forma relevante os preços de ativos, defendendo uma harmonização entre as políticas fiscal e monetária.

Queda da atividade e disciplina fiscal podem significar fim do ciclo mais próximo

Em se tratando do aperto monetário, especialistas discutem quais variáveis podem fazer o Copom encerrar mais cedo ciclo de alta dos juros.

A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitoria, comenta que o mercado deve ficar mais atento, até a reunião de maio, aos indicadores econômicos que podem sinalizar uma mudança nos rumos de política monetária.

“Uma queda mais forte da atividade no Brasil combinada com um fiscal mais disciplinado em 2025 pode significar que o fim do ciclo estaria mais próximo, inclusive com um risco da taxa final ficar em 14,25%”.

Sobre a Ata do Copom, analisa que ‘não houve novidade’ em relação ao comunicado, confirmando a indicação de nova alta na taxa de juros em 1 ponto percentual (p.p.) na próxima reunião e deixando em aberto os próximos passos, sem indicar a magnitude total do ciclo.

“Na nossa visão, os três pontos tem relação com a forte expansão dos gastos públicos nos últimos dois anos, e a disciplina fiscal a partir de 2025 será fundamental para a convergência mais rápida da inflação para a meta, dando potência para a política monetária, que já está em patamar bastante restritivo mas com efeito limitado devido à expansão fiscal”, comenta, sobre a Ata do Copom.