O dólar completou nesta terça-feira, 4, a 12ª sessão consecutiva de queda no Brasil, encerrando abaixo dos 5,80 reais pela primeira vez este ano, com as cotações acompanhando o recuo quase generalizado da moeda no exterior em meio a novos dados do mercado de trabalho dos EUA e aos desdobramentos das disputas tarifárias entre países.

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O dólar à vista fechou em baixa de 0,76%, aos 5,7719 reais, a menor cotação desde 19 de novembro do ano passado, quando encerrou em 5,7679 reais.

Apesar do movimento contido em algumas sessões, desde 17 de janeiro o dólar não fecha um dia em alta, totalizando agora 12 sessões consecutivas em queda. Esta é a maior sequência negativa em 20 anos, desde o período entre 24 de março e 13 de abril de 2005, quando o dólar fechou em baixa por 14 sessões consecutivas.

Em 2025 a moeda norte-americana acumula baixa de 6,59%. Veja cotações.

Às 17h06 na B3 o dólar para março — atualmente o mais líquido no mercado brasileiro — cedia 0,68%, aos 5,7975 reais.

O dólar no dia

O mercado de câmbio repetiu nesta terça-feira um roteiro comum nas últimas sessões, com o dólar ensaiando altas no início do dia, mas migrando para o território negativo ao longo da sessão.

Desta vez as cotações despencaram perto do meio-dia, com a divulgação de números sobre o mercado de trabalho norte-americano. O Departamento do Trabalho dos EUA informou que as vagas de emprego em aberto — uma medida da demanda por mão de obra — diminuíram em 556.000, para 7,6 milhões no último dia de dezembro, conforme o relatório Jolts. Economistas consultados pela Reuters haviam previsto 8,0 milhões de vagas em aberto em dezembro.

Os números sugeriram que o mercado de trabalho dos EUA pode estar desaquecendo, o que é uma boa notícia sob o ponto de vista do controle da inflação — daí a perda de força dos rendimentos dos Treasuries e, em paralelo, do dólar ante várias divisas.

O enfraquecimento global do dólar esteve ligado também à leitura de que as tarifas anunciadas pelos EUA contra México, Canadá e China no fim de semana estão sendo usadas dentro de uma estratégia de negociação e que não serão necessariamente levadas a cabo.

Na segunda-feira, os EUA já haviam anunciado a suspensão por 30 dias das tarifas aplicadas ao México e ao Canadá, para negociação entre os países. Nesta terça-feira foi a vez de a China anunciar uma série de medidas de retaliação aos EUA — mas com prazo para começar apenas em 10 de fevereiro, em uma clara brecha para que o presidente norte-americano, Donald Trump, negocie até lá.

“Esta guerra comercial acabou dando um fôlego para os países emergentes, que tiveram suas moedas ganhando um pouco de espaço”, comentou durante a tarde Lucélia Freitas Aguiar, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

Operador ouvido pela Reuters pontuou que, com o presidente dos EUA, Donald Trump, aparentemente mais maleável com a questão das tarifas, o dólar cedeu no exterior e deixou investidores no Brasil “sem motivos para comprar” a moeda.

Neste cenário, após marcar a cotação máxima de 5,8279 reais (+0,21%) às 9h14, pouco depois da abertura, o dólar à vista atingiu a mínima de 5,7563 reais (-1,02%) às 13h54.

A queda do dólar contribuiu para o recuo das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) com prazos mais longos, em um dia de divulgação da ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central.

No fim da manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o recente movimento de queda do dólar “ajuda muito” no combate à inflação.

“O dólar estava 6,10 reais e está 5,80 reais, isso já ajuda muito…Com a ação do Banco Central e a ação do Ministério da Fazenda, essas variáveis macroeconômicas se acomodam em outro patamar e isso certamente vai favorecer”, afirmou.

Pela manhã, o Banco Central vendeu, em sua operação diária, 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 5 de março de 2025.

Às 17h25 o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,57%, a 107,960.