O Ibovespa não acompanhou a relativa melhora da percepção de risco global, que colocou o dólar a R$ 5,75 na mínima desta terça-feira, 4, em dia no qual a ata do Copom corrigiu o tom um tanto ameno que havia sido observado no comunicado da reunião da semana passada sobre a Selic. No cenário externo, após o entendimento temporário entre Estados Unidos, México e Canadá – de suspensão das tarifas bilaterais que haviam sido impostas a princípio pelo governo Trump -, a percepção é de que a trégua dos americanos se estenda também à China, apesar de a conversa entre Xi Jinping e o presidente dos EUA, prevista para hoje, ter sido adiada.

Em outro desdobramento positivo, o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, reiterou a importância da relação econômica bilateral com a União Europeia, em ligação com a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, conforme comunicado divulgado nesta tarde pela Casa Branca. Bessent e Lagarde tiveram uma reunião “introdutória” para discutir prioridades econômicas compartilhadas e áreas políticas de interesse mútuo, além de cooperação entre os Estados Unidos e a União Europeia.

Ainda assim, o Ibovespa fechou em baixa de 0,65%, aos 125.147,42 pontos, entre mínima de 124.694,19 e máxima de 125.964,36 pontos na sessão, correspondente ao nível de abertura. O giro desta terça-feira ficou em R$ 19,8 bilhões. No agregado das duas primeiras sessões de fevereiro, o Ibovespa acumula perda de 0,78%, após avanço de 4,86% ao longo de janeiro – mês em que a B3 atraiu R$ 6,8 bilhões em recursos estrangeiros, em ingressos líquidos. Em Nova York, os principais índices de ações registraram ganhos entre 0,30% (Dow Jones) e 1,35% (Nasdaq) nesta terça-feira. Aqui, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 0,75%, a R$ 5,7724.

“O câmbio tem se ajustado para baixo dólar frente ao real já faz 12 sessões, e surpreende pelo grau da correção. Até se esperava que pudesse haver queda do dólar, mas o ajuste permanece condicionado a que haja, de fato, acordo dos Estados Unidos com o Canadá e o México, além da China”, diz Fábio Astrauskas, economista e CEO da Siegen. “Há uma certa acomodação no sentido de que se evite uma guerra comercial, que havia sido lançada pelo Trump. A queda do dólar com a mesma rapidez com que subiu no fim do ano passado surpreende. É uma mudança rápida de jogo. Se esperava um capítulo mais sangrento com relação ao câmbio.”

No Brasil, “a ata do Copom deixou a Bolsa um pouco mais arisca desde a abertura, não dando qualquer sinalização quanto ao início do ciclo de queda da Selic, e apontando ainda os riscos inflacionários”, diz Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacando a queda de quase 1% para o Ibovespa no começo do pregão, em que o índice operou em baixa desde a abertura.

Contrabalançado o efeito negativo da ata, os dados desta terça-feira sobre o giro de mão de obra nos Estados Unidos – o relatório Jolts, métrica sobre o mercado de trabalho acompanhada de perto pelo Federal Reserve – vieram abaixo do esperado, no momento em que se teme que a política protecionista de Trump terá efeito sobre o nível de juros por lá.

Para Dante Araújo, economista da Valor Investimentos, a ata do Copom mostrou “cautela” quanto ao cenário externo enquanto se aguardam desdobramentos em torno da política econômica colocada em andamento pelo novo governo americano. “Há possibilidade de inflação mais alta e de desaceleração da economia dos EUA, em ritmo incerto, com efeito não apenas para o Brasil, mas também para os demais emergentes”, diz. Além disso, “o Copom ainda mostra preocupação com a desancoragem das expectativas de inflação no Brasil”, acrescenta Araújo, observando que dados de atividade sugerem a persistência de economia doméstica aquecida.

“A ata do Copom veio em tom mais duro do que o visto no comunicado, com o mercado buscando destrinchar a forma de comunicação deste novo BC sem Roberto Campos Neto, agora sob o comando de Gabriel Galípolo”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. “Dia foi um pouco mais lateralizado para a Bolsa, descolada do exterior, com melhora do humor lá fora por conta do recuo de Trump com relação a tarifas para o México e o Canadá”, acrescenta.

Na B3, entre as ações de maior peso e liquidez, apenas alguns nomes do setor bancário se decolaram de perdas nesta terça-feira, como BB (ON +0,58) e Itaú (PN +0,36%). No dia seguinte ao relatório de produção do quarto trimestre de 2024, as ações da Petrobras fecharam em baixa (ON -1,26%, PN -0,99%). Vale ON, por sua vez, recuou 0,35%. Na ponta perdedora do Ibovespa, Automob (-6,25%), Suzano (-4,05%) e Azul (-3,92%). No lado oposto, Braskem (+3,89%), Natura (+2,83%) e Sabesp (+1,46%).