O CEO da ArcelorMittal no Brasil, Jefferson De Paula, enxerga ‘um problema seríssimo’ na postura protecionista que consiste elevação nas taxas sobre importações de aço e alumínio por parte dos Estados Unidos, citando os efeitos que essa política tende a desencadear – já que a China poderia redirecionar suas exportações para outros países e trazer impactos diretos para a economia brasileira.

A fala faz referência a uma eventual taxação mais intensa aos produtos chineses, que não fora adotada por ora – a Casa Branca se limitou a tarifas de 25% que entram em vigor em março.

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O executivo da ArcelorMittal – que é a maior produtora de aço do Brasil, com 42% da produção nacional – explica que uma eventual imposição de tarifas mais pesadas à China poderia gerar impactos globais – e parte do problema estaria atrelado à sobrecapacidade de produção industrial e de aço do país asiático.

“O governo [brasileiro] vai ter que estar atento a isso, porque se houver inundação de produtos industriais e o aço estiver nesse ‘bolo’, com uma importação muito grande ocorrendo tanto no Brasil quanto em outros países, nós vamos receber muitos produtos e isso vai afetar as empresas brasileiras. Nesse cenário, as empresas vão cortar investimentos [no Brasil]”, afirma o CEO da AcelorMittal.

O CEO participou do Dinheiro Entrevista, série do site IstoÉ Dinheiro. A entrevista com o executivo foi gravada ainda antes de Trump assumir a presidência dos EUA. Procurada para comentar as tarifas anunciadas por Trump para o aço brasileiro, a ArcelorMittal não quis se pronunciar e disse que trata do assunto via Instituto Aço Brasil.

Em nota divulgada nesta terça-feira, 11, o instituto disse que ‘recebeu com surpresa a decisão do governo dos Estados Unidos’ e defendeu as diretrizes do acordo comercial de 2018.

Durante a entrevista, De Paula destacou que a China já vem encontrando dificuldades para colocar o seu aço no mercado global, uma vez que a Europa impôs 25% de imposto de importação e os EUA já haviam colocado uma taxa de 25% desde a época do primeiro mandato de Trump.

“O aço é vendido para a fabricação de produtos industrializados. Se o governo americano impõe 60% de impostos no aço e em produtos industriais, a China vai ter de exportar para outros lugares, tanto o aço quanto os produtos ‘terminados’. Vai ocorrer um problema seríssimo nos outros países que não os Estados Unidos, por conta dessa sobrecapacidade da China”, diz.

O executivo afirma que o Instituto Aço Brasil tem dialogado com o Planalto e colocado a questão como uma das prioridades para a economia doméstica e para as empresas brasileiras produtoras de aço.

Em meados de maio de 2024 o governo firmou uma cota máxima para importação de aço para o Brasil, fazendo com que acima de um determinado volume o imposto suba de 12% para 25%. De Paula disse que essa medida ajudou o setor, mas ‘não resolveu o problema’.

Segundo ele, o volume de importação de aço pelo Brasil cresceu 24% em 2024, após ter saltado 50% em 2023.

“Em 2020 a importação era de cerca de 2 milhões de toneladas de aço. Em 2024 fica próximo de 5 milhões de toneladas. Ou seja, de 2020 a 2024 saltou de 2 milhões para 5 milhões. A situação é muito difícil, o governo sabe e tem conversado com a associação de aço aqui no Brasil. Fizemos um sistema que não está funcionando e estamos conversando para chegar a um novo sistema, que então funcione”, destaca.

EUA são principal destino de aço brasileiro

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) apontam que os EUA são o principal destino do aço brasileiro que sai do país para exportação.

Um relatório produzido pelo Instituto Aço Brasil, a partir de dados da pasta, apontam que foram enviados aos EUA 5,81 bilhões de quilos do metal, a maior quantidade enviada para um único país em 2024. Essa quantia, em valores financeiros, representa US$ 4,14 bilhões.

Logo em seguida, os maiores destinos são Mercosul (US$ 702 milhões) e União Europeia (US$ 644 milhões). Segundo o relatório do instituto, o Brasil é o maior produtor de aço na América Latina e o sétimo maior no mundo.

Dólar alto não favorece ArcelorMittal

Questionado sobre um eventual impacto positivo de um dólar mais alto, De Paula explica que na verdade, no fim das contas, o câmbio depreciado é ruim até mesmo para as exportadoras.

O executivo detalha que o dólar mais estressado gera um efeito em cadeia que diminui o crescimento econômico e o consumo de uma série de produtos.

“Eu diria que é ruim. É ruim para o país e, por ventura, também para a indústria de aço. Uma empresa que exporta muito, logicamente terá um cenário melhor, mas para a indústria de aço, o mercado interno é o mais importante”, explica.

“O que ocorre é que quando se exporta com real desvalorizado há uma rentabilidade maior, só que o real desvalorizado aumenta inflação, e com isso os juros sobem e o país começa a não crescer. Não crescendo, nós vamos vender menos aço no mercado interno. No final das contas é muito ruim para o Brasil e para empresas de aço que tem como foco o mercado brasileiro”, diz.

Atualmente a empresa direciona 60% da sua produção brasileira para o mercado interno e exporta os demais 40%. Contudo, desses 40%, metade são exportações de semiacabados, que são revendidos em países como Canadá e Estados Unidos.

Olhando para rentabilidade, o mercado interno possui uma fatia ainda maior, representando 80% do faturamento da ArcelorMittal.

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