Apesar de uma valorização no início de 2025, as ações da Vale ainda acumulam uma queda de mais de 13% em uma janela de 12 meses. Desde maio de 2021, os papéis da mineradora tiveram seu preço cortado pela metade.

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O mau desempenho recente das ações da Vale reflete volatilidade com o preço do minério de ferro e discussões sobre a efetividade dos estímulos na economia da China. Junto com isso, questões sobre governança também abalaram a cotação de VALE3 há cerca de um ano.

Com essa soma de fatores, o mercado vê de forma praticamente consensual que os papéis da mineradora estão relativamente baratos – todavia ainda não ocorreu uma pressão compradora que impulsione os preços, e há uma discussão de quais gatilhos podem causar isso.

Fernando Fontoura, gestor da Persevera Asset, relata que a casa montou uma posição há poucas semanas nos papéis, vendo os preços como extremamente atrativos. Além disso, cita que uma entrada de capital estrangeiro poderia impulsionar os papéis, dado que ‘gringo gosta de Vale e se expõe ao Ibovespa’.

“Eu acho que dificilmente você vai achar no mercado alguém que não acha Vale barata. É uma percepção que, na verdade, se estende pra maior parte dos papéis da bolsa. A discussão do papel é bastante centrada no valuation. Por esse ângulo acho que é consensual, a maior parte vê como barato, mas não é só por isso que estamos comprando. Nós enxergamos é um posicionamento técnico favorável. É um papel que essencialmente é um player de China, todo mundo enxerga isso”, analisa.

“Entendemos claramente que o papel está barato, mas vemos poucos investidores aqui do Brasil posicionados”, completa.

A tese é de que os drivers que estavam atrelados ao dragão asiático estão ‘ultrapassados’ e já não fazem tanto sentido. Em suma, o que fez pressão baixista para o papel já se dissipou, mas o preço não voltou ao que era antes.

Preços internacionais das commodities

Segundo Fontoura, o preço do minério de ferro não deve ‘ir para muito longe’ de US$ 100, o que considera um patamar que mantém a operação da empresa rentável.

Lucas Laghi, analista e Head de Mineração e Siderurgia da XP, comenta que apesar de a casa manter recomendação neutra para o papel, enxerga uma assimetria positiva.

Sobre a volatilidade atrelada ao ‘fator China’, comenta que o que ocorreu foi pois o mercado ‘acabou se animando bastante’ com expectativas de mais estímulos nos últimos meses, mas que acabaram desapontando ante o que efetivamente foi anunciado.

“Hoje, apesar da situação macro não ter mostrado melhora significativa, notamos alguns sinais de estabilização para o setor imobiliário na China (tradicionalmente um grande setor consumidor de minério)”, aponta.

A visão do especialista é de que, estruturalmente, o preço de minério deveria convergir para um patamar menor – ficando entre US$85 a US$ 90 a tonelada – principalmente após a entrada de capacidades relevantes como a de Simandou.

“No curto-prazo, não vemos uma razão clara para correção dos preços da commodity para patamar abaixo de US$90 por tonelada”, comenta.

Prejuízo que é visto com bons olhos

A mineradora divulgou seu resultado trimestral referente ao quarto trimestre de 2024 nesta semana, na quarta-feira, 19, após o fechamento de mercado. E os resultados vieram aquém do esperado pelo mercado. Todavia, os papéis da empresa responderam positivamente no pregão que sucedeu a divulgação do resultado, com alta de mais de 3,5%.

A companhia reportou prejuízo líquido de US$ 694 milhões, com Ebitda de US$ 4,1 bilhões e receita líquida de US$ 10,1 bilhões. Ou seja, todas as linhas finais vieram aquém do esperado.

A empresa justificou o impacto no bottom line do resultado pelo impacto do reconhecimento da redução ao valor recuperável de US$ 1,4 bilhão relacionada às operações de níquel de Thompson e de US$ 540 milhões relacionados ao projeto de Extensão da Mina de Voisey’s Bay, que ocorreram ‘após uma revisão abrangente dos ativos’.

O que animou o mercado foram outras linhas do resultado da Vale, além do anúncio de remuneração aos acionistas – com a empresa anunciando cerca de US$ 2 bilhões em dividendos, incluindo US$ 500 milhões em pagamentos extraordinários.

Além dos proventos, a empresa também comunicou uma redução da orientação de Capex de 2025 para US$ 5,9 bilhões, de US$ 6,5 bilhões antes.

Por fim, a mineradora abriu um novo programa de recompra de 120 milhões de ações (3% das ações em circulação) – movimento que geralmente é visto pelo mercado como um forte sinalizador de que os papéis de uma empresa estão descontados e operando a múltiplos atrativos.

O BTG Pactual, que tem recomendação neutra para as ADRs da Vale, avalia que o resultado foi ‘decente’, citando que apesar do impacto nas linhas finais, o controle de custos foi um ponto positivo.

“Considerando tudo, a Vale entregou um conjunto decente de resultados, atendendo amplamente às expectativas de consenso. O Ebitda saiu em US$ 4,1 bilhões, 4% acima da nossa projeção em em linha com o consenso compilado da empresa. Nós creditamos a pequena variação em nossos números ao melhor controle de custos do minério de ferro do que o esperado”, diz a casa.

O BBA, que recomenda compra das ADRs da Vale, vê o balanço com positivo, também frisando que o Ebitda superou as projeções da casa por conta de custos controlados.

“O desempenho sequencial mais forte pode ser atribuído ao consumo de estoques do trimestre anterior a custos mais baixos, o impacto positivo da depreciação do Real ante o dólar e os benefícios do programa de eficiência . Os custos de equilíbrio entregues na China (excluindo o capex de manutenção) diminuíram em US$ 5,6 por tonelada na base trimestral”, apontam os especialistas do banco.

Em análises sobre o balanço, analistas também acenam para expectativas de que a companhia ganhe tração operacional em 2025.

“Com a maioria dos balanços da empresa já concluídos, acreditamos que o desempenho de custo de produção da Vale e sua flexibilidade de portfólio (com as vendas de produtos de maior valor agregado) aumentarão a competitividade da empresa ao longo de 2025. Dito isso, embora reiteramos nossa recomendação neutra pelo upside limitado, vemos uma assimetria positiva para as ações aos preços atuais da Vale“, diz a XP.

Lucro da Vale foi o menor em 4 anos

Conforme levantamento da Elos Ayta Consultoria, o lucro acumulado da Vale em 2024 foi de R$ 31,5 bilhões. Desta forma, foi o menor lucro anual da empresa desde 2020, quando a empresa mostrou R$ 26,7 bilhões.

Em um passado recente a companhia também mostrou prejuízos no acumulado do ano, nos anos de 2015 e 2019, com R$ -44,2 bilhões e R$ -6,6 bilhões, respectivamente.

Evolução dos lucros da Vale

Dividendos vão aumentar?

Sobre as decisões de remuneração aos acionistas, especialistas apontam que a atual gestão deve manter as políticas.

“Não vemos mudanças previstas. Política segue como dividendos mínimos a 30% do EBITDA menos capex recorrente, com target de dívida líquida expandida entre US$10-20 bilhões”, comenta Laghi, da XP.

A expectativa da casa é de que a mineradora siga entregando um dividend yield entre 8% a 10% neste ano, com o minério ficando entre US$100 a US$ 110 a tonelada.

“Em termos absolutos não é um valor significativamente alto (ainda mais num contexto de juros globais em níveis altos), mas é acima do histórico da companhia”, comenta Laghi.

Fontoura, da Persevera Asset, comenta que o DY é ‘consideravelmente alto e respeitável’. Conforme dados atualizados do Status Invest, as ações ordinárias da Vale deram direito a R$ 5,3529 por papel no acumulado dos últimos 12 meses, representando um yield de 9,2%.