28/02/2025 - 18:44
As taxas de juros, quase todas de volta ao nível de 15%, ilustram bem a postura defensiva do mercado, que se acentuou nesta tarde perante o desconforto com a nomeação da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, à Secretaria de Relações Institucionais, e o fortalecimento do dólar globalmente após discussão entre os presidentes Donald Trump e Volodymyr Zelensky. Na semana, a curva ganhou inclinação, com o vértice mais longo abrindo 75 pontos-base, sendo 32 no pregão desta sexta-feira, véspera do feriado de carnaval.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu a 14,980%, de 14,808% no ajuste anterior, e o para janeiro de 2027 avançou a 15,055%, de 14,781%. O vencimento para janeiro de 2029 encerrou em 15,045%, de 14,727% no ajuste.
O presidente Lula foi desaconselhado por aliados a nomear Gleisi para chefiar a articulação política do governo, mas aceitou o desgaste político para recompensar uma de suas aliadas mais fiéis, mostra a análise política escrita por Caio Spechoto, Gabriel Hirabahasi e Fernanda Trisotto, do Broadcast.
Agora participantes do mercado trabalham com a tese de que o governo terá dificuldade em avançar pautas fiscais no Congresso, segundo o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi. “Acho que Gleisi tem sido muito crítica da agenda do ministro Fernando Haddad, então como vai ficar isso? Será que ela vai de fato brigar para a pauta fiscal de Haddad avançar?”, questiona.
Em nota, a Warren Investimentos destaca que a ausência do Centrão no núcleo duro do governo o exime de assumir qualquer compromisso, no curto, e principalmente no médio e longo prazo – e isso pode ser um problema para o governo a depender da pauta. “Como presidente do PT, Gleisi foi porta voz de várias críticas em relação à agenda econômica do ministro Haddad. Resta saber como será a sua postura na nova missão”, destrincha.
No cenário externo, os rendimentos dos Treasuries caíram e o dólar – que voltou a R$ 5,91 – se fortaleceu, reforçando a busca de proteção globalmente sobretudo após Trump e Zelensky discutirem no Salão Oval. Para Borsoi, da Nova Futura, a troca de farpas entre os presidentes coloca a perspectiva de que o acordo entre os dois países para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia vai ficando mais longínqua. “Então o mercado reage colocando mais aversão à risco nos preços”, diz.
O trader de Mesa de Renda Variável e Estruturados no Grupo SWM Luis Otavio menciona ainda que a aversão a risco também considera que o mercado ficará fechado até 12h de quarta-feira da semana que vem, devido ao carnaval.