A associação das montadoras de veículos instaladas no Brasil, Anfavea, voltou a defender nesta quarta-feira a antecipação da volta do imposto de importação completo no setor, após a chegada ao país de um grande navio da chinesa BYD transportando mais de 5,5 mil veículos novos.

Sem citar marcas específicas, a entidade defendeu, em comunicado à imprensa, o retorno imediato da alíquota de 35% sobre veículos elétricos e híbridos importados, ante as tarifas atuais de 18% para elétricos e 20% a 25% para híbridos.

O comunicado veio depois que a BYD anunciou na sexta-feira a chegada ao porto Portocel, em Aracruz (ES), do navio Explorer Nº 1 com 5.524 carros e utilitários esportivos (SUVs) elétricos e híbridos.

Essa é a segunda vez que a embarcação, que tem capacidade para até 7 mil veículos, vem ao país com carros da montadora chinesa.

Segundo a Anfavea, há atualmente no Brasil cerca de 40 mil carros importados em estoque. A entidade afirmou que recebeu com “preocupação” a chegada da embarcação.

“Sem um equilíbrio saudável na balança comercial, essa indústria que gera mais de 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos estará sob forte ameaça”, afirmou a entidade que representa marcas instaladas há décadas no país como Fiat, GM, Volkswagen, Renault e Toyota.

Os 5.524 veículos declarados pela BYD equivalem a cerca de um terço do volume de veículos elétricos e híbridos vendidos no Brasil, de todas as marcas, em janeiro, segundo dados da Anfavea.

A BYD, que vem ampliando sua participação no total vendido no Brasil em meio à expansão dos veículos eletrificados no país, afirma que a importação é necessária para “atender a crescente demanda de mercado” antes da construção de uma fábrica própria em Camaçari (BA), uma área anteriormente ocupada pela Ford. A fábrica em construção foi alvo de denúncias em dezembro de trabalho em condições análogas à de escravidão.

“Enquanto preparamos o início da produção em Camaçari, essa operação garante que mais consumidores tenham acesso aos nossos modelos com agilidade”, afirmou a BYD no comunicado de sexta-feira. Procurada nesta quarta-feira, a montadora chinesa não se manifestou de imediato.

Segundo a Anfavea, mais de 120 mil veículos importados da China foram vendidos no Brasil no ano passado — volume três vezes maior do que em 2023. “Apoiamos, sim, a chegada de novas marcas ao Brasil, para produzir, fomentar o setor de autopeças, gerar empregos e trazer novas tecnologias. O que vemos, entretanto, são anúncios sucessivos de adiamento dos prazos de início de produção no país”, afirmou a entidade.

Pelos planos originais do governo federal, definidos no final de 2023 após pressão do setor automotivo, o retorno do imposto de importação “cheio” se dará em julho do próximo ano.

Atualmente, a previsão é que a tarifa sobre os híbridos suba de 25% para 30% em julho deste ano. No mesmo período, a taxação sobre os elétricos vai passar de 18% para 25%. A indústria comumente cita que os picos de importação têm se dado previamente ao aumento das tarifas.

“Nenhum país do mundo, com indústria automotiva instalada, tem uma barreira tão baixa para as importações, o que torna o nosso importante mercado um alvo fácil, especialmente para modelos que estão sendo barrados por grandes alíquotas na América do Norte e na Europa. Elas são de 100% nos EUA e Canadá, e podem chegar a 48% na Europa”, afirmou a Anfavea.

Em janeiro, o então presidente da Anfavea, Marcio de Lima Leite, afirmou que as montadoras de veículos instaladas no Brasil estudavam encaminhar pedido de processo andidumping contra montadoras chinesas.

Paralelamente, as próprias montadoras instaladas no Brasil têm anunciado planos de vendas de veículos de marcas chinesas. A Renault anunciou em meados de fevereiro acordo com a Geely, dona de marcas como Volvo Cars e Zeekr, para distribuir e produzir veículos do grupo chinês no Brasil.

Já a Stellantis, dona da Fiat, deve anunciar em abril parceria com a chinesa Leapmotor para venda de veículos elétricos no Brasil e no Chile.

Também em fevereiro, a montadora estatal chinesa GAC anunciou a inauguração de um centro de distribuição de peças no Brasil, em uma preparação para o lançamento da marca no país ainda neste trimestre. A empresa projeta investimento de cerca de R$6 bilhões nos próximos cinco anos no Brasil.

Além da defesa do retorno da alíquota de 35% do imposto de importação sobre veículos eletrificados, a Anfavea também citou nesta quarta-feira “grande preocupação” com aumento da participação de máquinas autopropulsadas, como tratores, escavadeiras e colheitadeiras, importadas nas compras públicas.

“O crescimento acentuado das importações de máquinas transformou o tradicional superávit em déficit na balança comercial pelo segundo ano seguido, dobrando o valor do déficit em 2024”, afirmou a Anfavea sem citar nomes, mas dando destaque “para empresas ‘instaladas no Brasil’ que não contam nem com 20 funcionários”.

Segundo a entidade, os clientes das licitações de máquionas sofrem com “a falta de uma rede confiável para assistência técnica”.

 

(Por Alberto Alerigi Jr.)