ESTÁ ABERTA A TEMPORADA de caça aos dividendos. Muitos investidores esperam com ansiedade o balanço anual das empresas para saber se o lucro líquido foi o bastante para deixar uma parcela em caixa, destinada a investimentos, e distribuir mais que os 25% obrigatórios em forma de dividendos e juros sobre o capital próprio. Esse dinheiro chega limpinho ao bolso do investidor, sem a necessidade de pagar impostos. E, apesar de a porcentagem do lucro que será repassada aos acionistas ser diferente todos os anos, há uma tradição das companhias em manter a mesma parcela. Setores como energia elétrica, telefonia e bancos são considerados os mais generosos. São eles os mais perseguidos por quem está em busca de uma carteira com boas pagadoras.

O acionista que estava acostumado a receber um gordo dividendo pode estranhar os valores que estão sendo propostos. De acordo com levantamento exclusivo para a DINHEIRO feito pela Economática, das empresa com maior liquidez na BM&FBovespa que já informaram o valor de dividendos e juros sobre o capital próprio que deverão ser distribuídos este ano, apenas a Vivo e a B2W pagarão mais que em 2008 (confira quadro).

“Os resultados no quarto trimestre da maioria das empresas foram bastante ruins, mas no ano elas conseguiram se salvar”, afirma Dany Rappaport, sócio da Investport. Embora elas possam ter lucrado menos no ano passado, o que está determinando a parcela do lucro que o investidor receberá é a expectativa com a resolução da crise. Aquelas com necessidade maior de financiamento estão reservando um pouco mais de dinheiro como precaução.

Essa gordura fará com que se evite pagar juros mais altos pelos empréstimos. “Se não houver problemas com o crédito, nada impede que elas paguem um pouco mais de dividendos ao longo do ano”, diz Clodoir Vieira, analista-chefe da Souza Barros. E quem pensa em comprar um papel apenas para aproveitar a distribuição de dividendos? Primeiro é preciso checar se a ação está sendo negociada como EX.

Este símbolo mostra que aquela é uma ação vazia, ou seja, que já exerceu os direitos no período. Quem a adquire nessas condições só ganhará o dividendo de outro período. Fora isso, o investidor que quer abocanhar apenas a parcela do lucro precisa ficar atento. Quem pensa em dividendos busca consistência no longo prazo. Muitas vezes as expectativas dos agentes de mercado quanto ao resultado da empresa já estão precificadas no papel. Isso significa que no dia da divulgação do dividendo a ação estará com o desconto do valor que será pago.

 

“Até agora tinha sido vantajoso para quem encontrava essa oportunidade e vendia no dia seguinte”, afirma Vieira. Como o período de vacas gordas da bolsa ficou para trás, essa estratégia pode parar no atoleiro. Mais importante que pescar é antecipar as oportunidades. Há quem esteja calculando as vantagens do dividendo com a queda da taxa Selic. Como a taxa básica sempre esteve na casa dos dois dígitos, era praticamente impossível compará-la com outro rendimento.

Mas se a expectativa se confirmar e os juros chegarem a 9% ao ano, muitas empresas terão uma política de distribuição de resultados (dividend yield) maior ou igual à remuneração que o governo paga pelos títulos públicos. Por exemplo, uma companhia com lucro líquido de R$ 1 milhão com dividend yield de 9% dará a seus acionistas um total de R$ 90 mil, que será repartido e distribuído por ação.

O Banco do Brasil é um caso concreto de dividend yield de 9%. Mas há quem dê mais, como a Telemar PN, cujo indicador é 22%. Uma distribuição de resultados melhor que o rendimento de um título público, somada à possibilidade de esse papel se valorizar, pode provocar uma corrida para a bolsa. “Se a Selic cair para esse nível, o mundo brasileiro do investimento muda completamente”, diz Rappaport.