11/07/2025 - 16:02
Te K’ab Chaak, primeiro governante da cidade maia de Caracol, teria mantido conexões intensas com outras cidades antigas, como Teotihuacán. Acredita-se que ele morreu por volta de 350 d.C.Arqueólogos encontraram em Belize, país da América Central vizinho do México e da Guatemala, o túmulo de Te K’ab Chaak, que teria sido o primeiro governante da antiga cidade maia de Caracol, há cerca de 1.700 anos, segundo um comunicado da Universidade de Houston publicado na quinta-feira (10/07).
O rei Te K’ab Chaak (ou “Deus da Chuva dos Galhos de Árvores”, em maia) foi enterrado na acrópole nordeste, um local elevado nos arredores do centro da cidade que era usado pela realeza como residência e para cerimônias públicas.
Fundador de dinastia
O governante de Caracol, que teria ascendido ao trono em 331 d.C. e fundado uma dinastia que durou mais de 460 anos, media 1,70 metro e não tinha nenhum dente, o que revelaria que faleceu em idade avançada, e foi sepultado aproximadamente no ano 350 d.C.
“Nunca antes havíamos encontrado alguém que pudéssemos identificar como sendo governante de Caracol, então isso por si só já é surpreendente”, afirmou a arqueóloga Diane Chase ao jornal The New York Times. Ela descobriu a tumba junto com seu marido Arlen, com quem realiza escavações na área há mais de 40 anos.
Trata-se de uma descoberta que poderia ser considerada “a primeira de seu tipo, na medida em que se trata de um governante, um fundador, alguém tão idoso e em tão bom estado [de conservação], para ser sincera, porque a umidade não contribui para a conservação”, acrescentou ao jornal Melissa Badillo, diretora do Instituto de Arqueologia de Belize.
Diferentes objetos com desenhos especiais
Dentro da tumba real, os arqueólogos também encontraram diferentes objetos, como conchas marinhas, vasos de cerâmica com desenhos religiosos, ossos esculpidos, contas tubulares de jade e uma máscara mortuária de mosaico também feita de jade.
“São coisas que nunca tínhamos visto antes”, acrescenta Arlen sobre alguns dos desenhos que representam beija-flores, macacos, corujas e outros animais.
Qual era a importância da cidade de Caracol?
Importante centro das terras baixas maias durante os séculos 6 e 7, Caracol era uma das maiores cidades da civilização maia, com uma população estimada em mais de 100 mil pessoas no seu apogeu.
Estima-se que Caracol poderia ter tido terraços agrícolas, edifícios, monumentos e calçadas, estendendo-se por mais de 177 km². A construção mais notável da área é a pirâmide de Caana, que, com seus 43 metros de altura, continua sendo hoje uma das construções mais altas de Belize.
Assim como muitos outros assentamentos maias, a cidade hoje localizada no distrito de Cayo, no centro de Belize, entrou em decadência por razões desconhecidas por volta do ano 900 d.C.
Houve contato com Teotihuacán?
Em 2010, foram encontradas lâminas de obsidiana no sítio arqueológico, o que indicaria uma presença importante da cidade mexicana de Teotihuacán, que posteriormente também influenciou os astecas.
No entanto, as tumbas recentemente encontradas em Caracol são mais antigas, o que denotaria que os governantes maias eram nativos e não eram controlados por uma elite governante de Teotihuacán.
Relações intensas com outras partes da Mesoamérica
O arqueólogo e professor de antropologia Arlen Chase afirma que as influências teotihuacanas no local indicam que os primeiros governantes de Caracol tinham contatos intensos com essa região e outras partes da Mesoamérica.
Os objetos encontrados dentro da tumba de Te K’ab Chaak também revelariam essa estreita conexão com outras cidades maias, mesmo que localizadas a milhares de quilômetros de distância.
“Tanto o centro do México quanto a zona maia estavam claramente cientes das práticas rituais um do outro”, apesar de Teotihuacán estar a cerca de 1.200 km de Caracol, disse Arlen Chase no comunicado.
Ele afirma ainda que os governantes de Caracol poderiam muito bem ter “estabelecido relações diplomáticas formais com Teotihuacán”.
Outros pesquisadores, como Gary Feinman, arqueólogo do Museu Field de Chicago – que não participou da escavação –, preferem esperar para analisar mais detalhes de algumas das descobertas.
“Eles têm evidências de algum tipo de conexão com Teotihuacán, no centro do México, mas qual seria o mecanismo dessa conexão – uma pessoa? Ideias? – é mais difícil de dizer. Talvez suas interpretações estejam corretas, mas diria que gostaria de ver isso detalhado em um artigo antes de poder falar mais”, afirmou.
bl (DW, Livescience, ots)