29/07/2025 - 10:40
São Paulo, 29 – A queda nas exportações de suco de laranja do Brasil para os Estados Unidos no primeiro semestre de 2025 ante igual período de 2024 tem mais a ver com a quebra da safra da fruta por aqui no ano passado do que propriamente com o efeito das tarifas de importação impostas pelos EUA em abril. No quarto mês de 2025, o governo de Donald Trump anunciou taxação de 10% sobre vários produtos brasileiros, incluindo o suco de laranja, e, em 9 de julho, de 50% sobre todas as exportações do Brasil, a partir de 1º de agosto.
“A safra de laranja aqui, no ano passado, foi a menor já registrada na história recente”, diz ao Broadcast Agro o diretor executivo da CitrusBR, Ibiapaba Netto. A entidade representa o setor exportador de suco de laranja do País. De fato, na colheita 2024/25, o Cinturão Citrícola, entre os Estados de São Paulo e Minas Gerais, colheu 228,52 milhões de caixas de laranja, queda de 24,85% ante os 307,22 milhões de caixas do ciclo 2023/24, conforme dados do Fundecitrus.
“Não tem fruta, não tem suco”, resume Netto. “Então, a redução de volume embarcado aos EUA, ao menos por enquanto, tem a ver com a quebra da safra, e não propriamente com o tarifaço.” Segundo o executivo, a taxa de 10% anunciada em abril por Trump “obviamente abalou o setor de suco”, mas ainda assim foi possível, de alguma maneira, “acomodar esse porcentual nas vendas”.
Mesmo porque a restrição da oferta da fruta no maior exportador global de suco de laranja, o Brasil, fez com que os preços da bebida na Bolsa de Nova York disparassem nos últimos meses, garantindo ganhos à cadeia produtiva. O forte avanço de preços se refletiu nos ganhos com exportações no primeiro semestre deste ano. Entre janeiro e junho, o Brasil faturou US$ 654,74 milhões com os embarques de suco de laranja aos EUA, valor 77,8% acima dos US$ 368,25 milhões obtidos entre janeiro e junho de 2024, mesmo com queda de 8,69% no volume exportado, de 609,05 mil toneladas para 556,13 mil toneladas – dados do Agrostat, do Ministério da Agricultura.
Já a tarifa de 50%, que passará a valer a partir de 1º de agosto, será mais difícil de absorver, diz Netto, mesmo com os atuais preços recordes de exportação. “Com a tarifa de 50%, mais todos os outros impostos que devem ser pagos para internalizar o suco nos Estados Unidos, calculamos que entre 60% e 70% do preço da tonelada estará comprometido com pagamentos ao Tesouro americano”, explica. “Não dá para remunerar a cadeia produtiva com essa tarifa.”
A CitrusBR estima ainda que a tarifa adicional imposta pelos Estados Unidos ao Brasil representa aumento de 533% sobre os US$ 415 por tonelada que já eram cobrados sobre o suco brasileiro, para cerca de US$ 2.600 por tonelada. Por isso Netto considera que a alíquota inviabilizaria as exportações para aquele mercado. O Brasil é o principal fornecedor de suco de laranja para os EUA, representando 70% de toda a bebida importada pelo país na safra 2024/25. Se confirmada, a taxação de 50% vai incidir somente sobre a nova safra de laranja, que começou em junho e vai até meados de dezembro e janeiro.
Um fato que pode pesar a favor do setor exportador de suco para sensibilizar os Estados Unidos a amenizarem a tarifa de 50% é a disparada do preço da bebida no país do Hemisfério Norte. Em julho, a cotação do suco de laranja no varejo estadunidense bateu novo recorde, com o galão custando em média US$ 11,68, valor mais alto desde pelo menos outubro de 2001, segundo dados da Nielsen. No acumulado de 2025, os preços subiram 16,5% e estão quase 20% mais altos em relação a igual período do ano passado.
Ainda conforme Netto, no caso do suco de laranja é ideal ver os embarques em meses agregados, e não mês a mês, já que há certa inconstância dos navios que exportam o suco. “Há timings diferentes de lançamentos de navios”, explica. “Às vezes um navio que chegaria em um mês acaba chegando no outro, ou às vezes antecipa a chegada…”, comenta o executivo. “Então é difícil obter uma informação ‘analisável’ mês a mês. É melhor ver no agregado.” E o agregado, por enquanto, revela queda em volume e alta em faturamento – justamente por causa da quebra de safra.