07/08/2025 - 9:23
A entrada em vigor nesta quinta-feira (7) das novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump a dezenas de países terá consequências econômicas tanto para eles quanto para os Estados Unidos, mas resta saber quem realmente pagará a conta.
Desde um aumento nos preços para os consumidores, até a redução das margens de lucros para as empresas e a perda de competitividade, segue o panorama sobre os principais afetados pelas tarifas alfandegárias do magnata republicano:
Consumidores: inflação à vista nos EUA
Frente a tarifas de 15% sobre automóveis japoneses, 20% sobre camisetas do Vietnã ou a ameaça de 100% para semicondutores, os consumidores americanos podem ter que pagar mais por seus produtos, a menos que optem por equivalentes locais, se houver oferta.
O presidente do Federal Reserve (banco central), Jerome Powell, estimou em julho que o impacto das tarifas adicionais começava a se materializar em “algumas categorias de produtos”.
Um exemplo são os brinquedos da americana Hasbro, criadora de clássicos como Monopoly ou Furby, dos quais metade provém da China, que começaram a subir de preço em maio e junho, constatou o grupo.
As tarifas são ainda mais problemáticas em setores em que os Estados Unidos não têm produção local, destacou Philippe Chalmin, professor emérito da Universidade Paris-Dauphine.
O cobre, importado em grande parte do Chile, seu principal produtor mundial, seria inicialmente afetado por tarifas americanas de 50%.
“Dado que metade das necessidades dos Estados Unidos é importada do Chile, o preço do cobre no mercado americano aumentou 25% em relação à referência mundial após o anúncio”, estimou Chalmin.
No fim, o governo Trump recuou e decidiu taxar apenas os produtos semimanufaturados desse metal.
Perda de competitividade
A conta também poderá recair sobre as empresas exportadoras, já que o aumento dos preços de seus produtos provocará uma perda de competitividade nos Estados Unidos. Isso preocupa especialmente o setor europeu de vinhos e bebidas destiladas.
Por enquanto, a União Europeia não obteve nenhuma exceção para esse setor, especialmente sensível para países como França e Itália. Será que o chianti ou o champanhe serão substituídos pelo vinho californiano?
O impacto “será ainda mais brutal” já que as tarifas vêm acompanhadas pela queda do dólar americano, o que torna as garrafas mais caras, alertou Gabriel Picard, presidente da Federação de Exportadores de Vinhos e Bebidas Destiladas da França.
Picard estimou em um comunicado que esse efeito combinado poderá representar “uma perda de 1 bilhão de euros” (6,02 bilhão de reais) para os produtores franceses.
“Haverá diferenças setoriais e até mesmo dentro de um mesmo setor, dependerá do poder de negociação de cada um”, entre o produtor, o atacadista e o varejista, considerou Bruno de Moura Fernandes, responsável pela pesquisa macroeconômica da Coface.
No entanto, o economista acredita que o efeito será especialmente notável nas indústrias que já têm dificuldades para competir com seus concorrentes americanos, especialmente nos setores químico e siderúrgico na Europa.
Margens de lucro em queda
Algumas empresas já anunciaram que reduzirão suas margens de lucro para compensar os efeitos da guerra comercial.
Os fabricantes de automóveis são especialmente afetados. Para 2025, a alemã Mercedes prevê vendas muito inferiores às do ano passado, assim como uma margem operacional inferior à esperada.
A Porsche espera um lucro operacional de apenas entre 5% e 7%, contra os 10%-12% previstos no início do ano.
“Provavelmente haverá um período de espera para ver o que acontece, como se comportam os concorrentes e se as empresas conseguem repassar os aumentos de preços”, destaca Fernandes.
As tarifas podem ter consequências mais amplas para a economia mundial, com uma possível queda na demanda.
As petroleiras já alertaram para uma redução de seus lucros, como fez a britânica Shell, em relação ao primeiro semestre, devido às menores margens e preços, já que o aumento das tarifas está reduzindo a demanda global por energia.