A tribo dos investidores ativistas é uma das que mais aterrorizam altos executivos de grandes empresas. O megainvestidor americano Carl Icahn, por exemplo, já aterrorizou gigantes como a Motorola e a Oracle. Sua última rusga é com a diretoria da empresa de comércio eletrônico eBay, que não estaria apresentando uma boa governança. Poucos ativistas, porém, ousam por a mão na massa. Pedro Faria, o novo presidente da BRF, é uma das exceções. Nomeado pelo conselho de administração, nesta quinta-feira 25, ele será um dos raros exemplos de investidor ativista que poderá provar, na prática, que sua estratégia é a mais correta – ou não. Faria passará a exercer a nova função a partir de 2 de janeiro.

Faria comprou uma briga e tanto com outros acionistas, para que prevalecesse a visão de seu grupo sobre o que é melhor para a BRF. Sua relação com uma das maiores empresas brasileiras de alimentos processados é antiga. A gestora de investimentos Tarpon, da qual foi um dos sócios-fundadores, já mantinha investimentos na Sadia, antes que a empresa fosse abatida por apostas equivocadas em derivativos de câmbio que abriram um rombo em suas contas, e a levaram a se fundir com a sua então maior concorrente, a Perdigão, criando a BRF.

Influência

A Tarpon emergiu da fusão como um dos maiores acionistas da BRF, que passou a ter seu capital pulverizado na bolsa de valores. Na época do negócio, a gestora possuía 7% da companhia. Em maio de 2011, formalizando essa situação de empresa “sem dono”, uma assembleia de acionistas elegeu o primeiro conselho de administração da nova era. Pedro Faria e seu então sócio na Tarpon, José Carlos Reis de Magalhães, ganharam assentos na instância máxima de decisão da empresa.

Já naquela época, o perfil ativista da Tarpon foi notado. Uma das principais brigas que comprou foi defender um número menor de assentos no conselho. Em vez dos dez lugares que vingaram, a gestora propunha nove, a fim de que seus dois representantes tivessem mais peso nas decisões. Nos dias que precederam a assembleia, os demais investidores temiam que a Tarpon impusesse, na marra, a sua proposta, já que tinha ações suficientes para tentar.

Desde que ingressou no conselho, Faria tornou-se cada vez mais próximo da gestão da BRF. Inicialmente, o motivo óbvio era que a fabricante de alimentos era o maior investimento do portfólio da Tarpon. Qualquer queda na cotação dos papéis afetava, e muito, o desempenho da gestora. Faria foi, por isso, um dos principais defensores de mudanças na diretoria da BRF, após a fusão ser concluída.

Patrono de Abilio

Sua conquista mais emblemática, até agora, fora patrocinar a indicação do empresário Abilio Diniz para a presidência do conselho, no lugar de Nildemar Secches, um dos idealizadores da fusão de Sadia e Perdigão. Ainda na Tarpon, Faria liderou o movimento e conseguiu a adesão de outro acionista de peso: a Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. A ideia, porém, enfrentou grandes resistências de parte dos acionistas. A principal crítica é que haveria um conflito claro de interesses, já que Abilio, na época, ainda era um dos maiores sócios do Grupo Pão de Açúcar, fundado por seu pai, mas cujo controle estava já nas mãos do grupo francês Casino. Segundo cálculos dos opositores, o Pão de Açúcar representou, em 2012, R$ 980 milhões do faturamento da BRF.

O principal argumento da Tarpon era que a BRF precisava rever sua estrutura de gestão e custos, que ainda apresentava redundâncias geradas na fusão. Além disso, com as restrições que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica impôs à empresa, era necessário expandir as operações internacionais. A vitória de Faria ocorreu em abril de 2013, quando Abilio foi eleito com um apoio de acionistas que representavam 62,23% do capital da empresa. De qualquer modo, os observadores lembraram que a eleição foi a primeira em que o presidente do conselho não foi eleito com 100% dos votos – sinal de que os planos de Faria e de Abilio não são consenso entre os investidores.

Ainda em abril do ano passado, Faria foi indicado para compor um comitê de assessoria do novo conselho de administração, ao lado do próprio Abilio, e de Sérgio Rosa (Previ) e Walter Fontana. O comitê, na prática, definiu a estratégia que será seguida pela BRF nos próximos anos. A última escala de Faria, antes de chegar ao tipo da BRF, foi sua nomeação como CEO da área internacional da empresa, em novembro. Para que não houvesse conflito de interesses, Faria deixou a Tarpon. Ainda assim, sua indicação foi visto como um fortalecimento da gestora no dia a dia da empresa.

Cortando na carne

Nos dois trimestres em que ocupou o cargo, Faria focou no aumento de margens e corte de custos. Para tanto, determinou a redução do volume de vendas em mercados com baixas margens. Um exemplo foi a queda da participação da África nos negócios, de 7,5%, no primeiro semestre do ano passado, para 6,4% em junho. Já a Europa subiu de 14,3% para 17,5%. O preço médio dos produtos também aumentou 11%, em dólares, e 20%, em reais, no segundo trimestre.

Uma resposta foi o aumento do ebit (lucro antes de juros e impostos, na sigla em inglês). No primeiro trimestre de 2013, a margem de ebit da área internacional era de apenas 1,1%. Em junho, subiu para 8%. Isso significou passar de R$ 34 milhões para R$ 255 milhões no período. Formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, Faria terá, agora, a chance de estender essa receita para toda a empresa – e colocar à prova a sua visão da BRF. Será difícil encontrar um jeito de ser mais ativista do que esse.