19/08/2025 - 15:21
O ministro da Controladoria Geral da União (CGU), Vinicius Marques de Carvalho, defendeu ‘não há contradição entre diversidade e meritocracia’ ao falar sobre iniciativas que preveem o aumento da participação de mulheres e outras minorias sociais em Conselhos de Administração de empresas e cargos de liderança.
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Durante painel na 26ª Conferência Anual Santander, que ocorre em São Paulo entre terça e quarta-feira, 19 e 20 de agosto, o ministro da CGU analisou que, na verdade, é possível – e recomendável – aliar as duas coisas.
“Esses cargos durante muito tempo sempre foram ocupados por homens, em geral homens brancos, a tendência sempre de uma reprodução disso. Eu não acredito que essa reprodução aconteceu porque só havia homens brancos com capacidade técnica a ocuparem aquelas funções. Muitas vezes acontecia, e acontece, porque são as relações que as pessoas têm, e vão construindo, e vão ascendendo nesse contexto”, analisa.
“Então, para mim, a questão relacionada à gênero, ou raça e outras outros temas relacionados à diversidade, envolve romper com esse ciclo. E para romper com esse ciclo, você precisa ter uma postura ativa mesmo, de determinar regras que vão estabelecer tipos de parcela para um determinado conselho, ou órgãos de gestão de uma companhia que vão ser ocupados por mulheres, por exemplo”, completa.
Com isso, o ministro defendeu um maior percentual de mulheres e outras minorias sociais em Conselhos de Administração. Nesse sentido, frisou que é necessário uma política que permeie também outros níveis de hierarquia – e que a ausência disso pode gerar gargalos na hora de aplicar políticas de diversidade como um percentual mínimo em conselhos e na diretoria.
“Se você criar um funil de gênero, quando você tiver que fazer a escolha dos diretores, os gerentes vão ser todos homens. Aí não adianta. Aí você vai falar assim: ‘Ah, mas tá vendo? Eu não consigo colocar mulher [na diretoria] porque os gerentes são todos homens, né?’. Então essa é uma preocupação que a gente tem que ter.”
Elvira Cavalcanti Presta, ex-CFO da Eletrobras e Conselheira Fiscal da Embraer e da Gerdau, endossou a fala citando sua própria trajetória e como a representatividade pode servir como um incentivo para aumento de diversidade em Conselhos e cargos de liderança.
“Quando eu integrei o conselho de administração da Eletrobras, em 2018, eu era a única mulher em um colegiado de 11 membros. Eram 10 homens e eu. Então eu era 9%. Hoje falamos em 30% [de representatividade de mulher nos Conselhos]. Fui a única mulher CFO da companhia até hoje. Então vemos a Petrobras com uma CEO mulher hoje, tivemos no passado a Andrea [Marques de Almeida, CFO de 2019 a 2021], uma amiga minha. Acho que são bons exemplos, mostram que a gente pode incentivar diversidade.”
Além da diversidade, estatais brasileiras devem focar em ‘transparência e rigor nas nomeações’
Sobre a governança nas estatais no momento atual, tema do painel no evento do Santander, Ricardo Araújo, Diretor Executivo de Governança e Conformidade da Petrobras destacou que a integridade é algo que deve ser inegociável.
Sobre o tema, destacou que problemas com o tema podem respingar nos acionistas e surtir efeitos negativos mesmo após um grande período de tempo sem problemas.
“Na Petrobras temos trabalhado muito com tecnologia da informação e em especial a inteligência artificial. São ferramentas que vão auxiliar muito na tomada de decisão e na mitigação de riscos, nas decisões mais rápidas, com maior maior segurança, que no final vão auxiliar as as os gestores, os dirigentes da das companhias. E acho que fundamental é um compromisso com a ética integridade. Não adianta usar a tecnologia da informação, não adianta ter uma governança, em tese, robusta nos comitês para auxiliar na tomada de decisão, mas sem a integridade e a promoção da ética”, avalia.
“Isso precisa estar em cada um dos que compõem a organização. Não apenas com quem está no nível mais baixo, não apenas quem está no nível mais acima, mas precisa ser uma cultura da companhia e das organizações. Não é algo que a gente muda de um dia pro outro. Isso é uma uma construção. Você pode ficar 364 dias do ano sem problema nenhum. Eventualmente, se você teve um vazamento ou um acidente por conta de uma negligência, ou um eventualmente um caso de um possível assédio, isso tomar uma repercussão enorme e em minutos isso já fará as ações caírem”, completa.
Elvira, ex-CFO da Eletrobras, destacou que espera que o Brasil tenha como foco em termos de cultura de governança das estatais três pontos: transparência, prestação de contas e rigor nas nomeações de dirigentes estatutários.
Marques de Carvalho, da CGU, endossou a fala e destacou que as estatais precisam de ‘previsibilidade da ação do acionista controlador’.
O ministro avalia que ‘a existência de uma estatal em si já gera muitas discussões’ por conta de questões estratégias e de serviços púbicos, mas defendeu que ‘não se tenha um abuso exacerbado do do exercício do poder de controle’, desvirtuando ‘a própria ideia daquilo enquanto uma empresa’.