O PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre veio desacelerado conforme as expectativas e refletindo, entre outros pontos, a política monetária contracionista que fixou a taxa de juros em 15% ao ano. O cenário, segundo especialistas, aliado ao impacto mais prolongado da tarifa extra de 50% dos Estados Unidos aos produtos brasileiros, deve se manter para o próximo trimestre e posicionar o crescimento da economia entre 2,2% e 2,5% no consolidado de 2025. O próprio Ministério da Fazenda afirmou que passa a ver ‘leve viés de baixa’ para sua mais recente projeção de alta de 2,5% do PIB em 2025.

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O crescimento de 0,4% no trimestre terminado em junho em relação ao trimestre anterior está levemente acima da expectativa do mercado, que era de 0,3% ou até menos, mas está distante do crescimento de 1,3% registrado no primeiro trimestre deste ano. Os dados sobre a atividade econômica brasileira foram divulgados na terça-feira, 2, pelo IBGE.

Parte da perda do fôlego nesse período foi pelo menor desempenho do setor agro, que no período anterior teve resultado positivo de 12,3% e agora retração de 0,1%. Mas atividades diretamente ligadas ao crédito – e em cenário de juros altos – pressionaram a atividade econômica para baixo e devem seguir nesse movimento ao longo deste ano.

“A construção civil e a indústria de transformação, altamente sensíveis aos juros, têm sido impactados pelo forte aperto monetário e pela permanência das condições financeiras restritivas”, destaca a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Não por acaso, houve uma forte queda na chamada formação bruta de capital fixo, ou seja, dos investimentos do setor produtivo no período, de 2,2%, sendo a primeira queda desde o terceiro trimestre de 2023 (-2,2%). Esse é um dos segmentos fortemente dependente de crédito e, por sua vez, impactado pela taxa de juros. “Avaliamos que a taxa de juros elevada e o aumento das incertezas globais contribuíram para o recuo dos investimentos”, diz relatório do Banco Pine, que manteve em 2,3% sua projeção do PIB para 2025.

Para a Fiesp, tanto os juros como as incertezas em torno do cenário externo – sobretudo no que se refere à relação comercial entre Brasil e Estados Unidos – demandam atenção. E, aliado ao pessimismo do setor industrial, a Federação projeta um PIB de 2,4% para 2025 e de 1,9% para 2026. “No caso do PIB da indústria de transformação, após o avanço de 3,8% em 2024, estima-se um crescimento mais fraco, de 0,3% em 2025, seguido por uma retração de 1,0% em 2026.”

Natalia Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, avalia que a “mensagem” que o resultado do PIB passa é de “resiliência”, mas a visão de desaceleração segue válida, com dúvidas apenas na “velocidade dessa desaceleração”. Ainda assim, Victal vê como factível um resultado positivo da atividade econômica de crescimento de 2,5% para o ano.

Na avaliação de Rafael Perez, economista da Suno Research, o cenário de tarifas e juros altos reforça a tendência de desaceleração da economia nos próximos trimestres, ainda que a resiliência do mercado de trabalho e a expectativa de maior expansão dos gastos públicos suavizem uma desaceleração mais intensada economia brasileira.

“As perspectivas de manutenção da Selic em 15% até o início do próximo ano, somadas a condições menos favoráveis para o crédito, devem continuar limitando os investimentos e dificultando a sustentação do crescimento ao longo de 2025”, diz Perez.

A expectativa, reforça Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, é de que o processo de desaceleração da demanda doméstica prossiga no segundo semestre. “O desempenho do segundo trimestre confirma a perda de dinamismo da economia, em linha com o esperado, já refletindo os impactos do aumento da taxa de juros reais”. Com isso, Costa projeta que o Banco Central inicie o ciclo de cortes de juros em janeiro de 2026, com a taxa Selic projetada em 11% em dezembro de 2026.