Crianças brincavam em região que as autoridades consideram proibida para a prática de jogos com bola, como futebol, quando morador reclamou do barulho. Os pais planejam não pagar a multa, e caso gerou comoção na cidade.Era sexta-feira à tarde em Murano, uma ilha em Veneza com pouco mais de 5.000 habitantes, quando 14 crianças entre 12 e 13 anos brincavam de bola na praça Pino Signoretto.

A ilha é famosa por sua produção de vidros coloridos com formatos variados, e alguns dos ateliês estão ao redor da praça, onde é possível ver demonstrações da arte ao ar livre. Mas a bola das crianças acabou atingindo naquela tarde um alvo mais frágil – a paciência de um dos moradores da região, que ligou para a polícia reclamando do barulho.

A polícia foi ao local e, antes de permitir que os menores falassem com seus pais, chamou os responsáveis e aplicou-lhes uma multa de 50 euros (R$ 315) por perturbação da paz e dos transeuntes. O incidente aconteceu em 12 de setembro.

“As crianças jogavam futebol numa área proibida, criando distúrbios para a paz pública e um perigo para as pessoas em trânsito”, diz o aviso oficial dado aos pais e publicado na imprensa italiana.

Para os agentes, os jovens violaram o Regulamento de Polícia e Segurança Urbana do Município de Veneza, que estipula que jogos de bola são permitidos para crianças de até 11 anos em áreas públicas, com algumas poucas áreas liberadas.

Um dos pais, Antonio Trampus, lamentou o comportamento das autoridades para o jornal La Stampa: “O meu filho me ligou aos prantos. A polícia não ouvia a sua explicação. Eles podiam ter-nos chamado enquanto pais e pedido para levar os nossos filhos para casa. Em vez disso, pediram logo os nomes e o endereço”.

A multa pode aumentar para 500 euros se não for paga nos 60 dias seguintes à ocorrência. Os pais afirmam que não vão pagar, em protesto. Enquanto isso, o debate sobre o episódio agitou a cidade, que está dividida sobre a proibição.

Veneza dividida

Uma parte da cidade argumenta que os jovens têm pouco espaço para brincar ao ar livre, e que a intervenção policial foi exagerada.

“Enquanto houver crianças brincando nos campos, Veneza estará viva”, declarou o pároco local, Don Roberto Donadoni – primo do meio-campista Roberto Donadoni, que integrou a seleção italiana nas copas de 1990 e 1994 (ano do tetra brasileiro contra a Itália, nos pênaltis).

As mães dos meninos iniciaram uma petição contra a decisão, e um mestre vidreiro, Giancarlo Signoretto, se ofereceu para pagar a multa integral.

“Todos nós já fomos crianças. E o fato de terem deixado o celular de lado para brincar uma hora ao ar livre com os amigos, eu vejo como algo bonito, digno de elogios, não de obstáculos”, afirmou Signoretto.

Do outro lado, há quem acredite que há pouco respeito pelas regras e pela coisa pública.

“As pessoas só acordam quando chegam as sanções. Em um ano e meio, os jovens foram solicitados várias vezes a ir jogar a quatro minutos a pé dali”, afirmou ao jornal Gazzettino o comandante da polícia local de Veneza, Marco Agostini.

“Não são crianças pequenas. Se um idoso for atingido por uma bola enquanto caminha – a de uma criança de 6 anos talvez só o irrite, mas a de um jovem de cerca de 15 anos pode realmente machucá-lo”, completou.

sf (ots)