04/08/2004 - 7:00
O doping não é truque recente nas Olimpíadas. Em 1904, nos Jogos de Saint Louis, o maratonista Thomas Hicks venceu a prova depois de ingerir generosas doses de brandy e estricnina. São recursos, comparados aos de hoje, inofensivos como um copo de groselha. A novidade, vergonhosa, é que a fabricação de produtos químicos tornou-se uma indústria. A agência do Comitê Olímpico encarregada de flagrar e coibir as marcas artificiais gastará, em 2004, US$ 18,5 milhões no combate aos resultados artificiais. Na outra ponta, contudo, há contrafeitores que põem a mão no bolso para desenvolver novas modalidades de doping que escapem ao rastreamento. O cume da pilantragem é um laboratório americano, o Balco, as iniciais de Bay Area Laboratory Co-Operative. Estima-se que ele utilize valores similares ao do COI, todos os anos, para desenvolver novos remédios ilegais.
O Balco nasceu em 1984 e rapidamente ganhou fama entre os atletas ao produzir um suplemento alimentar, perfeitamente legal, a base de zinco e magnésio. Como quem inicia em drogas leves para mergulhar em pesadas, começou a produzir os químicos proibidos. O Balco é o pai de uma nova droga, a THG, esteróide anabolizante não detectável em amostras de sangue até o ano passado. O laboratório recebeu, em julho deste ano, multa de US$ 772 mil do Departamento de Saúde da Califórnia. Especialistas dizem que a punição irá ainda mais longe, com valores crescendo em progressão geométrica.
A máscara do Balco começou a ruir quando um apagado especialista em arremesso de peso, C.J. Hunter, antigo freguês do Balco, foi flagrado em quatro testes sucessivos usando um tipo de esteróide, a nandralona. Hunter abriu o bico e o governo americano iniciou a investigação contra o laboratório, em 2002. De lá para cá, o cenário só piorou. Grandes nomes do atletismo americano foram demolidos ? uns porque admitiram consumir drogas vetadas, outros porque foram envolvidos no escândalo. É o caso de Marion Jones, dona de três medalhas de ouro em Sydney. Na etapa de seleção americana, ela perdeu o rumo e teve péssimos resultados. Disputará apenas o salto em distância. Seu marido, o velocista Tim Montgomery, campeão mundial dos 100 metros, também fracassou, e não irá a Atenas, manchado por acusações de doping. Contra Marion, é verdade, não há acusações formais. Mas uma, sim, pode ser feita à moça: a de escolher maus maridos. Ela foi casada, adivinhem, com C.J. Hunter, aquele que acendeu o pavio do escândalo.
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US$ 18,5 milhões é o orçamento da agência antidoping do Comitê Olímpico para o combate aos químicos proibidos |