Nem todos os diamantes são eternos. Na quarta-feira 6, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro realizou um melancólico leilão do que sobrou da falida Natan Joias, fundada em 1956 pelo judeu ucraniano Natan Kimelblat (1923-2013) e que já chegou a faturar cerca de R$ 50 milhões por ano. Foi um evento diametralmente oposto ao glamour que cercou a marca, uma das preferidas de clientes como a primeira-dama Sarah Kubitschek (1909-1996) e Lily Marinho (1921-2011), mulher do fundador da Rede Globo, Roberto Marinho.

A expectativa de arrecadação era modesta, algo em torno de R$ 1 milhão, com a venda de colares, pulseiras, anéis, relógios e pedras preciosas, além de três automóveis velhos. Os bens foram avaliados em R$ 750 mil. O mais caro era um lote de safiras de 2.115 quilates, com preço de R$ 132 mil. Mas o leilão rendeu muito menos: parcos R$ 15 mil. A maior parte das peças não encontrou comprador interessado. O juiz Fernando Cesar Viana, da 7ª Vara Empresarial do Rio, desconfia que o melhor do acervo da joalheria esteja escondido e aguarda o resultado de uma investigação, que corre em segredo de Justiça, para descobrir o paradeiro das preciosidades.

Vale lembrar que, em 2010, somente uma pulseira de ouro e diamantes da Natan que pertenceu a Lily Marinho foi leiloada pela casa norte-americana Sotheby’s por US$ 29 mil. Onde estariam outras peças de valores similares ou maiores? Por que só sobraram cacos de pedras preciosas? “Com a falência, imediatamente mandei lacrar tudo. A gente achava que ia encontrar muito mais joias e gemas, mas só arrecadou isso”, disse, decepcionado, o juiz Viana. “Estava tudo amontoado no escritório de Copacabana, como se fosse um entulho”, contou à DINHEIRO o administrador judicial da massa falida da Natan, Scilio Faver.

“Ficamos chocados com o pouco que foi encontrado.” Segundo Faver, as dívidas trabalhistas e tributárias somam R$ 30 milhões. “É muito triste ver que restaram apenas essas poucas peças para leiloar”, lamentou, com lágrimas nos olhos, o ex-gerente-administrativo da joalheria, Cassio Rios, 53 anos, dos quais 35 trabalhados com o “seu Natan”, como se refere ao ex-patrão. Rios compareceu ao leilão com o advogado trabalhista Wellington Ferreira, que defende 15 ex-funcionários demitidos sem receber indenização. Ferreira foi um dos que arremataram alguns artigos da grife: levou dois cálices e uma estatueta por minguados R$ 400.

O fundador Kimelblat morreu em junho de 2013, um mês após a decretação da falência de sua marca. Era contemporâneo de outros judeus estrangeiros que deram vida e fama ao mercado de joias no Brasil, como Hans Stern (1922-2007), da H. Stern, e Jules Sauer, da Amsterdan Sauer. “A Segunda Guerra Mundial e o amor pelas gemas são fatores comuns entre os três”, diz Julieta Pedrosa, joalheira e professora de história da joalheria e de gemologia básica. Mas, ao contrário de Stern e Sauer, que profissionalizaram a gestão dos negócios, a administração da Natan era muito centralizada nele próprio, segundo Faver.

Uma das filhas de Natan, Miriam Kimelblat, seguiu a carreira do pai e lançou uma grife de joias com seu próprio nome no luxuoso Fashion Mall, em São Conrado, zona nobre do Rio. Procurada pela DINHEIRO, ela não quis dar entrevista. No mês que vem acontecerá o leilão da marca Natan e o juiz Fernando Cesar Viana está otimista. “Minha expectativa é de que apresentem propostas de valor acima de R$ 4 milhões. Aí eu consigo pagar pelo menos os créditos trabalhistas”, afirmou. Na ausência dos anéis, que sejam ressarcidos ao menos os dedos que os produziram.