11/11/2016 - 0:00
O britânico Eric Salama, 54 anos, é um dos mais respeitados analistas de comunicação do planeta, uma espécie de guru das questões ligadas aos setores de educação, indústria criativa e negócios digitais. Não à toa, ele se tornou um dos principais conselheiros do governo do Reino Unido nestas áreas. Mas sua principal missão é liderar a unificação de todas as empresas do grupo Kantar, braço de pesquisas, consultoria e análise de branding da holding de comunicação WPP, debaixo de um único guarda-chuva. Das 12 empresas do grupo, oito possuem atuação no Brasil: Kantar Worldpanel, Kantar IBOPE Media, Kantar Millward Brown, Kantar TNS, Kantar Futures, Kantar Health – Evidencias, Kantar Retail e Kantar Vermeer. Ele falou à coluna sobre como está sendo esse processo, sua percepção sobre o Brasil e como as empresas, de um modo geral, precisam ser ágeis em tempos de redes sociais. “As mídias sociais causaram mudanças radicais. Quando existe um problema para uma empresa, até ela perceber e analisar a questão, 4 milhões de pessoas já sabem dele”, diz Salama. Leia a seguir:
Como está sendo a unificação de marca da Kantar?
Estamos tentando criar um modelo parecido com o da Unilever, por exemplo. Algumas pessoas trabalham para marcas, como a Dove, mas todas são da Unilever.
Além do nome, as empresas serão integradas oficialmente?
Elas continuam com operações independentes, mas integramos as áreas de recursos humanos, tecnologia da informação e financeira. Fica mais fácil para transmitir ideias dentro da organização e para fazer a interligação dos serviços prestados ao mesmo cliente por empresas diferentes. É mais uma mudança de comportamento.
Mas a abordagem ao cliente muda?
Os funcionários poderão se identificar como ligados ao grupo e isso facilita a integração dos serviços das diversas empresas.
Como o senhor vê o momento do Brasil?
Venho constantemente ao País. Percebo que o clima está muito melhor. No ano passado, só se falava da presidente Dilma Rousseff. Assim como na Inglaterra o único assunto atualmente é o Brexit.
Já percebe mudanças concretas?
Ainda não vemos uma grande mudança ou as pessoas gastando mais. O preço baixo ainda define o consumo e as marcas de menor custo continuam se dando melhor. As pessoas estão economizando, guardando para quando o mercado melhorar.
O senhor acredita que a recuperação econômica virá logo?
É bem pouco usual para o Brasil um período tão longo de queda da economia. Por isso, as pessoas sentem mais. Sempre ocorrem choques, de tempos em tempos, mas não que durem um ou dois anos. Os fundamentos para o crescimento do Brasil estão postos.
Como tirar proveito da crise?
Todas as nossas pesquisas dos últimos 30 anos mostram que companhias que investem em marketing em períodos de baixa conseguem crescer mais fortemente depois. Mas, com certeza, isso não é algo fácil de fazer.
Como as empresas precisam se comportar na internet?
As empresas precisam ser mais transparentes e honestas. Não dá mais para dizer uma coisa e depois outra.
Qual é o grande impacto da internet na comunicação?
As mídias sociais causaram mudanças radicais. Quando existe um problema para uma empresa, até ela perceber e analisar a questão, 4 milhões de pessoas já sabem dele. Tudo precisa ser mais rápido. É necessário ter uma reação rápida aos problemas.
Essa velocidade é algo difícil em grandes empresas. Como conseguir isso?
Muitos mercados estão sendo alterados por empresas pequenas. As grandes podem ter áreas atuando como se fossem startups. Os bancos têm feito um bom trabalho. Eles estão criando ofertas com um caráter de startup, mas, com a força de uma grande instituição, e têm a vantagem de atuar em vários mercados o mesmo tempo.
Que setor não está indo nessa direção?
Em empresas de bens de consumo isso não tem acontecido no Brasil. Mas aqui não existe um varejista digital causando estragos como a Amazon.com, em outras partes do mundo. Então, essas empresas não sofrem como as de B2B, que sofrem com concorrentes puramente digitais.
(Nota publicada na edição 993 da revista Dinheiro, com colaboração de: Carlos Eduardo Valim e André Jankavski)