08/11/2016 - 0:00
Política e economia são almas gêmeas. Uma viabiliza a outra. Uma economia consciente, capaz de atender aos novos desafios planetários é fruto de uma política em mesma medida consciente dos grandes desafios que temos diante de nós. Infelizmente, esse não é o prato que temos para hoje.
Trump, Brexit, Temer são expressões de um mesmo fenômeno conservador, que quer proteger recursos, interesses e estilos de vida de parcelas da sociedade em detrimento de um olhar mais abrangente sobre o todo. Em essência, é o interesse próprio acima do bem comum.
Beneficiam-se de frustrações (União Europeia), fracassos retumbantes (governos Dilma e descrédito da classe política) e visões parciais e populistas (candidatura Trump) para ganhar espaço, sempre com a promessa de alívio imediato, visão de curto prazo, na verdade, o pensamento mágico que desde sempre nos seduz.
Em um mundo cada vez mais complexo e totalmente interdependente, como pensar que uma solução unilateral terá sucesso?
No caso brasileiro, mesmo com o fracasso de uma doutrina baseada no Estado Forte, como acreditar que a solução virá pelas mãos invisíveis do mercado em um retorno a uma visão de mundo dos anos 90?
Se essa fosse realmente a solução, não teríamos sequer alcançado a crise atual, afinal, o mercado dita os rumos da economia global há mais de meio século. No entanto, o que vemos é o agravamento de crises sistêmicas econômicas, sociais, ambientais e de governança.
Já escrevi e repito: não é um terrível azar da humanidade que as recorrentes explosões das bolhas de crescimento, o aumento constante da pobreza, o agravamento das mudanças climáticas e o fracasso dos foros globais de negociação aconteçam ao mesmo tempo. Tudo junto e agora.
Trabalhamos diariamente para isso. Fortalecemos fronteiras sociais e geopolíticas diante de problemas globais ou regionais. Colocamos o privado à frente do público, o interesse individual antes do bem comum.
A própria democracia precisa ser renovada para atender aos novos anseios da sociedade. Também não é por acaso que no Reino Unido, nos Estados Unidos e agora no Brasil prevalece o descrédito na força do voto como instrumento de exercício político. O momento histórico pede mais do que simplesmente delegar a terceiros o direito de decidir por nós sobre tudo por quatro ou oito anos. O mundo está dinâmico demais para darmos a quem quer que seja essa procuração de plenos poderes.
Parece claro que a solução ainda está por ser criada. O passado somente serve para nos pautar sobre o que não deve ser feito. Portanto, é preciso abertura para o novo, o contraditório, a escuta empática de todas as partes. É bem verdade que, nesse momento, essa postura soa como uma utopia diante do fundamentalismo político, religioso, social e étnico que tomou conta do Brasil e do mundo.
Essa, no entanto, é a melhor alternativa para termos uma política que viabilize um arranjo econômico mais adequado para superarmos os desafios que nos cercam.