A aquisição da Monsanto pela Bayer por cerca de 65 bilhões de dólares é repleta de simbolismo. Se por um lado trata-se do mais recente capítulo da consolidação dos mercados, marca indiscutível da atual fase do capitalismo, por outro, confirma que, sem boa reputação, não há corporação que perdure.

Nos últimos 20 anos, a norte-americana Monsanto viveu sob ataque dos ambientalistas, especialmente na Europa, por conta do investimento em organismos geneticamente modificados, mais conhecidos como transgênicos. 

A Monsanto sempre apoiou-se no apetite do agronegócio pela busca do aumento da produtividade e na força do debate científico em vez de dialogar com a sociedade diante dos questionados sobre os riscos à saúde humana e à biodiversidade.

Por imperícia ou por caso pensado, preferiu buscar sua licença social para operar em um espaço que não é acessível a todos e que ainda permanece inconclusivo. Em contrapartida, foi alvo de protestos em centenas de cidades e nas redes sociais ao ponto de se tornar a grande vilã do agronegócio.

A reputação precária fez com que a Monsanto fracassasse na sua tentativa de comprar, no ano passado, a suíça Syngenta. A forma como a oferta foi categoricamente rechaçada abriu caminho para que a companhia passasse de caçadora a caça. Afinal, se havia uma marca que poderia ser engolida pelas demais sem deixar saudades, essa era a da Monsanto.

Vale, no entanto, ficar atento para os riscos de contágio sobre a alemã Bayer. Diante da lógica capitalista vigente, o negócio foi um sucesso ao formar um gigante dominador de mercados nos Estados Unidos, Europa e Ásia. Simboliza, assim, mais uma etapa no processo de concentração de riqueza e busca por resultados crescentes nas corporações globais.

Mais do que em qualquer outro momento, o comportamento da Bayer diante do debate sobre transgênicos será observado com redobrada atenção. Há quem defenda que esse debate sobre a biotecnologia seja feito com mais razão e menos emoção. Sem dúvida, a Bayer deverá dar o tom dos próximos rumos dessa prosa.

A companhia atua em negócios complementares como agrícola, saúde animal, saúde do consumidor e farmacêutico, tudo sob o propósito de prover “ciência para uma vida melhor”. Estudo recente a consultoria internacional GlobeScan aponta que o propósito é atualmente o grande impulsionador da confiança dos stakeholders em relação às empresas. No entanto, outros dois requisitos são fundamentais para dar foco e manter a performance: ter uma postura aberta e honesta; e ser inovador.

Esta parece ser a chave da questão: como a Bayer vai promover uma conversa franca e transparente com a sociedade sobre a inovação em biotecnologia em favor de uma vida melhor – e não apenas dos lucros imediatos de seus acionistas. Se conseguir, terá protegido sua reputação e revertido a ameaça de se deixar contagiar pela fracassada postura reativa da Monsanto.