A esmagadora maioria dos produtos que utilizamos segue a mesma lógica linear: são elaborados a partir de matérias-primas retiradas da natureza, que passam por algum processo industrial ou de manufatura e, depois de rapidamente consumidos, retornam ao meio ambiente na forma de resíduos, orgânicos ou inorgânicos.

Para quem não se sensibiliza pelo fato de sabermos que os recursos naturais são finitos ou que não poderemos sobreviver em um planeta coberto de lixo, há um argumento econômico para a insustentabilidade desse modelo: desperdiçamos em resíduos US$ 2,7 trilhões dos US$ 3,2 trilhões empregados em materiais pela indústria global anualmente, ou seja, 84% acaba em aterros ou é incinerado.

Esse dado estarrecedor foi apresentado pela Fundação Ellen MacArthur no Fórum Econômico Mundial no início do ano passado. Trata-se da organização que é a principal referência internacional de conhecimento para a transformação desse ultrapassado, porém, ainda dominante, paradigma de produção.

Como resposta a essa lógica linear, emerge o conceito de Economia Circular. Ele considera que todos os processos produtivos devem ser concebidos levando-se em conta o reaproveitamento da melhor forma possível de seus materiais, componentes e produtos. Elimina-se, assim, o entendimento de que existam resíduos. Em verdade, o que temos são matérias para serem reinseridas no processo produtivo. Em círculos que se alimentam e se completam infinitamente.

“Os resíduos são resultado de erros de design de processos produtivos”, afirmou Andrew Morlet, CEO da Ellen MacArthur Foundation, em agosto, quando se apresentou na conferência internacional Sustainable Brands Rio.

Nesta semana, a Fundação lança sua primeira iniciativa oficial no Brasil, com o apoio da Natura: o capítulo local do programa global CE 100, rede de empresas e organizações interessada em desenvolver conhecimento e evoluir na aplicação da Economia Circular em seus processos produtivos.

O desafio é grande, afinal, apenas com muita inovação tecnológica será possível transformar o parque industrial global, em sua quase totalidade, desenhado a partir do modelo mental de extração-produção-consumo-descarte.

As iniciativas que proliferam atualmente de reciclagem de materiais pós-consumo são louváveis e necessárias, mas apenas buscam mitigar ou conter impactos negativos gerados pela atividade produtiva mal concebida. A grande transformação acontecerá quando os novos processos produtivos já nascerem circulares.

O que se busca é uma atividade econômica que seja restaurativa dos recursos naturais já a partir do desenho de seus processos produtivos. Para tanto, a Fundação Ellen MacArthur trabalha nas frentes de mobilização de empresas, mudanças regulatórias com governos e incentivo ao conhecimento científico.

Em última análise, é fundamental que toda a sociedade entenda que lixo não existe. Tudo pode ser revertido em matéria para alguma nova utilização. Por hora, lixo mesmo é o nosso modelo produtivo.