O Fundo Monetário Internacional está revendo conceitos sobre o Brasil e o maior ponto de inflexão é no sentido de uma retomada da economia interna. A sisuda organização, que costuma emitir análises invariavelmente alarmantes sobre o País, desta feita foi na direção contrária. Disse enxergar sinais de “forte recuperação” nos níveis de confiança e o fim do ciclo de recessão. Chegou a dizer em seu relatório que o Brasil deve superar a Itália em 2017, voltando a se posicionar como a oitava maior economia do planeta. A retomada do crescimento do PIB entrou no radar.

Naturalmente, várias pré-condições são colocadas para a confirmação desse cenário. Entre elas, as principais são as reformas estruturais. Diz o Fundo que está alinhado com as políticas propostas pelo presidente Michel Temer e recomenda a aprovação delas pelo Congresso o quanto antes como maneira de reduzir os entraves ao investimento estrangeiro. Está particularmente preocupado com os gargalos na área de infraestrutura que por anos freou o desenvolvimento do mercado interno. Também há críticas pontuais às barreiras para o comércio e ao sistema tributário, considerado inadequado e ultrapassado.

No cômputo geral, embora as perspectivas traçadas pela instituição sejam mais positivas, prevalece a impressão de que o Brasil, por enquanto, continua mal na foto. Deverá mesmo registrar um recuo de 3,3% na economia neste ano, com inflação na casa de 7,2% até dezembro e altas taxas de desemprego. Como não é surpresa para ninguém aqui, mas agora conta com o reconhecimento também do FMI, a virada de governo provocou, por tabela, uma guinada correta na política monetária e assim, aponta seu relatório, “os pressupostos ficaram consistentes com a convergência gradual da inflação para o centro da meta”.

Em síntese: está ruim, mas vai melhorar. Para um País que até aqui não enxergava qualquer luz no fim do túnel, e não contava sequer com a crença de retomada entre os organismos multilaterais, é uma mudança e tanto. Os ajustes macroeconômicos, como pedra de toque da transformação, dependem fundamentalmente da boa vontade parlamentar. E é aí que mora o perigo. Qualquer atraso no fluxo de votação desejado pelo Governo Federal pode colocar tudo a perder. O FMI não conta com essa possibilidade.

Diz acreditar que logo no ano que vem o PIB brasileiro ficará na casa de US$ 1,95 trilhão ante um resultado de US$ 1,90 trilhão do produto italiano. Em 2014, no seu melhor momento, a economia brasileira chegou a bater o patamar de US$ 2,42 trilhões. Para se ter uma ideia do que isso significa, a Índia deverá ter um PIB de US$ 2,46 trilhões em 2017, pouco acima da antiga faixa conquistada lá atrás pelo Brasil e, mesmo assim, suficiente para se posicionar como sexta maior economia do mundo. Um posto que já poderia ser nosso. De todo modo o fundamental, pelo que entende o Fundo, é que o Brasil retornou ao trilho certo.

(Nota publicada na Edição 988 da Revista Dinheiro)