22/02/2006 - 7:00
Depois de um dia tenso em Brasília, Antônio Palocci convocou seu secretário-executivo, Murilo Portugal, para um diálogo a sós no gabinete do quinto andar do Ministério da Fazenda. ?Você vai sentar nesta minha cadeira?, disse Palocci. Portugal fez algumas objeções, mas, disciplinado, não recusou o convite. Essa conversa aconteceu em junho do ano passado, dias antes da queda do ministro José Dirceu. No auge da crise política, Palocci vislumbrou a possibilidade de assumir a Casa Civil, deixando na Fazenda um de seus homens. O plano fracassou, mas Palocci agora tem uma segunda chance de concentrar em suas mãos o poder econômico e político do governo. Na noite da segunda-feira 13 em Brasília, quando o PT comemorou seus 26 anos, ministros e técnicos de vários escalões do governo davam como certa a saída do ministro da Fazenda ? Portugal, mais uma vez, é o nome mais forte na bolsa de apostas. Longe dos holofotes, Palocci passaria a coordenar a campanha de reeleição do presidente Lula. ?É o caminho natural?, confirmou à DINHEIRO um ministro que é hoje um dos principais interlocutores do presidente Lula.
Palocci, que oficialmente nega estar de saída, tem hoje total segurança para deixar o Ministério da Fazenda. Em primeiro lugar, porque voltou a ser capaz de indicar seu sucessor. No fim do ano passado, quando a crise política coincidiu com a divulgação de números medíocres na economia, Lula cogitava nomear o senador Aloizio Mercadante para a Fazenda ? além do sinal de ruptura com o modelo econômico, Mercadante dificilmente largaria a cadeira num segundo mandato petista. Esse risco, porém, já não existe mais. Com Portugal, Palocci poderia se dedicar à campanha eleitoral e, em caso de vitória, retomaria o comando da Fazenda em 2007. Seria apenas uma licença temporária do cargo. ?Essa mudança sinaliza que não haverá grandes iniciativas na área econômica neste ano?, avalia o economista Francisco Lopes, ex-presidente do Banco Central e amigo de Portugal. ?O Murilo, se vier a tomar posse, cuidará apenas de gerir o caixa e de garantir o superávit primário. Nada mais que isso?.
Coordenar a campanha de Lula é também uma oportunidade para enquadrar de vez o PT. Desde a queda de José Dirceu, criou-se um vácuo de poder no partido. Tarso Genro foi um comandante interino e Ricardo Berzoini não pode ser considerado um presidente forte. À frente do PT, Palocci influiria em todas campanhas e alianças, tanto na esfera federal como nos estados. Seria dele a decisão final de financiar candidatos amigos ? ou de estrangular inimigos. Era daí que emanava o poder de José Dirceu. Com tanta força, Palocci garantiria também um segundo governo de continuidade, com mais do mesmo na área econômica. O Ministério da Fazenda continuaria focado na redução da relação entre a dívida interna e o PIB. Eventuais novidades seriam apenas pontuais, como a ampliação da desvinculação das receitas da União. Palocci está convencido de que, com essa política, o Brasil cresce pelo menos 4,5% ao ano entre 2006 e 2010 ? e parece ter convencido Lula disso. Nesse cenário, ele poderá se credenciar para suceder Lula em 2010. Parece muito para quem também esteve nas cordas? Palocci provou que tem sete vidas, mas o fato é que seu novo projeto é idêntico ao que era acalentado por José Dirceu.